11 outubro 2012

A posta que Jesus saiu à mãe


A hipótese de Jesus (o Cristo, não o do Benfica) ter sido um homem casado, novamente ressuscitada a partir de um papiro descoberto por uma investigadora de Harvard, Karen King, continua a ser contestada pelo Vaticano.
De resto, a maioria dos entendidos parece privilegiar a hipótese de estarmos perante uma fraude, embora ainda não existam factos científicos consensuais que confirmem ou desmintam o pressuposto.
O Vaticano, tal como muitas "igrejas" empoleiradas na figura desse homem extraordinário da Nazaré (a do Médio Oriente, não a nossa), insiste em rejeitar toda e qualquer prova que possa atribuir a Jesus uma ligação íntima a fêmeas da espécie, revelação que embora não pudesse desmentir o brilhantismo da postura e da determinação desse homem único e mesmo a sua progenitura divina, poderia demolir muitos dos dogmas que baseiam a própria estrutura da Igreja Católica. 

Esta reacção urticária do Vaticano a qualquer espécie de humanização de Jesus, nomeadamente no que concerne a qualquer evidência capaz de beliscar a sua (com ésse maiúsculo, na grafia católica-apostólica-romana) imprescindível virgindade, constitui uma teimosia tão imbecil (pela motivação) quanto compreensível (pela motivação) porque uma versão mais terrena de Cristo deixaria em maus lençóis toda uma interpretação da coisa, mais puritana, menos carnal e sobretudo sem gajas no primeiro plano da hierarquia.
Para mim, falso católico porque baptizado à força antes sequer de saber falar, presumo que precisamente para evitar alguma contestação da minha parte ao ritual, um dos maiores pecados da Igreja Católica passa precisamente pelo mal que fizeram ao mundo quando decidiram afastar as mulheres do palco principal. Muito do que de mau acontece no nosso tempo e no nosso Ocidente cristão deriva da concepção nada imaculada desta construção de um Jesus à medida dos interesses de uns quantos gabirus.
Engolir uma mulher no cenário, mesmo santa, só mesmo com gravidez por obra e graça do Espírito Santo (o dos milagres, não o dos créditos à habitação) podia assumir algum tipo de protagonismo num tempo e num mundo para homens que se queriam à imagem e semelhança de um deus que toda a gente intui ter pila.

Dá-me jeito, admito, porque estou do lado certo da barricada num contexto de hierarquias entre os géneros tal como a Igreja Católica as define na essência e na dimensão prática da sua intervenção. No entanto, custa-me perceber a intrujice na génese desta forma de ver as coisas como me custa a aceitar as respectivas repercussões do ponto de vista menos religioso e mais social. Nesta religião como nas outras, que isto das gajas serem apenas figurantes numa película muito machona interessa imenso às pessoas com pila independentemente do nome pelo qual O chamam...
E por isso não estranho a reacção do Vaticano, a sua descrença veiculada por todos os crentes mais ilustres ao dispor no meio académico, ainda por cima tendo sido uma mulher a dar a cara pelo tal papiro que, sendo genuíno, desmentiria tantos pressupostos que poucas religiões conseguiriam evitar uma autêntica revolução nas suas estruturas.

Dou graças, embora sem saber a quem (com maiúscula, em havendo), por mais esta hipótese de desmistificação de uma importante fonte de bafio e até de injustiça para com o papel que as mulheres devem poder assumir na construção da Igreja que também é a sua.
E acima de tudo por imaginar este mundo livre da canga demoníaca que a relação homem/mulher e o sexo nela implícito têm merecido por parte de quem recusa entender que por detrás do sagrado papel de uma mãe existe o de uma mulher para assumir.