"Eu não quero ter frigorífico, troco-o por ti, quero ter-te a ti. Eu não quero máquina de lavar, lavo-me em ti, contigo, os dois debaixo da água, eu não quero um palácio, quero-te a ti, eu não quero um carro caro, quero andar a pé contigo, não quero os trópicos, estou bem contigo sentada num murete qualquer da cidade a falar-te baixinho, eu não quero muita coisa, quero só encostar a minha cabeça ao teu peito e ouvir o coração bater, e saberei então que batem os dois ao mesmo ritmo, o mesmo compasso. Nunca te esqueças do que outrora te disse. Nunca te esqueças, porque to proíbo. Irei atrás de ti se te esqueceres, cravar-te-ei a pele se te esqueceres, gritar-te-ei ao ouvido se te esqueceres. Nunca te esqueças, não to autorizo, mesmo que te diga que esqueças, minto-te, minto-me, mesmo que te bata, sinto carícia, dou carícia, mesmo que te vire a cara, morro de desejo por ti. Se me esqueceres, definho, destruo-me. Ninguém me dá mais que tu. Eu não quero mais que isso. Não quero menos que isso. Quero-te a ti. Through thick and thin, e agora, estou segura, é o thin, em que não sinto nada, digo que não sinto nada, vivo como se não sentisse nada, mas sinto tanto, tanto, que o thin é um translúcido que me cobre e mascara. Como sempre fiz."
João
Geografia das Curvas