14 abril 2018

«Poema decadente» - Susana Duarte

poema:
lexema
desenhado nas costas das mãos;

costas
no ventre,
enfrentando a solidão.

poema:
mulher escrita no chão.

vento norte.

mulher-poema:
ventre-eterna solidão.

poema escrito nos olhos,
sopro de vida nos dedos,
manhã de agosto

a contragosto

antecâmara do desgosto.

não existes, aí, para onde foste,
ainda que creias ter reescrito

o poema
dos teus dias.

sonhaste.
mais depressa fugirias.

fantasma lúgubre dos meus dias.

tu, que não voltas:
poema decadente nas mãos da mulher
escrita no ventre.

Susana Duarte
Blog Terra de Encanto
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