Maria – Que horas são no mundo, amor?
Miguel – São horas de viver… ou de rebentar com o mundo!
Maria – O nosso mundo?!
Miguel – Sim, o nosso mundo, que é uma amálgama de carne, vento poluído e sonhos que quebram, antes de ir ao forno de cozer faiança.
Maria - E nós?!
Miguel – Nós? Só nos salvaremos se, entretanto, ficarmos suspensos em cordas de utopia.
Maria – Ama-me.
Miguel – Até onde for possível.
Maria - Até ao infinito, se o arco-íris deixar?
Miguel – Sim amor, pousa em mim.
Maria – Vais respirar? Ou fingir que não me sentes? Para depois, num impulso, me abraçares e me levares até à eterna caminhada lunar?
Miguel – Anda.
Maria – Vou chamar a aragem para me levar. Esperas por mim?
Miguel – Claro que espero.
Alice Caetano
in «Maçã de Zinco» - Editora Esfera do Caos