"Estávamos num vigésimo segundo andar ao final da tarde, e nenhum outro prédio das redondezas era tão alto quanto este. Uma das paredes da casa-de-banho, como aliás a de outras divisões da casa, era totalmente envidraçada. Noutra parede, perpendicular à vidraça, existia um espelho que acompanhava toda a parede até à porta, e, abaixo dele, uma bancada de pedra negra, ampla, com dois lavatórios próximos e dois copos de vidro. Em pé, apoiado na bancada, observava os pequenos sabonetes e um pincel de barba.
A ausência de prédios próximos com a mesma altura, e o facto de os pisos no topo terem superfícies envidraçadas, retira a necessidade de reserva. Naquele duche podem tomar-se banhos prolongados com o sol a beliscar a nudez, pode passear-se por toda a casa sem que a roupa seja necessária, pode ler-se um livro junto ao vidro, olhando o resto da cidade, como se se estivesse sozinho no mundo. Ninguém vê.
Ninguém te viu entrar. Traiu-te o barulho de chaves pousadas sobre loiça numa pequena prateleira junto à porta de entrada. O som de saltos no pavimento foi discreto, quando te aproximavas de um roupeiro onde deixaste um casaco comprido. A mala atiraste para o longo sofá com vista para a cidade e uma avenida que se projectava distante e perpendicular à fachada envidraçada daquele apartamento. Sentaste-te numa parte dele e depois deslizaste até à chaise longue. Arranjaste o cabelo ao mesmo tempo que um pé empurrava primeiro um sapato para o chão, e depois o outro. Desapertaste a blusa que vestias botão por botão, deixando-a vestida mas com o soutien rendado visível, através do qual havia um vislumbre de mamilos bem desenhados.
Ouviste-me, por fim, dentro da casa de banho, quando a torneira da água foi aberta, e a lâmina se limpava dos pêlos de uma barba desfeita. Rolaste no sofá até te ergueres, soltando o colchete e deslizando o fecho que segurava a saia lápis no seu lugar. Caiu, sem amparo, no chão. Sem ruído e sem queixume, não muito longe dos sapatos. Eras tu, de blusa aberta e renda arejada como que deslizando até à porta de onde eu estava, apenas para me provocar enfiando um dedo entre a tua carne e o tecido que te cobria a genitália, descendo-o lentamente, passando o joelho, tombando também. Estavas a pouca distância de nua. E, rodando, viravas-me as tuas nádegas num convite, como quem me pergunta se já tinha almoçado naquele dia, se tinha fome, se estava interessado numa sobremesa e café.
Disse-te que sim, perseguindo-te pelo espaço, enquanto me fugias em direcção ao sofá. Detiveste-te nas costas dele, parada de costas para mim. Costas, as tuas, que inclinaste em frente, deixando-me um caminho aberto, umas pernas ligeiramente afastadas e nádegas que ofereciam visão e espaço para uma invasão. Disse-te que sim, que uma sobremesa e um café seriam boa ideia, e penetrei-te repetidamente, sem pensar no sofá que se marcava com os nossos odores, sem pensar em mais nada. Ejaculei profundamente dentro de ti, enquanto te segurava as mãos, puxando os teus braços atrás das costas. Quando as larguei, julgo que estavas sem forças. Deixaste-te cair, e eu também, rodando até me sentar ao teu lado.
Num mundo sem consequências terias sido fodida assim, mas no mundo que existe, fiquei de mãos assentes na bancada de pedra escura, segurando com pouca firmeza uma lâmina, a cara ainda coberta de espuma, dois copos de vidro por usar e um pincel da barba molhado. Com o meu olhar na água que corria e o calor do sol que entrava e me banhava a nudez, pensava na sobremesa e no café, nas mãos presas atrás das costas, nas penetrações profundas, e nos acidentes de que tentamos fugir."
João
Geografia das Curvas
24 agosto 2012
Kruzes, Kredo!
Pode parecer estúpido mas não é,
sobretudo quando se está na minha pele.
Aqui há dias reparei num sms trocado
entre dois jovens coisos agarrados a jovens pilas e para meu horror
vi lá escrita por diversas vezes uma palavra nova e que, confesso,
me custou a admitir que queira dizer o mesmo que a outra.
Cada coiso ou coisa agarrados a nós
sente-se no direito ao respeito pela sua sensibilidade mas
dificilmente encontram naquele monte de coisas estranhas uma zona
mais sensível do que a nossa, a zona erógena. Por isso mesmo não
me inibo de manifestar o meu desagrado pela forma como os coisos
pequenos adulteram (isto soa bizarro, eu sei) a língua sem
necessidade alguma e sem respeito pela forma como isso pode afectar
uma piroca no âmago do seu ser.
A palavra que me chocou é kona. Até
me custa olhar esta monstruosidade que associa à imagem de algo belo
uma outra que a transforma num pesadelo e eu posso explicar porquê.
A palavra cona, a que os jovens coisos
se referiam, não é um termo feliz, isso posso admitir, e só ganhou
popularidade por apesar do estatuto de palavrão acabar por ser uma
opção mais razoável do que o termo institucional vagina.
Porém, cona é uma palavra inspiradora
até nas letras que a formam, nomeadamente aquele ó tão apetecível
que nos permite uma ligação mental directa a um espaço paradisíaco
e sem o qual nenhuma pila como eu conseguiria sobreviver, pelo menos
com a mesma vitalidade que gosto de louvar. Sim, os coisos agarrados
à nós convencionaram que cona não se pode dizer ou não se deve
dizer embora ande na boca de muita gente e disso não falo por
interposta piroca, sou testemunha.
