11 outubro 2012

«Vade retro Satana!» - Patife

A semana passada fui à ópera. Gosto muito de ir à ópera. Sobretudo sozinho. É daquelas coisas sublimes que considero serem essenciais na vida e que deviam ser elevadas a Património Universal do Engate. É que durante a ópera as mulheres ficam expostas a sucessivas síncopes cardíacas motivadas por uma coisa qualquer estranha que se chama emoções. Ou lá o que é. À primeira ária de ópera o impulsor dos sentimentos delas começa a pulular e à terceira ária já estão a fazer pocinha na cuequinha. Ficam com o coração em ponto de rebuçado. E quando o Patife está por perto acabam por ficar também com o corpo em ponto de abusado. Desta última visita ao São Carlos, do meu lado esquerdo uma valquíria qualquer estava a queixar-se por só ter conseguido arranjar bilhete para o último lugar da fila. Ela estava visivelmente apoquentada do espírito por isso tratei de a sossegar antes da ópera começar: Ficou com o último lugar da fila mas ainda pode ficar com o primeiro lugar da pila, ofereci eu, bondoso, enquanto olhava de soslaio para o Pacheco. Não me deu resposta, mas a ideia ficou a ganhar raízes subconscientes, certamente. A ópera começou e ela arrepanhava o peito com as mãos, soluçava da alma e cerrava os olhos com tal afinco que quando a ópera acabou, estando ela extasiada dos sentidos, comecei a falar-lhe de Puccini e da minha interpretação de La Rondine, a peça em três actos que tínhamos acabado de assistir. Sou capaz de jurar que até ouvi a pachacha dela a esvair-se languidamente. Como a coisa não estava de modas, segurei-a pela cintura e levei-a para um camarote já vazio. Assim que lhe mordo o pescoço e lhe meto a mão pelo vestido sentindo a intensidade húmida das suas cuecas, ela brada num daqueles gritos mudos: Vade retro Satana! (“Para trás, Satanás!”). E eu, obediente endiabrado, dei-lhe por trás.

Patife
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