Eu podia escrever um livro apenas sobre as mulheres que, estando à minha frente na fila do supermercado, saíram para ir buscar mais qualquer coisa de que se esqueceram. Normalmente são simpáticas, essas mulheres, até pedem desculpa quando deixam as coisas as compras a marcar lugar. Mas atrasam tudo e todos.
Hoje aconteceu-me mais uma vez. Eu só tinha um molho de agriões, um frasco de azeitonas recheadas e uma alface no cesto dum supermercado que só tinha duas caixas abertas. Escolhi uma delas à sorte e tive azar. Ou sorte, depende do ponto de vista.
A cliente que estava à minha frente, quando o rapaz da caixa já tinha lido praticamente todos os códigos de barras dos seus produtos, lembrou-se que também queria comprar alhos. Lá foi ela aos saltinhos, prometendo ser rápida, buscar os alhos. Demorou mais do que seria expectável. Quando voltou trazia um chocolate, um conjunto de três copos para vinho e uma embalagem de bolachas. Não trazia alhos.
O rapaz ia fechar a conta quando ela me perguntou se as azeitonas que eu tinha eram boas. Que sim, respondi. Diga-me só onde estão para eu não demorar muito a ir buscá-las, pediu-me fazendo também sinal ao rapaz para aguardar um pouco. Dei-lhe o meu frasco, mais por achar que as pessoas que estavam atrás de mim iam explodir do que por me sentir atrasado.
Depois de fazer as compras ela chamou-me. Tinha pedido um café num balcão ali perto da caixa mesmo sem saber se eu queria de facto bebê-lo. Mas bebi-o, enquanto mantive uma conversa animada sobre a razão de não ter posto açúcar, como é que costumo comer aquelas azeitonas, e fiquei também a saber que ela conduz sem ter carta de condução.
Ofereceu-se para me levar a casa. Não é preciso, respondi. A minha namorada vive aqui perto, conclui. E ela lá foi, com um estranho sorriso que nunca lhe saiu da cara durante este tempo todo. Não cheguei a perceber se fui propositadamente gozado ou não.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»