05 março 2006

Imunidade


Ai São, estou fartinha de receber no telefone fixo aquelas chamadas para venderem qualquer coisa ao nome que a lista telefónica ostenta e que numa voz monocórdica, de quem está a ler a lição, nos despeja a treta de quererem fazer umas perguntinhas, de quererem ajudar a ter oportunidades únicas e mais um conjunto de tangas que mais valia colarem-me na testa o rótulo «parva sem espinhas».

Depois há os outdoors, em plena rua está bem de ver, em que um iogurte nos desafia a mostrar o umbigo mesmo no inverno, um outro que em voz colocada e macia na rádio garante que sacia mais e como não podia deixar de ser, a caixinha que mudou o mundo, para publicitar pacotes de chamadas, repete até à exaustão os anúncios de que estava toda a tarde naquilo, ou de manhã é que é bom, para já não falar da crueldade do azeite que garante que quem boa cama faz, nela assa.

Não me admira assim que tanta gente desligue os aparelhos noticiosos que possui dentro de portas ou se refugie na comunicação do MSN, onde garantidamente ninguém corre o risco de ficar surdo.

Mas preocupa-me que todas estas imagens e sons publicitários que invadem o nosso quotidiano nos tornem impotentes, ou melhor dizendo, Sãozinha, que as nossas orelhas acabem por ficar geneticamente imunes aos apelos eróticos.

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