— Olá, estás bom? Ainda bem que te vejo. Sabes, ontem encontrei aquele nosso amigo. O... o... Que raio de memória a minha!... Aquele que tem nome de prato.
— Ah, o Brás?
— Não, não é prato de bacalhau.
— O Bulhão?
— Não é desses pratos. É pequenino.
— O Joaquim? Jaquinzinho, como lhe chamamos.
— Não. É maior.
— O Sardinha?
— Não é isso, pá! Não é comida, é mesmo um prato. Um pratinho.
— Um pratinho como?
— Olha lá, o que é que vai bem com uma imperial?
— Hum... Tremoços, camarões, caracóis... Mas não temos nenhum amigo Tremoço. Nem Camarão ou Caracol.
— É quase isso. Em que vêm os caracóis para a mesa?
— Ah, já percebi. Encontraste o Travessa.
— Não. Olha, os tremoços, por exemplo. Como se servem?
— Como se servem os tremoços? Tu não estás bem.
— Deixa, já me lembrei. Ontem encontrei o nosso amigo Pires.
— Ah, sim. E falaram de quê?
— Falámos da mulher dele.
— Da mulh... e... e o que tem a mulher dele?
— Ele descobriu que ela tem amantes.
— A... a... sério? E ele sabe quem é o gajo? Espera aí... Amantes, no plural?
— Sim. Disse-me que a apanhou na cama com... com... ai a minha cabeça... Como se chama aquele bolo?
— Não me digas que foi com o brigadeiro.
— Não é isso. É outro bolo.
— Terá sido aquele queque do Nuno? Não acredito.
— É um bolo em camadas, pá. O que pedes sempre para sobremesa.
— Bolo de bolacha?!
— Isso, isso. Bolacha. O Pires apanhou a mulher na cama com a Maria.
— Com uma mulher?! Ah, que ela é uma ganda maluca já eu sabi... Olha lá, e de que mais amantes sabe ele? Algum... algum... hum... algum homem?
— Isso não me disse.
— Talvez sejam todas mulheres, então. Menos mal... E quem é essa Maria que também deve ser uma doida?
— É a mulher do... do... estou todo queimado para nomes, pá. Um gajo que anda a ser encornado por ela há anos. Toda a gente sabe. Hum... Olha, diz aí digestivos!
— Conhaque, brandy, aguardente, whisky...
— Não, não... Marcas.
— De que tipo de digestivo?
— Hum... Brandy, acho eu. Sabes que não percebo tanto de álcool como tu.
— Croft?
— Não, o gajo é português.
— Ah... A mulher do Macieira? Não posso crer. E eu que nunca desconfiei que ela fosse tão... tão... dada, digamos assim.
— Não, não.
— Bem, pelo que dizes, é um cornudo famoso aqui na vizinhança, mas não estou mesmo a ver quem é.
— Sim, um corno com uma fama que vem de longe.
— Desculpa lá, mas não me lembro de mais marcas de brandy.
— Porra, Constantino. Não me estás a ajudar nada.
Fernando Gomes
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