Se calhar todos nós Amamos às escondidas, como eu. Se for verdade, já todos vivemos algumas centenas de Amores diferentes, ou até milhares, mesmo que só tenhamos tido um Amor Mesmo na vida.
Os Amores às escondidas podem ou não ser recíprocos. Nunca sabemos, precisamente porque são escondidos. Quando, por acaso, passamos a saber que somos correspondidos, então deixa de ser um Amor às escondidas para passar a ser um Amor Mesmo.
Apaixono-me muitas vezes durante cinco minutos pela empregada do café, pela do quiosque onde compro o jornal, pela que se cruza comigo quando vou pôr o lixo lá fora ou pela que me atende na farmácia. Elas não sabem, claro. Nunca lhes disse. Afinal de contas, quando não as estou a ver não me sinto apaixonado. É apenas quando estão perto de mim, o que dá ao Amor uma explicação: a presença.
Há muitos Amores que nascem de Amores às escondidas. Já me aconteceu. O problema do Amor Mesmo é que a explicação desaparece. A presença deixa de ser um motivo para Amar e passamos a Amar sempre, mesmo quando estamos sozinhos em casa, apenas porque sim.
É por isso que quando um Amor Mesmo de alguém está a correr menos bem, não vale a pena aconselhá-lo a deixar de Amar. Se não há motivo nenhum para Amar Mesmo, também não há nenhum para deixar de o fazer. Os Amores Mesmo nunca morrem duma só vez, como os Amores às escondidas. Com o tempo, vão-se fortalecendo ou enfraquecendo. Quando um Amor Mesmo se fortaleceu muito, demora bastante para desaparecer.
Ainda assim, há um conselho que se calhar todos podem seguir quando o seu Amor Mesmo parece doente. Vivam muitos Amores às escondidas. Eu hoje, por exemplo, tenho seis encontros marcados com Amores desses. Eles é que não sabem. Nem vão saber.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»