14 setembro 2012

Postalinho de Guimarães - gárgula da igreja de Nossa Senhora da Oliveira

Os meus amigos já me tinham dito: quando fosse a Guimarães, teria que reparar numa das gárgulas da igreja de Nossa Senhora da Oliveira, virada para a Praça da Oliveira, bem no centro histórico da cidade.
Eu lá fui espreitar e... e... o que é aquilo?


É! É! É um autobroche (ou autofelatio, para quem quiser armar-se aos cágados com Latim)!


Entretanto, descobri várias referências a este... fenómeno de Guimarães:
Guimarães Hip! - «As Gárgulas: um pequeno “detalhe”»
Estudo «Contributos para o estudo das gárgulas medievais em Portugal: desvios e transgressões discursivas?» de Catarina Fernandes Barreira, UCP
Neste estudo, a autora refere esta gárgula na página 190:
"Na torre da igreja de Nossa Sr.ª da Oliveira, Guimarães (séc. XVI), podemos observar uma gárgula, posicionada à esquina, inserida no primeiro registo, que representa uma figura masculina a protagonizar uma cena de felatio a si própria, numa estranha posição, de rabo virado para o exterior. E a sua representação é bem explícita, pois é bastante visível para o observador o falo erecto, que o artífice enfatizou exagerando a sua escala. Reportamo-nos mais uma vez ao estudo realizado por Maria Manuela Braga, já aqui citado e a um tema relacionado: o de “tocar gaita” ou “tocar gaita-de-foles”, com conotações sexuais relacionadas com a masturbação, comuns em alguns cadeirais. Em relação ao tema da nossa gárgula, a historiadora já havia detectado uma cena de felatio entre dois putti no portal da Sé de Lamego. Em última instância, estes temas reportam também ao pecado da luxúria, mas no masculino, a um aspecto mais escabroso e grotesco da sexualidade masculina. Mattoso afi‡rma que “podemos conhecer alguma coisa acerca do que os portugueses da Idade Média diziam da sexualidade, mas pouco ou nada ficamos a saber acerca do que eles realmente faziam”. Ao que nós acrescentamos que, embora possamos conhecer algumas representações plásticas da sexualidade, também não podemos tomar ilações conclusivas, pois parece-nos que este tipo de representação nas gárgulas não são facetas do quotidiano pelo seu carácter excêntrico e mesmo extravagante."

Foto de autor desconhecido