04 maio 2007

Bom fim de semana


Manhã cedo


Foto: Thomas Doering

Nota da (in)Gerência: a Mad hoje faz anos!

A medida dos pés


Há dias em que uma mulher precisa mesmo de fechar os olhos e fingir que é noite. Daquelas noites frias em que os pés precisam de aconchego, não havendo botija que chegue para elevar a temperatura porque esse calorzinho artificial começa por ser forte mas rapidamente se perde, sem fonte que o sustente.
Vêm-me sempre à ideia os pés do Emanuel. Não é que me fiquem recordações dos pés dos meus companheiros de cama, que os terminais são coisas de importância, sim, mas não é preciso descer tão baixo.
Naquele caso não fui eu que desci. Aconteceu por acaso, embora a intenção me estivesse fisgada nos olhos, pelo menos para confirmar aquele “diz-se que”.
Uma relação proporcional ao tamanho dos pés, dizia o Emanuel ao grupo de mulheres que gostavam de o ouvir dizer larachas, ali à mesa do café, nos intervalos do trabalhito. Sempre o mesmo, este Emanuel, rodeado de mulherio e de chocalho na boca a fingir que impressionava.
Coitado… teve o azar de trazer o assunto à conversa e depois ficou sem saber como dizer que não quando o convidei para uma confirmação empírica. O outro também dizia ser o nariz mais usado para essas analogias, mas tinha um narizito pequeno e bem feito. Estava tão à vista a evidência que a cobiça não se impôs.
Bem, a verdade é que assim que o Emanuel se pôs a jeito o meu olhar subiu, a partir dos pés, devagarinho, ante a perspectiva fantástica de uma noite a fazer-se dia, já com a promessa, pensava eu, de um Inverno aconchegado. Um ou mais, que vale a pena reter a presa se a carne é saborosa.
Resultados?Apenas a confirmação de uma matemática pouco desenvolvida naquela cabeça oca.
Por que será que os homens que mais falam são os menos interessantes?

Cuidado com os bicos piratas!

O Victor C. alertou-me há dias: "Vi uma t-shirt do faz-me um bico à venda na Wrong Shop em lisboa. Os gajos imitaram a tua ideia, é uma vergonha. Calçada do Sacramento, 25 - 1200-393 LISBOA - Tel. 213 433 197".
O Paulo M. contactou essa loja e confirmou que têm uma t-shirt que usa a minha ideia: "Nós temos essa t-shirt, mas ainda não prestamos o serviço de envio à cobrança. No entanto, experimente contactar a marca Wonder, que fornece essa t-shirt e parece-me que enviam para outros pontos do país. Aqui vai a [foto da] dita t-shirt e a sua embalagem - um ovo de plástico - contendo ainda um crachá com o mesmo motivo. Tamanhos S, M, L e XL. As cores disponíveis na loja são amarelo, laranja e azul-céu, com o desenho a preto, mas podem conseguir-se outras cores mediante encomenda. O preço é de 25 €". 25 €?! E não têm nem o material nem o trabalho do lápis verdadeiro?!...
Ele contactou a Wonder e obteve mais informações: "O preço é de 25 euros mais portes (2,25 euros), mas não enviamos à cobrança. Pedimos que faça uma transferência bancária e após confirmação (que pode enviar por fax ou e-mail), enviaremos a t-shirt. Em anexo enviamos foto da t-shirt para visualizar".
Reparem no detalhe do copyright e da marca registada nesta segunda foto! Um dia destes vou ter que fazer como outras marcas que são copiadas: «Faz-me um bico original!»

