O Amor não é só sexo, dizem. Pois não, mas quem nunca ganhou tesão enquanto andava de autocarro e se lembrou da namorada não sabe o que é o Amor. Até porque nunca teve que se sentar num banco desse autocarro e olhar pela janela à procura de coisas tristes, a ver se a saudade amolecia um pouco e lhe permitia sair na paragem programada sem dar muito mau aspecto.
Por falar em paragem programada, o Amor é a única coisa na vida em que ela não existe. É o tesão total e contínuo, a não ser que deixe de o ser. É por isso que saindo dele, a paragem é sempre errada e não sabemos onde estamos nem quem vamos encontrar. Talvez um amigo que goste de comer umas bifanas com mostarda, talvez uma amiga que nos convide para dormir num abraço prolongado, talvez uma meretriz envelhecida por uma só noite. De facto, talvez eu não saiba perder-me por aí, à procura de nada, e tente voltar a casa, nem que seja a pé e demore uma eternidade.
Estou sempre apaixonado pela mesma mulher porque não sei mudar de Amor. Aliás, de Amor não se muda. Se se mudasse, não era Amor. Era um pequeno flirt. Mudar de Amor é como uma mudança civilizacional. É a História da Mesopotâmia e a vontade de querer ficar com a necessidade de partir.
Acho que é por isso que há tantos homens estúpidos com as mulheres. Os homens vivem oitenta anos em média e não percebem que o Amor é uma civilização secular. Nunca percebi a inteligência que leva um homem a intrometer-se na vida de uma mulher com um piropo brejeiro. O que é que ele espera em troca? Não pode esperar nada. Ela é uma civilização de quinhentos anos e ele uma moda esquecida.
E eu espero pela civilização toda. Se não for uma, por outra. Depois do caos.
Amo sempre, até que a civilização nos separe.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»