13 março 2005

Prioridades

Foto: Konrad Gös

"Claro que temos de rever as prioridades..."
Calou-se, estremeceu, olhou em frente, entrou nos olhos dela.
Ela sorriu.

As conversas, o barulho das vozes e dos talheres pairavam acima da toalha branca, comprida.
A toalha ocultava o pé descalço que lhe tocava o joelho, lhe exigia a atenção, lhe dizia:
- Estou aqui.

Ela acariciou-lhe o joelho com as pontas dos dedos do pé.
Deslizou para o interior da perna em movimentos curvos, sinuosos, que subiam e os isolavam do jantar, das conversas dos outros, do lugar.

Chegou à base do sexo.
Parou.
Tocou mais forte perguntando:
- Continuo?

Ele moveu-se na cadeira. Sentou-se na berma.
Com os olhos, com o corpo disse:
- Sim.

Dick Hard no «Nacional» de Surf

Só começámos agora a acompanhar as aventuras do Dick Hard e já parece tão familiar.
Desta vez vamos conhecer a Clarimunda:

Era uma namorada do mais improvável, uma «chavala» pescada na lota de Cascais. O pai era pescador e a miúda deu em surfista e puta amadora. Quer dizer, para além de foder o dinheiro que o pai ganhava com o sal do mar e o suor do corpo, fodia com todos os pescadores que pudesse. Era um bocado chato para o pai, que saía para o mar nas chatas em vias de extinção e apanhava conversas cruzadas entre a rapaziada:
- A filha do Peres é que tem boa boca...
- Isso não é garganta tua?
- Pelo contrário. É garganta dela.

A vida do Dick Hard é como tantas outras:
Dick metia-se muitas vezes no Lotus Europa rosa-choque, a cair aos bocados, e ala até Cascais. Uns "shots" com a Clarimunda no John Bull, um peixinho nos restaurantes aprazíveis da cidade, uma punheta bem tirada num canto escuro, uns meles, uns beijos ou até uma pinocada clássica em casa da miúda, com o pai no mar atrás dos sargos. As sardas em terra atrás da miúda, a miúda atrás das sardas e o pai em pleno mar, armado em pargo, aos sargos. Dick por baixo, Clarimunda por cima. Ah! pois, a vida não está para grandes aventuras. Dick deixava a miúda cavalgá-lo segundo as regras do manual da instrução primária e punha-se a olhar para o tecto e a pensar: "Já dei muito o cabedal. Ela que trabalhe. Logo à noite vou comer uma feijoada à transmontana à tasca do Nicolau".
Crica aqui para surfares com o Dick, a Clarimunda e a amiga colombiana Maria del Mercedes... na história completa.

Serviço Público à CUltura


Domingos Monteiro d’Albuquerque e Amaral, transmontano nascido em 1744, parceiro das tertúlias de Filinto Elísio, foi um dos muitos poetas brilhantemente caídos no esquecimento da voragem dos dias...

Danadinho para a sátira e para a poesia burlesca, dele nos chegaram pouquíssimas obras, uma das quais irei divulgar aqui, conforme recente edição da Editora Apenas Livros (apenaslivros@oninetspeed.pt), com pedido de desculpas pela publicidade, mas o seu a seu dono.

Senhoras e Senhores, atentem no tom heróico das oitavas de “A Peidologia” e leiam bem alto, onde quer que se encontrem e verão como o vosso domingo ficará diferente:

A
É o Peido o ABC de uma cagada,
Porque todas por Peido principiam;
É Autómato de ouvir que fica em nada,
Arsénico de dores que roíam,
Arenga que o cu traz sempre estudada,
Aroma que os partos não desviam;
É aula que se cursa, e é Aurora
Que quando ri no cu, na fralda chora.

B
É Borrasca do sesso quando é forte,
Bacharel que palra sem ter arte,
Baixão que tange o cu de toda a sorte,
Bando que o rabo deita quando parte;
É Bombarda que fere e não traz morte,
Bomba que estoura sem se ver a parte,
Barbeiro que ensaboa com bafio,
Brejeiro que dá senha de assobio.

C
É Casquilho que traz consigo o cheiro,
Camaleão que vive só de vento,
Chamariz para pulhas de arrieiro,
Calo que pregam a nariz nojento;
É Criança que mama no berreiro,
Carapeta de velho flatulento,
Capitão posto em frente da cagada
E Censura em senhora delicada...

