"Tu és uma flecha a acertar o alvo das inderetas, Nelinho!
Tásemêmaver que já tás doilho no mê burro Jaramias, mas dêgote já que num tens sortezinha ninhuma, precoanimal desde cu lávo cu chimpôt cas meninas me benderam, anda oitro. Aquela marreta num para quieta, basta que lhe comece a insubuar a lumbeira e o mê Jaramias desata logo a inspreguiçar a bingala e dar cum ela na barriga qué um assombro.
Indá dias têve lá in casa o sinhor padri da frenguesia a fazer um pedintóiro, quera prajuda dumas obras e duns arrainjos e nun sei o kê mais, quel cun tanto arrazoado inté me estába a deixar meia azucrinada e ê já num tába a preceber nada do quele dezia.
Intão prigunteilhe:
- Oilhe lá, sinhor paidre, intão e aquela dinheirama cas gentes daldeia lhintregam na missinha próquequeserbe?
O sinhor padre arringalou munto os oilhos e rispondeume:
- Num seijas inrege, melher, metete nos teus assuntos e que num te deiem cuidado os meus.
Intão eu rispondilhe:
- Olhe lá, sinhor padre, sos assuntos num me dizes respeito proque que bei cá desinquetarme?
O sinhor padre ficou tão azedo ca risposta que lheu dei que desalborou a pranguejar pelo estábulo afora e nem riparou numa forquilha que lá estaba caida no chão. Olha, intrapeçou no cabo da meisma e instatelou-só cumprido. E há coisas do caralho... intão num é co homezinho foi mesmo aterrar cas bentas a dois dedos do piçalho do Jaramias? E o mais é co animal nem deu pela desfrença, e conceteza julgando quera eu que me tinha botado a jêto pá mamada do questume, vai logo dinfiar a marreta na boca do padre.
Olha Nelito, eu nem sabia sabia de me rir ou dimpurrar o Jaramias, mas o tolo do padre tambem num se chatiou nada, acho inté que sajeitô melhor porque a marreta estaba a empancar um becado na graganta.
Quando o mê Jaramias lhe afinfou ca real esporradela pelo gargomil abaixo, é co parreco sacudiu a guedelha e fez que tinha estado desmaiado, alevantou-se muitaderrepente a sancudir a batina e a praguntar meio aparvalhado:
- Qué que tinha acontecido?
Sabes o que lheu respondi, Nelito?
- Foi castigo, sinhor padre, foi castigo!
E num é co malbado do padreco, passandas costas das mãos pelos bêços, foi saindo e dezendo ao mêmo tempo:
- Castigos destes criós eu todos os dias!
Tiámélia do Burro"
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Uma por dia tira a azia