A Lídia vive sozinha.
Era quase meia-noite quando chegou a casa, no meio de uma tempestade de chuva e vento. Veio de boleia no carro da sua colega Beatriz a quem convidou a entrar para tomarem uma bebida quente. Há muito que a Lídia esperava a ocasião propícia, que parecesse casual, para a levar até sua casa. Agora que a Beatriz andava zangada com o seu namorado, esta era a altura ideal que não podia desperdiçar.
Não conseguia desviar o olhar guloso do corpo sensual da Beatriz, ali na intimidade do seu lar.
Precisava de lhe tocar, de explorar todos os recantos do seu corpo debaixo das roupas que ainda o cobriam. Precisava de encontrar nos seus olhos algo mais que não fosse pudor. Aproximou-se, desapertou-lhe dois botões da blusa, roçou-lhe os lábios em volta dos olhos, passou-os pelo seu rosto e contornou com eles a boca bem desenhada da Beatriz. Sentia que o intenso desejo que a consumia era a pouco e pouco partilhado também por ela. Despiram-se... Não sentiam já vergonha, apenas a ânsia de encostarem os corpos nus, de se acariciarem.
A espera tornava-se agonizante. A Lídia não resistiu mais tempo, tomou a iniciativa, encheu as mãos com os seios da Beatriz, beijou-a sofregamente e arrastou-a para a cama. A Beatriz quase não se mexia, mas os seus suspiros, a sua respiração ofegante revelavam o prazer que lhe retesava o corpo. Abandonou-se às carícias da Lidia. Meteu-lhe os dedos entre os cabelos e agarrou-lhe a cabeça que conduziu pelo seu peito, pelo ventre, pelas coxas. Electrizada, sentiu a língua experiente da Lídia a explorá-la, a penetrá-la.
Quase no auge do prazer a Beatriz queria ir até ao fim. Pedia-lhe mais e mais...
Pedia-lhe aquilo que a Lídia, afinal, não lhe podia dar...
Rui Felício
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