20 setembro 2007

"vermelho redundante"


O seu sorriso ficava assim uma espécie de sorriso de gato saído directamente do país das maravilhas, estonteantemente branco quase brilhando na penumbra da sala que o fraco vento da noite arrefecia, entrando devagar pela janela aberta.
Um sorriso de descoberta, pensou ela mais tarde. De empatia, tinha ele explicado.
A faixa, sempre a mesma, numa repetição sem cansaço, ia debitando os versos feitos à medida.
“Olha tu”, tinha ele dito, quando secando os suores e sossegando o peito e a pele, se mantinham calados, deitados no pedaço de chão ainda livre de roupas, sapatos, livros roubados à estante.
E ela tinha ficado como que a ver-se ao espelho, ouvindo a voz quente e boémia do homem que a cantava, a ela, de repente, do nada.
Por momentos o mundo pareceu-lhe imenso, a noite interminável e a felicidade possível.

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