08 fevereiro 2019

#sempreaaprender - Ruim

Eu sempre tive uma dificuldade enorme em ajustar-me a grupos grandes de rapazes desde criança. Talvez a minha falta de jeito ou gosto pelo desporto tenham fomentado isso. Não sei. Não sou psicólogo, nem estou para me sentar num divã por 30 minutos todas as terças-feiras a falar com um enquanto descrevo a relação com a minha mãe. A própria mentalidade de grupo dos miúdos não ajudava, pois era frequente ser acusado de ser homossexual. Permitam-me esclarecer que nenhuma criança me chamou de homossexual, pois os termos usados eram bastante mais coloridos.

Basicamente, o que acontecia é que eu era chamado de tudo e mais alguma coisa por não demonstrar entusiasmo em participar em certas actividades.

Por exemplo, nos intervalos das aulas era frequente, eu, o homossexual, juntar-me às raparigas. Sempre me pareceram mais interessantes desde tenra idade. Mais fáceis de falar, lidar e, definitivamente, cheiravam bem melhor. Eles viam-me com elas a toda a hora e gritavam "txiii, olha o paneleiro com as meninas!" enquanto se abraçavam uns aos outros a rir e se agarravam pela cintura aos empurrões. Comecei seriamente a pensar se eu seria ou não homossexual. Se eles o diziam, quem era eu para duvidar?

Jogo de futebol? Não contem comigo. Eles todos sem t-shirt, suados a gritar "hey, o paneleiro não quer jogar à bola!" e a rirem-se de mim. Mais uma estaca na minha quase defunta heterossexual auto-estima. Eu ficava horas a vê-los a jogar e a pensar seriamente na minha vida. Marcavam golo, abraçavam-se e beijavam-se todos contentes de sorriso nos lábios enquanto eu me perdia em pensamentos a tentar definir a minha sexualidade. Será que era mesmo? Devia ser. Não me atraía estar rodeado de 40 rapazes em tronco nu. O que é que será que os meus pais iriam pensar?

Um dos momentos mais marcantes na minha busca pela identidade sexual, foi quando um grupo de cinco rapazes na casa dos 13 insistiu que eu fosse com eles para a casa de um para uma sessão conjunta de masturbação a ver um filme porno. Aquilo fez-me muita confusão. Tremi ao ouvir aquele convite e pensei "o que é que um não panilas deve responder?". Assumi que aquilo era um teste e disse que não queria ir. Para surpresa minha ouvi "f#da-se, logo vi que eras paneleiro. Então não queres vir connosco, despires as calças e tocares na tua pila sentado num sofá junto de outros rapazes com erecções a fazer o mesmo ao teu lado? QUE PANILAS TU ME SAÍSTE!". Isto destroçou-me. Eu não queria ser um "panilas", mas por esta altura já tinha percebido que era um caso quase perdido para o estranho e desconhecido mundo da homossexualidade e, por isso, tomei uma decisão: vou provar a mim mesmo que não o sou e vou tentar ter sexo com uma rapariga. Sei que estava a lutar contra a minha natureza, mas tinha de ser. Uma década e tal de homossexualidade estava contra mim mas, ao fim de dois anos, consegui ter sexo com uma rapariga. Sem pagar. Eu gostei, o que me deixou bastante confuso (e a querer mais).

Foi aí que eu percebi tudo. Finalmente fez-se luz. Eu era mesmo um PANILAS. Mas daqueles beras. Gay já eu sabia que era, mas era tão mau em sê-lo, que me sentia atraído por mulheres. Dado ter bastantes amigas, confessei este meu problema e elas, como minhas amigas, propuseram-se a tentar ajudar-me a perceber quem eu sou. Algumas, nem todas. Devo dizer que apresentaram argumentos bastante convincentes e conseguiram expulsar o homossexual que vivia em mim desde pequeno.

Ora, passados bastantes anos, quando via que a coisa não estava a pegar para o meu lado num engate, costumava dizer: "Sabes uma cena? Eu ainda não me descobri sexualmente. Nunca estive com uma mulher como tu. Quer dizer, já dei uns amassos, mas não passou disso!". Isto é cocaína emocional para o cérebro de uma gaja e meio caminho andado para a comer.

E eu não tinha aprendido nada disto se não tivesse tido tantas amigas mulheres, ido jogar à bola todos os dias ou masturbar-me em grupo como aqueles heterossexuais dos meus colegas de escola.

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