Esta noite acordei com um pesadelo tenebroso. O José Luís Peixoto estava a editar os meus textos. Garanto-vos que acordei com urticária psicossomática e uma camada de nervos tão grande que a insónia se prolongou manhã adentro. Para me entreter durante a insónia, comecei a pensar que se o Bocage e o José Luís Peixoto fossem um só, haviam de ter escrito textículos de profunda sensibilidade que se tornariam numa epopeia de exaltação nacional envolta numa carapaça estilística mais dura que o meu bacamarte. E se o Bocage e o José Luís Peixoto fossem um só, teriam escrito coisinhas lindas assim:
Havemos de fornicar juntos.
Normalmente, toda a gente está demasiado preocupada em colocar a sua barra na "cliente seguinte", estão ansiosos, nervosos, têm medo que aquele que está à frente lhes leve os pares de mamas, têm medo de encontrar um vestígio daquele que foi primeiro. Enquanto não lhes arrancam as cuecas e espetam a sua estaca, não descansam. Depois, não descansam também, inventam outras maneiras de distrair-se com quem pode vir a seguir a eles. É por isso que poucos chegam a aperceber-se de que a verdadeira imagem do amor acontece num momento muito delicado, naqueles segundos em que um está a pôr a lentrisca em riste para fora e o outro se está a preparar para alojá-la na senisga.
As canções e os poemas ignoram isto. Elevam campos, abraços, o pôr do sol, falésias, jardins, estrelas no céu, a magia de ver os aviões, trastes de guitarras, mas esse momento específico, com ela de cuecas no meio das pernas a tremelicar, tal a sofreguidão de o meter, que antecede o momento de arrombar pela primeira vez a pachacha de uma mulher é ignorado ostensivamente por todos os cantores e poetas românticos do mundo. Bem sei que há a crueza das palmadas que se seguem, há o barulho infernal de quem está a levar uma bem dada, gemidos histéricos, ai-ai-ai Patife, que me arrebentas as bordas da chona, há o barulho dos meus taurinos tomates a embater nas nádegas, arranhões e apertos, todo um manancial de ordinarice que passa pela cabeça e que apetece fazer a seguir, a noção de que depois seremos dois estranhos que não voltarão a tocar-se. Mas tudo isso, à volta, num plano secundário, só deveria servir para elevar mais ainda a grandeza daquele momento.
É muito fácil confundir o banal com o precioso quando surgem simultâneos e quase sobrepostos. Essa é uma das mil razões que confirma a necessidade da experiência. Foder é muito diferente de ver foder. Pelos olhos passam-nos as fodas que escolhemos uma a uma e os instantes futuros que tememos que se sucedessem com essa escolha: quando a seguir ela estiver a tentar ligar sofregamente vezes sem conta, a perguntar por que não saímos novamente, a querer saber qual foi o problema-parecia-estar-tudo-bem, é que pinámos uma vez e agora parece que temos logo de tomar o pequeno-almoço, pôr roupa suja na máquina, lavar os dentes juntos, refletidos pelo mesmo espelho, em vez de estarem com a boca cheia da minha generosa meita, a comunicar por palavras de sílabas imperfeitas, como se tivessem ficado com uma deficiência na fala depois de ter o meu Pacheco na boca.
As canções e os poemas ignoram tanto acerca de pinar. Como se explica, por exemplo, que não falem da quantidade de quecas que devemos dar? Não há explicação. Amor também é pinar por aí afora, sem freios nem espartilhos sociais, é brincar com a arbitrariedade e aprender com as pinadas menos boas. Talvez seja uma queca épica, talvez seja uma desgraça, não importa. Mamas são mamas e não haverá televisão alguma que me distraia daquilo. Se me virarem o rabo também serve.
Havemos de fornicar juntos, esse era o nosso sonho. E quando era assim estava tudo bem. Há alguns anos, depois de perder um sonho assim, precisamente porque fornicámos, pensaria que me restava continuar a fornicar por aí. Agora, neste tempo, acredito que me resta fornicar ainda mais.
Patife
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