Há dias em que uma mulher precisa mesmo de fechar os olhos e fingir que é noite. Daquelas noites frias em que os pés precisam de aconchego, não havendo botija que chegue para elevar a temperatura porque esse calorzinho artificial começa por ser forte mas rapidamente se perde, sem fonte que o sustente.
Vêm-me sempre à ideia os pés do Emanuel. Não é que me fiquem recordações dos pés dos meus companheiros de cama, que os terminais são coisas de importância, sim, mas não é preciso descer tão baixo.
Naquele caso não fui eu que desci. Aconteceu por acaso, embora a intenção me estivesse fisgada nos olhos, pelo menos para confirmar aquele “diz-se que”.
Uma relação proporcional ao tamanho dos pés, dizia o Emanuel ao grupo de mulheres que gostavam de o ouvir dizer larachas, ali à mesa do café, nos intervalos do trabalhito. Sempre o mesmo, este Emanuel, rodeado de mulherio e de chocalho na boca a fingir que impressionava.
Coitado… teve o azar de trazer o assunto à conversa e depois ficou sem saber como dizer que não quando o convidei para uma confirmação empírica. O outro também dizia ser o nariz mais usado para essas analogias, mas tinha um narizito pequeno e bem feito. Estava tão à vista a evidência que a cobiça não se impôs.
Bem, a verdade é que assim que o Emanuel se pôs a jeito o meu olhar subiu, a partir dos pés, devagarinho, ante a perspectiva fantástica de uma noite a fazer-se dia, já com a promessa, pensava eu, de um Inverno aconchegado. Um ou mais, que vale a pena reter a presa se a carne é saborosa.
Resultados?Apenas a confirmação de uma matemática pouco desenvolvida naquela cabeça oca.
Por que será que os homens que mais falam são os menos interessantes?