09 junho 2006

“Hás-de escrever um livro sim, e hás-de chamar-lhe dor de corno.”
Ela não respondeu. Estava tão cansada de agressões que já não tinha energia para as refutar.
“Ou então chamas-lhe simplesmente ressabiamento.”
Ora aí está, pensou ela, um péssimo título para um livro, mas um excelente termo para qualificar o que sinto.
E sabes, continuou ela a pensar, hei-de escrever esse livro, sim, e quando olhar para a palavra fim já não me vou lembrar de ti, porque todos os exorcismos vão estar completos, porque me libertarei de ti, da minha frustração, dos teus ataques à minha auto-estima, porque deixarei de me sentir patética quando me masturbar.
Eu agarrei na sua última frase, que não, que não devia sentir-se patética, antes feliz, pois se havia por aí tantas mulheres que nem sozinhas se vinham.
Ela zangou-se comigo, como se zangava com todos e com tudo, de tão amarga que se tornara. Que não fazia sentido masturbar-se por não ter outra forma de se vir, tendo-o a seu lado todas as noites.
Eu, como não percebia nada de relações humanas, ou pelo menos assim mo têm dito, calei-me. Sei lá se ela tinha razão. Só queria que não fosse assim, a gente quer sempre que as pessoas de quem gostamos sejam felizes.
Afinal, pedimos pouco, e nem sequer é para nós.

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