28 outubro 2010

Arraçada de gajo

Há inúmeros factos que ilustrariam este título.
Em termos de personalidade, creio ser bastante mais masculina do que feminina, pelo menos na acepção que socialmente se dá aos conceitos, independentemente do género. E, normalmente, tudo bem, estou habituada ao contraste entre o aspecto (que, embora sem curvas alucinantes, não engana) e o feitiozinho. O que me lixa, o que me põe pior do que peste, é esta minha "masculinidade" ser tão evidente aquando da manifestação de qualquer doença. Se, por um lado, e fazendo jus à mulher que sou, não evidencio qualquer sinal de hipocondria, por outro, basta que tenha meio grau de febre, como agora, para ficar prostrada, agoniada, dorida, fabricante de ranho, com uma cara que mete medo e um humor que ninguém inveja.
Para ser gajo, mesmo gajo, só me falta ligar para meio mundo e esperar que alguém me venha trazer canja e ter muita pena de mim. Felizmente, é nesse momento (que antecede a pura humilhação) que a mulher que há em mim se sobrepõe.

Que pedazo de tetas


Rotulador sobre papel y photoshop
Inédito
Clic sobre las imágenes para ampliar

Un saludo a los amigos y amigas de a fundasao

Os boneCus do Nelo

Entregue

27 outubro 2010

«Teddy Bear Dicknic»

As coisas que o Fin descobre...

Da evaporação gozosa

Fernando Savater, filósofo espanhol, escrevendo acerca da coragem de escolher, diz-nos a certo momento «que o prazer não é um meio instrumental para conseguir nada, nem sequer um fim em si mesmo, mas a evaporação gozosa da distinção entre fins e meios, sem antes nem depois» (Savater, 2003, p.104). É um interessante ponto de partida, e uma das frases que mais me segura a atenção à medida que passo as linhas. Também me parece assaz interessante uma outra ideia, a de que «o momento do gozo é antitemporal, porque imuniza peremptoriamente contra as recompensas ou castigos do porvir enquanto nos identifica com o que sempre foi, com algo pretérito que se actualiza impecavelmente» (op.cit., p105).

***
Sentou-se no banco ao lado do condutor para mudar de roupa. Não tinha vindo já preparada para a praia, e precisava despir o seu corpo das roupas citadinas, da melhor nata da moda, para vestir um bikini algo reduzido. Ele esperava lá fora, evitando olhar para dentro da viatura, num exercício de pudor e respeito por ela. Imaginava, nos seus segredos, o momento em que o banco daquele carro era tocado pelo mais íntimo pedaço de pele dela. E isso excitava-o. Mas não só a ele. Mesmo para ela, aquele gesto era algo mais do que um aspecto prático, era uma pequena transgressão, o receio de ser apanhada desnudada, a distenção daqueles pequenos segundos em que efectivamente estaria despida num tempo que, para os seus sentidos e percepção do tempo, seriam longos minutos. Os longos minutos dela que contrastavam com os curtos dele, para quem aquele momento era demasiado curto. Sem oferecer um vislumbre, sem poder tocar, sem a poder sentir na ponta dos seus dedos.

***
Por muito interessante que considere a afirmação de Savater, e asseguro-vos que a acho deveras interessante, apenas me parece possível concordar parcialmente: com a evaporação gozosa da distinção entre fins e meios. E discordar do nem antes nem depois. Há um antes do prazer e um depois do prazer, ainda que o momento do prazer nos retire a noção disso.

***
Quando o puxou para perto de si, a erecção dele tocava despudorada a genitália dela, com ténues fronteiras de tecido a marcar uma linha que não se ultrapassaria. Mordia ela os lábios, semi-cerrava os olhos, parecia querer senti-lo dentro dela, e as pernas fechavam-se atrás das costas, os pés trancavam o corpo dele contra o dela. O mundo encolhia e formava-se uma bolha que os isolava de tudo o mais. E depois, depois quando partiram, sentados lado a lado, perguntou-se o que faria aquela mão. Disse que se fosse noutro momento, noutra altura, teria pegado na mão dele. E pegou. Pegou e colocou-a entre as pernas dela. Era um calor húmido, aquele que ali se sentia. O mundo acabava ali. Não havia antes nem depois. Havia aquele magnífico par de coxas que abraçava a mão dele contra uma vulva convidativa. E a mão dela, que fechava o universo, que forçava o contacto. Que dizia que eu quero prazer e tu vais dar-mo. E por mais que se apertassem as moléculas não se fundiam. Agarravam-se o mais que podiam, querendo fundir corpos sem realmente os fundir. Sempre com as ténues fronteiras de tecido a marcar linhas ondulantes ao vento. Mordia ela os lábios e ele mordia o que podia. Ombros, orelhas, dedos.

***
O antes do prazer é um antes de crescendo. Do desejo porventura desmedido, inconsciente, motivador de todas as coisas. Desejo último que arranca forças ao mais esbatido. O depois do prazer é um delta de um grande rio. Dá para qualquer lado num conjunto de fios de água. Navega-se pelo delta de acordo com o talento. Navega-se à vista. Pode ser um depois sereno, que respeita o durante e tudo deixa em paz, ou revolto, nos salpicos de uma luta.

Referência bibliográfica: Savater, F. (2003) – A coragem de escolher, Ed. D. Quixote, Lisboa

no Parlamento, exemplarmente...

Consta que um casal de aventurosos cidadãos escolheu, há dias, as bancadas do Parlamento para, pelas sete horas da manhã, colocar a matéria em dia… Abençoados!
A devida vénia ao Daniel Oliveira, claro, cuja prosa a propósito, de tão sugestiva, não pôde deixar de me inspirar!


num diz-que-disse brejeiro
chega notícia de evento:
um casalinho faceiro
foi dar queca ao parlamento

ah benditos tais confrades
neste gozo em contraciclo
juntando duas vontades
coisa rara no hemiciclo

e bem cedo iniciaram
seus trabalhos estes dois
às sete horas começaram
a chamar o nome aos bois

da esquerda até à direita
travaram-se de razões
que sempre tudo se ajeita
concertando posições

e por certo descobrindo
mais virtudes na função
acima – abaixo – investindo
no futuro da Nação

ritmado o desempenho
em paridade e à vez
- vens-te tu que eu já me venho… –
e coligados talvez

mas foram interrompidos
decerto por vil inveja
que naquela sala unidos
não é coisa que se veja…

doce nos foi a vingança
p’la doce fornicação
por só tanto em tal parança
se fornicar o povão

e cai-nos bem ser diverso
naquela casa algum acto
que foi talvez controverso
mas de espectro bem mais lato.

OrCa

____________________________________________
O Bartolomeu complementa:

"Se ainda houver moral
Neste país trapaceiro
A que chamam Portugal
Onde se fode o parceiro
E tudo vem no jornal
Com o título de «porreiro»

Não se pode condenar
O acto d'aquele casal
Que decidiu fornicar
Onde uma chusma de cabrões
Fodem todo o maralhal
E nos seguram pelos colhões

Deviam ser medalhados
Pela coerência do acto
Se houvesse alguma justiça
Os deputados enrabados
Não com a piça
Mas com um cacto"

Poemas mudos, nós cegos

Desci.
No silêncio de todos os poemas
entristeci.
Chega a madrugada e todas as camas
desfeitas; eu teci
novos lençóis mas não tinha linhas nem rimas
chegaste e eu emudeci.
Deixa-me explicar, não vás, tu dizes que me amas
mas não sabes que ensurdeci;
escuta-me, tu dizes que gritas, que ainda me chamas
mas faz tempo que, sozinha, anoiteci
porque, meu amor, no silêncio de todos os poemas
nua, entristeci
e, sim, eu procurei-te por todas essas camas
não te vi; depois teci
novos lençóis e nem linhas, nem rimas
chegaram sem ti, emudeci.
Lábios frios dizem que ainda amas
ensurdeci.

Senhora

Se de um filme se tratasse, seria um épico... Se fosse uma música, intemporal... Se fosse uma coisa seria perfeita... ou quase, eventualmente perpetuando, possa brilhar...

Senhora. Não será uma menina, mas quem um dia já o foi e cercou a doçura e a segurança... o equilíbrio inebriante. E a dose certa de loucura. A sombra une-se e o fantasma dita as regras sobre dois corpos enamorados à Lua, com as suas almas sobrevoando o espaço. Não é amor. Mas é paixão. É a paixão que em uníssono uivou naquela noite que iniciou a jornada com timidez para terminar em apogeu.

Senhora. De si, do tempo e do espaço. Impérvia criatura de fundo, de coração inabordável e sentidos escolhidos, por si, para si, e para apenas os poucos lobos que saibam à Lua uivar. Que saibam a cor do vento, a cor do brilho da sombra unida.

Senhora cujos compromissos outrora fixados, assumem a forma de cinzento porque a cor confinou no exíguo espaço entre os dois corpos enroscados.

Senhora. De experiência assinalada nas linhas das mãos, delineada no rosto ora singelo, ora absoluto.

Senhora de chave em punho, que desaperta armaduras no colo da noite sentido os pêlos deixando espaço à viagem do fundo.

Senhora que vê sem olhos, sente sem mãos, ouve sem ouvidos e ritma a dança ao som da paixão.

Placa motivacional de hoje


Transformers também têm esse direito.

