cheguei à conclusão que só o amor pode
decifrar o segredo; que só no sexo
se aproximam a música e a música de corpos
habitados por essa poesia que vem do fundo.
O amor é a entrega assassina
que não se deixa fixar: a luz que vem do abismo
e que nunca poderei colher,
eu que já estou noutro lugar. Fodendo
até cair para o lado
curámos o que estava doente, o teu corpo menino
e o meu cadáver cansado. Exilados
da Via Láctea, e dentro dela,
deste vaso louco onde se misturam
os vivos e os mortos, todos em busca
da luz. A minha luz
foi vir-me quando me julgava
cego e vazio. A tua luz
foi quando abriste o que julgavas
para sempre fechado.
Casimiro de Brito
Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa