18 março 2019

«pensamentos catatónicos (349)» - bagaço amarelo


O rapaz caiu no meio da estrada. Estatelou-se no alcatrão ao mesmo tempo que gritou. Não percebi porquê. À partida não havia nada que o pudesse fazer cair, mas quando olhei já ele estava no chão, já a mãe corria na sua direcção deixando um saco de compras pelo caminho, já um carro travava a fundo para não o atropelar.
Foram dois segundos em que nada mais interessou para aquela gente. Só a vida.
Eu fechei os olhos para não ver, mas ainda vi mais. O carro não conseguiu parar a tempo e passou por cima do jovem do corpo do rapaz, que passou a ser cadáver. A mãe ajoelhou-se e abraçou a morte em silêncio. O condutor deixou-se estar com as mãos no volante e o olhar no infinito, em estado de choque.
Depois abri os olhos e nada disso tinha acontecido. O rapaz levantava-se devagar e sacudia a roupa com as próprias mãos, a mãe apanhava as compras do chão e o automóvel já passara por mim e desaparecera na primeira curva.
Fiquei parado por um momento. Os dois passaram por mim e pude reparar na força com que as mãos de mãe e filho se agarravam. Era a força de quem precisa de agarrar a vida a si mesmo e acabou de perceber que em alguns momentos não há força que chegue para o fazer.
Continuei a caminhar. Quando te vir de novo vou-te dar a mão com a mesma força, pensei. Só para que entre nós nada morra hoje.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Ela avisou... só não disse tudo!

Crica para veres toda a história
Toque de medo


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17 março 2019

O fundo Baú - 8

O baú que deu início à colecção de
arte erótica «a funda São»
Em 10 de Dezembro de 2003, numa publicação com o título «Mulheres sentem-se desconfortáveis com a palavra "vagina"... mas São criativas», apresentei uma sugestão de nome para os genitais femininos. E terminava com esta constatação:

Como bem perguntou Graham Greene,
"para que é que Deus nos deu os genitais se queria que nós pensássemos de forma clara?"

Quatro milhões de visitas...

... em pouco mais de 15 anos, dá uma média de mais de 700 visitas por dia.
É obra!


Fenda


Via mon ami Bernard Perroud

Ex-voto 11


16 março 2019

«Eça tem Graça» - Fernando Gomes

No Largo Barão de Quintela, em Lisboa, a dois passos do Camões, ergue-se a estátua de Eça de Queiroz (1845-1900), obra de António Teixeira Lopes (1866-1942), inaugurada três anos após a morte do escritor. Devido a frequentes actos de vandalismo, a escultura original, em mármore, encontra-se no Museu da Cidade desde 2001, tendo sido substituída por uma réplica em bronze. Gravada na base do monumento, a frase que inspirou o escultor gaiense, retirada d’A Relíquia: Sobre a nudez forte da verdade, o manto diaphano da phantasia.

Consta que um velho criado da família da mulher de Eça, levado a ver a obra, terá dito:
— O patrão está bem, mas nunca pensei que a senhora dona Emília se prestasse a estas figuras.



«Surrender» - Mário Lima



"Mãos que se tocam, olhares que se cruzam e o silêncio faz o resto"

Mário Lima

«Guia mundano das meninas casadoiras» - Condessa de Gencé

Livro de 1910. Tradução e adaptação por Marieta Trindade.
Oferta de Lourenço Moura para a colecção.

"A casa onde há uma rapariga não se parece com as outras, porque a presença dela manifesta-se em todos os pormenores, desde a organização material interior até às relações de sociedade. Entre os dezasseis e os dezoito anos, uma menina torna-se inspiradora do lar. Não passa ainda duma criança, mas já é escutada, e consultada confidencialmente. Uma rapariga tem portanto responsabilidades acima da sua idade, como as não têm o rapazes que vivem, quase sempre, longe dos pais, no liceu, nas escolas, ou no regimento. Uma menina só sai de casa de seus pais para casar."






A colecção de arte erótica «a funda São» tem:
> 2.000 livros das temáticas do erotismo e da sexualidade, desde o ano de 1664 até aos nossos dias;
> 4.000 objectos diversos (quadros a óleo e acrílico, desenhos originais, gravuras, jogos, mecanismos e segredos, brinquedos, publicidade, artesanato, peças de design, selos, moedas, postais, calendários, antiguidades, estatuetas em diversos materiais e de diversas proveniências, etc.);
> muitas ideias para actividades complementares, loja e merchandising...

... procura parceiro [M/F]

Quem quiser investir neste projecto, pode contactar-me.

Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)

15 março 2019

Postalinho germânico

"Num dia como de hoje [14 de Fevereiro... mas é sempre dia bom para namorar], em que se trocam tantos carinhos e lembranças, sugiro esta verdadeira relíquia da faiança alemã. Porque o amor é frágil, nada como uma cerâmica resistente."
Jorge Prendas

Sabes o que é "Algodão"?

O DiciOrdinário ilusTarado explica:

Algodão - Insistência esperançada de um homem a várias mulheres.

Faz a tua encomenda aqui.
Se quiseres, basta mencionares no formulário e posso enviar-te o DiciOrdinário com uma dedicatória.


#cuntismo - Ruim

A expressão “cunt” não possui uma congénere na nossa língua dada a sua natureza e poder. A palavra que mais se aproxima é “coninhas”, mas “cunt” possui força de “filho da p#ta” e é essa – a meu ver – a definição mais aproximada por duas razões:

- Provoca o mesmo tipo de reacção no ofendido.
- É usada da mesma forma entre amigos (ex: “My mate Nick? He’s a jolly cunt!” e “Gosto mesmo daquele filho da p#ta do João!”

Tive a oportunidade de debater o “cuntismo” com uma senhora australiana durante o último voo (de 4!) até Sydney durante bastante tempo. A conversa começou da seguinte forma, ao comentar o choro incessante de um bebé:

Eu: Now that’s a cunt baby if I ever saw one.
Ela: No. Please don’t use that word.
Eu: Baby?
Ela: NO. THE OTHER ONE!
Eu: You mean cunt?

Eu encaro a palavra “cunt” com a mesma descontração dos australianos, pois a mesma possui uma conotação bastante negativa juntos dos americanos (muito por culpa do embaixador da “cunt”, Jim Jefferies). Além disso, inglês não é a minha língua materna, logo, tenho carta verde para a dizer sob o pretexto de não saber o que significa.

- You should never use that word in any circumstance.
- Really? If I go to the toilet and someone takes my seat and says “this is mine now, fuck of!”… what do I do?
- Call the cabin crew to help you.
- Call him a cunt is far better. And funnier.
- Promise me you won’t call anyone that. Please.
- That’s a cuntsy request…
- Really? You’re going to get in trouble.

Acedi e prometi à senhora que não ia chamar isso a ninguém.

MAS…

Estava eu na fila dos serviços fronteiriços australianos para declarar uma caixa de Zyrtec e tabaco de enrolar, quando duas “não cunts” tentaram fazer os restantes de parvos e resolvem meter-se na fila mesmo à minha frente. Senti-me um pouco comido, como se tivessem enfiado um das Caldas na minha cunt e fiz questão de dizer à senhora “excuse me, you´re passing all these people in line. The end of over there” e apontei para o ass of Judes porque a fila era mesmo enorme. Para surpresa minha, levei uma sapatada na mão e ouvi “mind your own business”. Ora, eu não sou gajo de reagir a quente, mas pensei mesmo em lhe espetar um pontapé em cheio na cunt. Começou o que posso descrever como uma semi-escandaleira em inglês e quando vi que aquilo não ia dar em nada, gritei “YOU CUNT!”. Uuuuuuuuuui, silêncio no cuntódromo que agora é que a cunt estava entornada.

- HOW DARE YOU?
- Vão mas é para o c#ralho, ainda agora aqui cheguei já me estou a chatear? Quer passar, que passe, f#da-se. Mas agora estou para aturar atrasados mentais quando devia estar a divertir-me? Vão-se f#der. PASSE, MINHA SENHORA. SEJA FELIZ.
- ?????????

Estão a ver? Cunt é fixe, mas nada bate um tuga a armar um pé de vento.

Está a chover em Sydney. São Pedro is a cunt!

#cuntismo #ruimgoesdownunder

Ruim
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14 março 2019

«O meu pecado» - Áurea Justo

Vejo-te através de sombras
Mais antigas que o Tempo,
Este pó levantado pelas ondas
Menos espessas que o vento...

Incensos cruzam os nossos caminhos,
Tributos ancestrais de novas essências,
Este dogmatismo anseia pelos teus carinhos,
Prova da vã ilusão destas carências...

Sinto a indiferença do Céu.
Que palavras darei a este pecado?
E tu que não és ateu
Nas horas em que és amado...

Então,esfria-me a alma
Quando te sinto longe
E só a tua presença me acalma,
Mesmo vestido de monge!

In O Romance de Um Anjo

Áurea Justo
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