03 maio 2007

Coincidência - por Alcaide

"Escrevi esta coisinha «à laia da Maria Árvore» porque gosto muito do que ela escreve. E da sua perseverança como lutadora pela liberdade da mulher (com exageros... claro).
E como são mais as mulheres a «postar» destas coisas, pensei enviar-te a minha réplica. Se achares de interesse publica e arranja uma foto engraçada que se relacione. Se não achares de interesse, ao menos sorri, e esse sorriso será a minha paga.
Saúde e que Deus te guarde,
Alcaide"

Um dia destes encontrei alguém que, durante uma chávena de café, me olhava fixamente para as calças e começou a falar de blogs e Net. Notava-se um ardor e uma voz meio rouca ou engasgada, que pensei ser de excesso de cafeína e tabaco ou desejo de arrumar algum vinco que fitava como apreciadora do meu óptimo corte de calças. Pena nem se interessar por me olhar de frente!

Tentei arrumar o assunto… e quase os seus olhos saíam das órbitas. Imaginei-a técnica de diagnóstico, parecendo um raio-x na imaginação de um vinco naquela zona… Brinquei com uma imagem de anatomia. Devia imaginar coisas que estariam demasiado bem tratadas, sem necessidade de medicação, apenas um redobrado cuidado ao “pousar a chapa”…Vinco só cruzando as pernas… Concordo que exagerei, até porque senti crescer curiosidade, que no meu caso já nem é tão comum, mas não devia ser o motivo que a fez levantar-se com um ar de técnica de radiografias… ou como técnica de design de calças no desemprego e como tal distraída, que nem a piada percebeu, saindo sem pagar a bica!

Prometeu reencontro, mas soube a café queimado aquele que me trouxe a coincidência de umas calças e um desespero de as olhar. E eu que ando tão calmo com o meu novo par de calças! Não volto a cruzar as pernas com mulheres que as fitem! E não paguem o café. E não tenham sentido de humor!

Alcaide

Mais dois desenhos originais para a minha colecção

Conheci o Germán Gállego, um jovem de Barcelona com 26 aninhos, através do seu blog Ger-Man Drawings.
Gostei de alguns dos seus desenhos e contactei-o para saber se me podia vender algum dos seus trabalhos originais.
Escolhi dois desenhos dele feitos numa folha A4, sem me aperceber que eram uma página de uma aventura em banda desenhada para o número 8 de uma fanzine, «TVOh!» (de que amavelmente me ofereceu um exemplar) e que também tem um blog.
Aqui estão as páginas onde aparecem os dois desenhos que eu comprei:

E aqui estão os desenhos originais (sem as legendas, que são colocadas só na edição da revista):

Como me soube a pouco, perguntei-lhe se não poderia fazer um desenho numa técnica que admirei nele e que me explicou chamar-se grattage: "consiste en rascar sobre una plancha negra. Debajo del negro hay como un yeso blanco que es lo que sale a la superficie. En realidad es bastante sencillo pero tienes que dibujar pensando al revés, es decir sacando las luces y no las sombras como se hace habitualmente. Puedes encontrar planchas de grattage en cualquier tienda de material artístico por si te interesa, allí también puedes pedir cuchillas para rascar la plancha".
Sugeri-lhe um cruzamento de um desenho que ele tinha feito com o logotipo da funda São. O resultado é um mimo (aqui nem dá para apreciar a técnica e o detalhe deste trabalho):
Disse-me ele: "Bueno espero que esa colección tuya sea algún dia museo. Si necesitas cualquier cosa no dudes en ponerte en contacto conmigo".
Saludos eroticos de Portugal, Germán !

CISTERNA da Gotinha





Snif... snif... deixa cá ver se cheira bem...

Esperma mais saboroso:
uma fórmula de um complemento alimentar. A invenção está actualmente no mercado na forma de bebida. Uma vez ingerido, o produto muda o sabor do esperma por um período de aproximadamente 24 horas.

Alguém quer dar uma voltinha de Mercedes?

O portfolio do fotógrafo Morten Laursen é carregadinho de sensualidade.

Quem quer matar saudades da praia e dos
bikinis?!

