Como habitualmente, ao início da manhã, muita gente dormitava no comboio, com os assentos aveludados feitos beliche e um ombro amigo ou as janelas a servir de almofada, embalada na música clássica que se desprende das paredes e no ronronar da carruagem, a ganhar os minutinhos que a distância da residência ao local de trabalho retira.
Comecei a abrir a mala para sacar o meu livro até um joelho bater no meu e me desviar desse louvável intento e me fazer deparar no lugar fronteiro com um apetitoso espécimen masculino, agasalhado num blusão de malha e cabedal que tapava os bolsos das calças e zonas limítrofes, obrigando o meu olhar a descer até às potentes botas Timberland. A temperatura ambiente propiciou que corresse o fecho do blusão e reparei naquele pescoço acetinado que descia para a pequena abertura da transparência da camisa, desvendando uma pele lisa de tons quentes e as minhas vistas lavadas imprimiram na tela da massa cinzenta os meus dedos leitores a palmilhar aquele tronco macio, a contornar-lhe os bordos do umbigo, a desfolharem a fivela do cinto, a desembarcarem cada botão da braguilha até à paleta de quadrados dos boxers e a dela erguer um tronco mais acastanhado que a restante pele, encimado por uma tetina arroxeada, luxuriante como o veludo dos andores da Páscoa.
Bem sei, Sãozinha, que as t-shirt's não necessitam de ferro se estendidas bem esticadinhas e contudo, apetecia-me desenvolver uma campanha a favor da sensualidade das camisas.
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