15 outubro 2014

As mulheres e os padrões... ou melhor, prisões de beleza

Há causas pelas quais eu desde sempre penso que vale a pena lutar. Uma dessas causas é a beleza real, sem pressões da sociedade, das modas, dos padrões e das censuras.
Recentemente, críticas ridículas de algumas pessoas à actriz Jessica Athayde na sequência de uma passagem de modelos, levaram-na a tomar uma posição no seu blog. A manequim Sara Sampaio também aproveitou para expor a sua posição sobre este assunto, na sua página no Facebook, mostrando que os extremos se tocam mesmo.
Pela importância desses textos, que revelam bem que «cada cabeça, sua sentença», transcrevo-os aqui:

Para mulheres reais
14 de Outubro de 2014 - jessy james

"As palavras que vos escrevo poderiam não ser escritas. Era mais fácil “não dar importância assunto” e “deixar morrer a coisa”. Era mais fácil…. mas não é o que vou fazer porque as palavras que vos escrevo não são só sobre mim: são sobre as mulheres e a forma como são permanentemente olhadas, julgadas e atacadas. São sobre uma ditadura de imagem imposta, uma tendência redutora de nos verem e de nós próprias olharmos umas para as outras. Isto tem de ser denunciado. Este bulliyng permanente tem de acabar e pretendo ser uma voz activa neste caminho que tem de ser percorrido por todas nós.
Sou actriz. Não sou modelo. Optei há muito por um estilo de vida saudável, com escolhas que faço todos os dias em relação à minha alimentação e prática de exercício físico.
Faço-o porque quero viver muito. Quero viver bem. Quero ser saudável e feliz como tantas outras mulheres.
Desfilei na Moda Lisboa como convidada. Desfilei com o corpo que tenho que é o meu e no qual me sinto muito bem.
Qual não foi a minha perplexidade quando observo que, a propósito de uma fotografia menos feliz, sou alvo de críticas, comentários desagradáveis e uma série de mimos, próprios deste mundo das redes sociais, em que ainda nos estamos a habituar a viver.
Estes comentários foram feitos na maioria por mulheres. Mulheres, vou repetir.
Mulheres que são filhas, mulheres que são mães, mulheres que ainda não perceberam que cada vez que cedem à tentação de atacar outra mulher com base nas suas características físicas, estão a enfraquecer a condição feminina, em vez de lhe dar força.
Estão a cultivar as inseguranças, as desordens alimentares, a escravidão da imagem.
Sou uma mulher segura, pelo menos trabalho nesse sentido. Se este incidente fosse só sobre mim, posso garantir-vos que pouca importância lhe daria.
Mas questiono-me sobre a quantidade de mulheres menos seguras, de todas as idades, mais ou menos felizes, magras, gordas, altas, baixas sofrem este tipo de perseguição no seu dia-a-dia. Mulheres que ao contrário de mim, não têm uma voz que se faça ouvir… Para alguma coisa tem de servir o facto de ser figura pública. Que seja então para dar voz a um grito que sei ser de muitas que me estão a ler neste momento: CHEGA!
Cada mulher é um mundo muito para além do corpo que a recebe. Apoiem -se. Defendam -se. Não permitam olhares redutores sobre aquilo que somos.
A dignidade da condição feminina passa também pelas mulheres perceberem que têm se unir nessa procura e nessa luta.
Queremos um mundo com mulheres felizes, inteligentes, pró-activas, inovadoras, solidárias e que façam a diferença.
Temos de estar juntas nesse objectivo.
Há pouco tempo perguntaram-me numa entrevista quem é que eu admirava, foi fácil responder. Emma Watson, 22 anos, penso eu.
Emma Watson (actriz como eu) no seu primeiro discurso como Embaixadora das Nações Unidas para a Boa Vontade, inspirou o mundo lançando a campanha ONU #HeForShe, que fala sobre a liberdade e a igualdade entre os sexos.
Fala sobre a importância dos homens apoiarem as mulheres neste caminho.
Eu acrescento e peço em Portugal que abracemos também o #SheForShe
Ela por ela. Cada uma de nós pela mulher ao nosso lado. Seja no autocarro ou numa fotografia no ecrã do computador."

O texto da Sara Sampaio

"Concordo com tudo que a Jessica Athayde escreveu! Quero só acrescentar umas palavras, tal como a Jessica também eu sou alvo de muitas criticas ao meu corpo (maior parte da vezes por mulheres), no entanto pelo motivo oposto da Jessica. Já perdi a conta das vezes que me mandaram ir comer um hamburger, me chamaram anorética, esqueleto, etc, tantas foram as vezes que se calhar já devia estar habituada, no entanto, sempre que leio essas palavras dói.
Primeiro anorexia é uma doença muito grave, do qual felizmente nunca sofri, mas já tive pessoas próximas que lutam diariamente contra ela, e em nenhum caso, repito nenhum caso, deveria ser usada para atacar alguém que simplesmente é magra e sempre foi magra! digo isto porque vi pessoas a partilhar o texto da Jessica, em que ela própria diz que cada corpo é bonito, a dizer que preferiam ter o corpo da Jessica ao dos esqueletos da passarela! Bom, os "esqueletos" das passarelas são humanos! pessoas, que tal como tu e eu têm sentimentos, e tal como tu e eu são "pessoas verdadeiras".
Aquele slogan de "a mulher verdadeira tem curvas" sempre me aborreceu, desculpem e agora vou ser um pouco rude, mas a mulher verdadeira como eu aprendi tem uma vagina. Dito isto, Jessica parabéns estavas linda no desfile!
Para o resto deixem de criticar os corpos uma das outras, se alguém quer comer pizza todos os dias, e não ir ao ginásio, é a escolha dela, tal como se alguém quer comer super saudável e ir ao ginásio todos os dias é escolha dela também. cada um tem o corpo que tem, e cuida dele da maneira que quiser, cada pessoas tem um metabolismo diferente, infelizmente vivemos numa sociedade em que somos criticados tenhamos o corpo que tenhamos. tal como diz o ditado: preso por ter cão e preso por não ter."