Capinaremos.com


O Bartolomeu diz algo bem entesante (sim, sim, eu disse interessante):

"Todos nós somos, ou fomos, em algum ponto da nossa existência, robôts!
Na parte que me diz respeito, posso confessar que mantenho uma relação muito estreita com o meu próprio brinquedo. Posso acrescentar até, que a minha direita, já lhe proporcionou alguns melhores momentos, que certas conas, com uma mulher à volta.
Colocando de parte aquilo que à minha esfera íntima diz respeito, declaro profícua a relação, mão-pénis, ou vice-versa. A mão pode perfeitamente substituir ou completar uma cona, um cu, uma boca, umas mamas, uns pés, uns ouvidos ou, até, outras mãos.


E se lhe chamam punheta
Num chamar atravessado
Podem-lhe chamar corneta
Ou um fado assobiado

Se lhe chamam masturbação
Num chamar bem erudito
Chamem-lhe satisfação
Ou um momento bendito"


Mas o Fin alerta e bem: "Falais da mão como se ela fizesse tudo, ora quem realmente o faz é a cabeça. A mão, o pé, um sovaco, um molho de urtigas de pôr a piça em chamas, tudo isso é irrelevante se a cabeça não estiver, também, a foder."

26 outubro 2010

Mijar nos sapatos


A Laura desafiou aqui o Bartolomeu: "Se ainda dá p'ra mijar, fico então mais descansada. Terás é que ter cuidado p'ra não mijares nos sapatos!"
O Bartolomeu tirou-a p'ra fora:

"Pr'ós sapatos não mijo, não
Que são de fina pelica
Até nem mijo pró chão
Se mijar cheio de pica

Mijo longe e à distância
Mijo alto e em quantidade
Mijo sempre com elegância
Apesar da minha idade

Mijo até com fragor
quando mijo da varanda
Mijo antes de fazer amor
Mijo sempre qu'ela me manda

Só não mijo mais porque, enfim
Pode-se-me gastar a gaita
Mas se me cheira a snaita...
Mijo... mijo... sem ter fim"


Ainda isto não foi publicado e já o OrCa revelou a sua incontinência:

"mijar como ele mijou, perdidamente
mijar por toda a parte, aqui e além,
mijar como obra de arte em toda a gente
mijar em pai, amigo e até na mãe

e enfim ficar-se de mijado descontente
por se não mijar então como convém
de cócoras, de pé, deitado, incontinente
e mijo assim por fim molhar ninguém

ó rudeza crua, ó má vileza
ó impotência dura e vão sofrer
de se não mijar à séria na incerteza
de se não mijar mais quando se quer

mas mijemos, então, à portuguesa
mijando a dois e a três... quem mais vier!"

São Rosas: "Em 7 anos, ainda ninguém se tinha lembrado de fazer aqui uma «análise à urina». Só espero conão se lembrem de fazer merda..."

Bartolomeu:
"Ah... a merda
Essa massa informe
Que do cu nos sai, após ser quimo
E da qual não me redimo
Porque não redimo a fome
Numa sequência insane, que se herda!

Ah... a merda
Essa pérfida agonia
Que do cu se espreme, em extremo esforço
A qual, para expelir, todo me torço
Madrasta que o corpo corrompia
Se não fosse sujeitada a grande perda

Ah... a merda
A que faço e de que me esqueço
A que outros fazem e me atormenta
A que de alguns é ferramenta
A que de outros é o berço
A merda... a sempre eterna merda!"

São Rosas: "Pronto... tinha que sair merda..."

O OrCa caga nisso:
"tudo o que de nós sai é escorreito
e é mister que saia - bem sabemos
fluido, fabuloso, rarefeito
mas que nos dê o prazer que apetecemos

mictórico, sudorípero, ejaculante
ranhoso, purulento, cagativo
que afronte o mundo triunfante
mas que dê de nós um ar basto assertivo

e, assim, mijando, venceremos
quando não gritando num orgasmo
ou cagando - que é por isso que comemos
que a ninguém tal felicidade cause pasmo!"

As perguntas cansam-me, baralham-me. Porquê? Porque é que o fizeste? Porque é que não me disseste que eu já não te bastava? Como? Como foi que conseguiste mentir-me? Como foi que me beijaste e fodeste, como foi que me sorriste enquanto me traías? Quando? Quando foi a primeira vez? Quando foi que achaste que não fazia mal, ou que eu merecia a traição, ou que nós não merecíamos a integridade? Quando foi que decidiste sozinho quebrar o acordo que em conjunto tínhamos firmado?
Estas perguntas, tantas, sempre as mesmas, atravessam-se à minha frente quando menos as espero. Quando o teu telefone te chama, quando os teus olhos me evitam ou se perdem longe, quando te procuro e não estás. Assaltam-me até quando me pões a mão dentro das tuas calças e duvido da musa da tua tesão.
É por isso. É por isso que o meu corpo já não é só teu. É por isso que seduzo e me deixo seduzir sem remorsos, com prazer até, este prazer de laranja amarga que me impele a limpar de mim a tua presença, a cada dia, porque a cada dia a tua presença me deixa vergastadas nas costas.

Medeia - [Infidelidades]