Astróloga Genital

Mais informações aqui


















Outras Coisas

02 maio 2007

Lamechice eminente


A arquitectura do edifício fê-lo balançar e os monitores tremelicaram mais as putas daquelas plantinhas altas e vistosas que por uma carga de água qualquer é habitual invadirem a selva dos open space. Entreoalhámos-nos de vistas arregaladas a balbuciar em coro tremor de terra.

Instintivamente peguei-lhe a mão e arrastei-o para debaixo das secretárias metálicas que nos obrigavam a sentar em posição de lótus, mais coisa menos coisa. Aquela semiobscuridade destacava mais o brilho dos seus olhos mas a interrogação pendurada nas suas sobrancelhas fez-me sossegá-lo que numa hora daquelas não lhe pediria sexo tântrico, sobretudo porque não sabia se o tempo do abalo daria para isso. Riu-se mas na sua habitual lucidez lembrou que havia sempre a hipótese de morrermos. Levei o polegar à boca para debicar as palavras seguintes em que aventei que se assim é, nada melhor que o lema do ISCTE, como é que é, como é que é, conas abertas, caralhos em pé. Desmanchou-se-lhe a compostura e riu-se regateando que naquela situação estava com o pénis dormente. Ergui ambas as mãos num aceno de limpa-vidros a exibir dez dedos e as suas mãos agarraram-nos todinhos em concha e o filho da mãe do sismo teve de parar naquele minuto para denunciar a minha tremura.

As pálpebras tinham-lhe achinesado o olhar dengosamente e aliviada nesse retrato disse-lhe para ficar ali à minha beira para a terra tremer outra vez.

Dicionário ilustrado C. Orno Manso


Aprovar, consentir, permitir, tolerar.

Aprova-se uma coisa quando dela se faz juízo favorável, quando se acha digna de louvor e estima, quando se lhe dá valor e estima, quando se lhe dá voto; consente-se uma coisa quando a ela se aquiesce, ou se condescende a que se faça; permite-se um acto quando se autoriza por um consentimento formal; toleram-se as coisas quando conhecendo-as e tendo o poder, se não impedem. – Aprovamos o que temos por bom e meritório; consentimos o que nos não repugna, mas que talvez quiséramos evitar; as leis humanas nunca devem permitir o que as divinas proíbem, porém proíbem às vezes o que elas permitem; (…)

