São vidas que se mudam, talvez para sempre, quando o amor influencia decisões a tomar. Há um compromisso inerente na tomada de consciência dessas mudanças, na aceitação da influência do outro ou de nós mesmos no pouco do destino que conseguimos influenciar.
Torna-se sério sem que isso derive de uma qualquer imposição social, é mesmo assim. É lógico e é justo enquanto contrapartida para tudo quanto de menos bom pode derivar de qualquer relação amorosa, quaisquer que sejam os moldes da sua construção, nomeadamente a interferência em opções de vida de outra pessoa que poderiam alterar para sempre essa vida para melhor. Ou não.
Essa incerteza, contudo, basta para fundamentar um princípio fácil de enunciar que é o do sentido de responsabilidade não sobre o que cativamos mas sobre o que nos permitimos influenciar. Essa ingerência é tão mais profunda quantos os laços estabelecidos, os compromissos assumidos para viabilizar uma ligação, a sensível questão das cedências.
São essas, no maior ou menor grau de empenho que denunciam. que acabam por definir os contornos de uma relação e por determinarem os moldes (e por inerência os limites) da mesma em termos de capacidade de interferir, ainda que por omissão, na vida de outra pessoa. São os alicerces das regras do jogo e como tal acabam por estabelecer os pressupostos de confiança, as fronteiras que nos permitimos criar dentro do território de quem quanto mais se entrega mais terá a perder.
É aí que o compromisso deve existir sob alguma forma, ainda que baseado numa perspectiva de longevidade sempre falível. Mas pressuposta numa relação mais íntima, mais próxima, mais cúmplice como todas as que dizemos mais valorizar. A moeda de troca é a busca permanente do equilíbrio como o é a preocupação constante em fazer valerem a pena todas as cedências e abdicações que qualquer relação exige para existir sem a anulação seja de quem for.
É isso que permite chamar-lhe amor. E faz sempre mais sentido quando à exaltação do sentimento correspondem a lucidez e o discernimento necessários para o fundamentar.