22 junho 2008

Mosteiro da Batalha


O Guilherme era um enérgico arquitecto na vanguarda das simetrias arrojadas e materiais inovadores que tanto empunhava um lápis como um computador em cada projecto, sem se esquecer da construção dos modelos reduzidos à escala.

No sexo mostrava arrojo nos equilíbrios precários contra a parede suportados com a ajuda de mãos e na forma de se segurar na minha cintura estendida quando as suas coxas me roçavam as nádegas no vai e vem das suas pernas flectidas. Abria as pernas num ângulo de noventa graus para me dar acesso ao seu capitel e de quando em quando pendurava-as nos meus ombros para me emoldurar os cabelos.

Só que naquela posição básica e por mor do maldito espelho do tecto que ele considerava o remate da capela do quarto, ao ver as suas nádegas rechonchudas a abanar, como se fosse um cão ladino a escavar freneticamente em busca de um osso, desconcentrei-me e soltaram-se umas gargalhadas desbragadas que se bem lhe comprimiam o tronco peniano como quem diz anda lá vem-te lhe insuflaram uma raiva própria de quem vê o bife a espapaçar-se no chão. Desde aí passou a preferir tectos de estuque branco.
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Não se pode falar em batalha (mesmo sendo num mosteiro) que o OrCa ode logo:
"oh ábside
arcobotante
oh cota com perdigota
a dar de si
exultante
arquitecta a cambalhota

oh pináculo e vitrais
abóboda em catedrais
quero mais
oh quero mais
onde estais que não ma dais?..."


E desta vez até a Euzinha fez um poema às duas da matina:
"Em ogivas expectantes assim te respondo, oh! sábio vate:
Estou no céu aberto das incompletas capelas, desnudas,
No vazio frio da nave imensa, no frémito de um grito que late
Estou no céu, ou no inferno, das pedras quentes, carnudas,

Desta catedral em fogo, templo aberto assim, só, expectante,
Do sacerdócio da tua boca, ladaínha interminável, rouca,
Abre-se o corpo em fúria, a alma grita, suspira num instante
Exige a mão sábia, o olhar quente dessa paixão, nua, tua, louca..."

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