ROQUETE, J.I., O.F.M. 1885: 73

crica para visitares a página John & John de d!o

01 maio 2007

As noites claras III

por Charlie

... Amo-te como nunca amei mulher alguma...
Guardou a nota de duzentos €uro, dada pelo cliente da noite anterior, novamente na bolsa do telemóvel e continuou crescendo para o dia. Narciso a cobrir-se de folhas e pétalas diante do espelho, terminando por dar, em passo de dança, uma volta completa em frente dele seguindo a imagem, uma vez finalizada a toilette em toques suaves de maquilhagem.
Saiu do quarto em direcção à sala. Em cima da mesa estava um papel estrategicamente colocado ao canto da mesma de forma que ela o pudesse ver quando se deslocasse para a porta da rua. Tinha um recado escrito por ele, qualquer coisa a dizer que traria algo para almoçarem juntos.
Experimentou aquela velha mas sempre estranha sensação. Um misto de emoções complexas, controversas. Atravessadas pelos fantasmas dos sorrisos das descobertas da adolescência, alternando as clareiras de sol com névoas já esgotadas e secas de amargura.
Lembrou-se novamente destes últimos meses. Desde a noite em que o conhecera e dos dias seguintes. E dos outros e outros que se lhe seguiram. Das suas juras de amor eterno e incondicional. Da inquietação que lhe angustiara a alma perante a intensidade da paixão, entrega e doçura daquele homem.
A verdade é que se sentira com ele de novo no princípio, nos anos da magia, embora mantivesse o sentimento sob uma capa de cinza parca e apenas morna. Deixou o coração só levemente aflorar o desejo que todos temos de nos entregar sem limites à fogueira dum grande amor na infinita paixão da primeira vez.
Contudo, ela acumulara todas as experiências que acabam por moldar e endurecer o carácter de quem faz da vida o seu modo de vida.
Surgia-lhe diante dos olhos lembranças dos caminhos percorridos.
Inicialmente perdendo-se pelos desvios, atalhos terminando em becos, que derivam das ingenuidades de principiante. Das paixões intensas dos primeiros tempos, estrelas brilhantes que se desfaziam em céus de nada, desilusões e mágoas. Dos homens que lhe haviam jurado a Eternidade e a Lua esfumando-se depois na esteira dum cigarro. Dos que a haviam agredido, das taras e manias e dos tristes e impotentes. Dos pais de família que acabavam por mostrar as fotos da mulher e filhos que traziam na carteira e que a faziam sentir-se mal, enojada consigo própria por aflorar uma estória que não era dela. Da sensação da alma trocada por um prato de lentilhas. Por tudo isto passou, vencendo etapas, circulares e concêntricas, fechando o coração cada vez mais atrás de cada sorriso estudado e de efeito conseguido.
Até arrefecer de um todo com o tempo, até tornar-se indiferente à partilha das emoções. Até ser só ela, afinal e por fim, o centro do mundo, o único ser vivo que importava à face da Terra, abocanhando o viver perigoso como o peixe em vertigem morde o ar em saltos de queda livre fora de água.
Ela dissera-lhe isto diversas vezes, tentando dissuadi-lo.
Afirmara-lhe então que tudo não passava de uma ilusão e que já não tinha espaço para amar e estabelecer laços de afecto com mais ninguém. Dissera-lhe em tom frio que jamais poderia ser de um homem só. Que não queria prisões e que vivia só para ela. Que era a única forma de não ficar a sofrer; a sua defesa. Que a esquecesse. Que ele não passava dum cliente como tantos outros. Um mais entre tantos que se tinham apaixonado por ela e que tão pronto arrefecesse a chama que o enlouquecia, deixa-la ia como os outros num passeio qualquer passando para a puta seguinte.
Mas ele, passando por todas as provas a que uma mulher pode sujeitar um homem, acabara por conseguir que viesse viver consigo.
- Vem! – Dissera com os olhos rasos de lágrimas. – Amo-te! Amo-te como nunca amei mulher alguma. Vem viver comigo. Gosto de ti como és, e nunca te imporei nada. És livre para fazer o que quiseres. Só preciso de sentir-te junto a mim. Cuidar de ti, dar-te o meu calor nas noites de descanso. Afogar-te em amor. Ver-te nas manhãs e…-

Acabou por vir terminar primeiro algumas noites em casa dele, um porto de abrigo e mais tarde deixou-se ficar embora tivesse mantido o seu apartamento próprio onde repousava de vez em quando; o seu reduto de solidão. Soubera-lhe bem ao início ter este homem que cuidava dela. Respondia à sua dedicação com momentos fugazes e, de longe em longe, a partilha de um ou outro dia de descanso em que ele regozijava com a graça concedida de tê-la só para si...

Afastou o pensamento e deu um último toque no seu aspecto ao espelho do bar ao canto da sala. Sob uma outra luz, a maquilhagem parecia-lhe agora um pouco desequilibrada. Retocou, rodando a face enquanto os olhos seguiam fixos a imagem reflectida.
Voltou a ler o bilhete, inspirou fundo, e saiu para o dia a transbordar de azul.
O Verão estaria aí, não tardaria.
Ligou o telemóvel e marcou um número, desligando quase de seguida, elevando os olhos.
Ao cimo da rua o Mercedes cor de prata descia devagar. Acenou com os óculos de sol e apressou o passo, toda tomada de um sorriso aberto e cheio de luz.
Era ele, o novo cliente…