... e por aí fora, até à letra Z. Quem quiser mais, pode sempre encomendar o livro à editora.

12 março 2005

Bate... o Record no Fim de Semana


Jogo
: bem fecundo...

Índios

Queres mesmo saber como era com quem te antecedeu, Frederico?... O tamanho da pila ou se era melhor do que tu na cama?...

Sabes, Frederico, nós tínhamos arrendado umas minúsculas águas-furtadas, num bairro antigo, para desespero da vizinha da frente que continuamente nos presenciava escarrapachados, com as cabeças sempre enfronhadas no meio das pernas do outro, por nem sequer termos tempo de nos lembrar de fechar a janela.

Não contentes com isso, forrámos o espaço a espelhos de metro e meio, de forma a conseguirmos uma visão em profundidade dos nossos exercícios na barra fixa. Aplicávamo-nos mesmo no estudo e como diz alguém, era muito trabalho, muito trabalho, que só a banheira e muita espuma sossegavam.

Até que um dia, Frederico, cada um de nós fez um golpe no polegar esquerdo e unimo-los, numa tradição índia. Pena foi que depois nos atormentasse o incesto.

Já não se pode andar descansado de bicicleta...

"Tinham estado a fazer amor no carro. Depois, ela saíu e foi à mata verter.
Depois, já no carro, vestiu-se. Calças de ganga, uma camisa branca, mas não encontrava o soutien.
Arrancaram para a cidade. Passado algum tempo ela diz 'Olha!' avançando para a frente e colocando a mão na parte de trás da blusa.

- O soutien está aqui! - e riu-se.
- Põe-no!
- Estás parvo?! E os outros?
- Olha, é cedo, vão para a praia e se virem as tuas mamas ganham o dia!
Ela assim fez, e tirando a camisa pegou no soutien e... ele, apercebendo-se de um ciclista agricultor, na casa dos 60, vestido de preto e com boné, reduziu repentinamente ficando lado a lado. As janelas, essas, iam abertas por causa do bafo no carro!
O agricultor ciclista, atónito, olhou para eles, enquanto o condutor dizia:

- Isso é que vai ser pedalar atrás de nós!
És louco! - exclamou ela, rindo-se.
O agricultor ficou para trás a berrar e a ziguezaguear na bicicleta.

A última coisa que ouviram foi:
- Filho da... !"

João Mãos de Tesoura

Banalidades

foto: M_Perseval

Deito a cabeça no teu peito
Enrolada nos teus braços
E desfio com os dedos na tua pele
As banalidades que fizeram o meu dia
E tudo se torna importante
Porque nada é banal
Quando dito na tua pele
Desfiado no teu peito
Enrolada nos teus braços

Encandescente

Respode o OnanistÉlico:

E eu no peito teu me deleito
num abraçando - enrolo-me enquanto com
os dedos
desafio -
os dias inscritos na tua pele;
Banal calendário este que me importa...

11 março 2005

doll.JPG

Chegou ao pé de mim com cara de caso. Cara de caso numa mulher pode querer dizer muitas coisas, mas ela era pouco mais do que uma miúda. Tinha dezassete anos e pouco sabia dessas coisas de ser mulher. Foder era fazer amor. E fazer amor era o que lia nos livros. E aquele homem era ainda o príncipe encantado. Ou tinha sido, até àquele dia.
Ele pediu-lhe que vestisse uma saia. Aquela comprida, de gaze, amarela. O plano estava traçado, ele tirar-lhe-ia os três naquela manhã. Mas ela não sabia. Pensava que iam fazer amor e estavam em março.
Vestiu a saia amarela.
Subiram para o seu quarto. Estavam sozinhos em casa, os pais tinham saído para trabalhar. Ela faltou à escola.
Não pôde contar-me como tinha sido fazer amor pela primeira vez. Porque não o tinha feito. Tinha-se deitado, ele levantou-lhe a saia até à cintura e fodeu-a.
Ela não lhe viu o corpo nu. Ele não viu o seu, de rapariga virgem.
Não pôde contar-me como tinha sido fazer amor pela primeira vez e não soube dizer-me como era o caralho do homem que em cima dela, sem jeito, sem atenção, cheio de tusa e ânsia juvenis, se veio nela sem ela perceber nada.
Passariam alguns anos até saber o que era isso de ter um orgasmo.
Quando o descobriu, pôde finalmente enterrar a má memória.

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"O homem sonha... e a obra nasce..."
(adaptado a um cachorrito pela Gotinha)