Eis-me de volta, de volta à noite. Os meus passos encaminham-se todas as noites para os meus recantos de silêncios. Com os olhos pesadamente mortiços, olho para ti que, na frescura do ocaso, procura ainda desenhar com o corpo movimentos que já não podes desenhar ao som de um violão também ele gasto pelo tempo.
Alvéolos de fumo, esses sim, desenham parábolas de prazeres nunca conseguidos.
Dedos, mãos, tocam-se como se o tocar bastasse, como se isso fosse o suficiente para que o desejo se afogasse entre copos de cristal. Olho para ti com um misto de ternura e ao mesmo tempo de pena. Desejei-te tanto e nada consegui. Entregaste o teu corpo ao vício e dele nada mais resta senão amostras da juventude que acabou.
Voltei para a boémia mas mais valia não ter voltado. Sinto-me um estranho entre conhecidos, um estranho na noite, um estranho em tudo que te rodeia.
O boémio voltou mas não voltou o corpo, esse deambula nos fantasmas dos sonhos e da fantasia, onde ainda te vê envolta na bruma do tempo em que o teu corpo se esquivava a cada assédio meu.
Agora é tarde, não te suplicarei o corpo mas sim a alma, essa ficará imutável em todo o meu ser. Volta para o “plateau”, tenta aquecer a noite dos olhos daqueles que te rodeiam e esquece que um dia existi.
O boémio voltou, não volta a chorar por ti, ali… no «Rex Bar»!
Mário Lima
Blog O sonhador