Contudo, essa palavra para mim tão
apelativa sofre uma mutação tão horrível como se de repente os
coisos agarrados a nós passassem a ter lâminas de barbear entre as
pernas em vez de pirocas magníficas como a que coube em sorte ao
coiso agarrado a mim,
Kona parece ser a mesma coisa, soa
parecido e tudo, mas há a tal questão de pormenor (e o diabo está
sempre nos pormenores) que parece irrelevante para as coisas e os
coisos mas para uma pila não é, pois transforma um espaço seguro e acolhedor numa guilhotina imaginária..
Bastam dois dedos de prepúcio para
perceber que é um insulto associar à palavra mais bonita do
Universo a letra mais insuportável do alfabeto! Qualquer pila
percebe porquê.
E a de um tal de Lorenzo Bobbit pode
explicar com maior detalhe...
São Rosinhas!...
Recebo regularmente informação sobre as novidades da malta amiga da Erosfarma.
Desta vez, chamou-me a atenção um "adorno mamilo Rosinhas vermelho". Que bela homenagem me fazem!...
Alguma alma caridosa me quererá oferecer isto? Eu juro que uso (na minha colecção)!
Desta vez, chamou-me a atenção um "adorno mamilo Rosinhas vermelho". Que bela homenagem me fazem!...
Alguma alma caridosa me quererá oferecer isto? Eu juro que uso (na minha colecção)!
23 agosto 2012
A origem da menstruação
(De uma fábula inédita de Ovídio, achada nas escavações de Pompeia e vertida em latim vulgar por Simão de Nântua.)
’Stava Vénus gentil junto da fonte
Fazendo o seu pentelho,
Com todo o jeito, p’ra que não ferisse
Das cricas o aparelho.
Tinha que dar o cu naquela noite
Ao grande pai Anquises,
O qual, com ela, se não mente a fama,
Passou dias felizes...
Rapava bem o cu, pois resolvia
Na mente altas ideias:
– Ia gerar naquela heróica foda
O grande e pio Eneias.
Mas a navalha tinha o fio rombo,
E a deusa, que gemia,
Arrancava os pentelhos e, peidando,
Caretas mil fazia!
Nesse entretanto a ninfa Galateia,
Acaso ali passava,
E vendo a deusa assim tão agachada,
Julgou que ela cagava...
Essa ninfa travessa e petulante
Era de génio mau,
e por pregar um susto à mãe do Amor
Atira-lhe um calhau...
Vénus se assusta. A branca mão mimosa
Se agita alvoroçada,
E no cono lhe prega (oh! caso horrendo!)
Tremenda navalhada.
Da nacarada cona, em subtil fio,
Corre purpúrea veia,
E nobre sangue do divino cono
as águas purpureia...
(É fama que quem bebe dessas águas
Jamais perde a tesão
E é capaz de foder noites e dias,
Até no cu de um cão!)
– “Ora porra” – gritou a deusa irada,
E nisso o rosto volta...
E a ninfa, que conter-se não podia,
Uma risada solta.
A travessa menina mal pensava
Que, com tal brincadeira,
Ia ferir a mais mimosa parte
Da deusa regateira...
– “Estou perdida!” – trémula murmura
A pobre Galateia,
vendo o sangue correr do róseo cono
Da poderosa deia...
Mas era tarde! A Cípria, furibunda,
Por um momento a encara,
E, após instantes, com severo acento,
Nesse clamor dispara:
“Vê! Que fizeste, desastrada ninfa,
Que crime cometeste!
Que castigo há no céu, que punir possa
Um crime como este?!
Assim, por mais de um mês inutilizas
O vaso das delícias...
E em que hei de gastar das longas noites
As horas tão propícias?
Ai! Um mês sem foder! Que atroz suplício...
Em mísero abandono,
Que é que há de fazer, por tanto tempo,
Este faminto cono?...
Ó Adónis! Ó Júpiter potentes!
E tu, Mavorte invito!
E tu, Aquiles! Acudi de pronto
Da minha dor ao grito!
Este vaso gentil que eu tencionava
Tornar bem fresco e limpo
Para recreio e divinal regalo
Dos deuses do Alto Olimpo.
Vêde seu triste estado, ó! Que esta vida
Em sangue já se esvai-me!
Ó Zeus, se desejais ter foda certa
Vingai-vos e vingai-me!
Ó ninfa, o cono teu sempre atormente
Perpétuas comichões,
E não aches jamais quem nele queira
Vazar os seus colhões...
Em negra podridão imundos vermes
Roam-te sempre a crica
E à vista dela sinta-se banzeira
A mais valente pica!
De eterno esquentamento flagelada,
Verta fétidos jorros,
Que causem tédio e nojo a todo mundo,
Até mesmo aos cachorros!”
Ouviu-lhe estas palavras piedosas
Do Olimpo o Grão Tonante,
Que em pívia ao sacana do Cupido
Comia nesse instante...
Comovido no íntimo do peito,
Das lástimas que ouviu,
manda ao menino que, de pronto, acuda
À puta que o pariu...
Ei-lo que, pronto, tange o veloz carro
De concha alabastrina,
Que quatro aladas porras vão tirando
Na esfera cristalina.
Cupido que as conhece e as rédeas bate
Da rápida quadriga,
Co’a voz ora as alenta, ora co’a ponta
Das setas as fustiga.
Já desce aos bosques, onde a mãe, aflita,
Em mísera agonia,
Com seu sangue divino o verde musgo
De púrpura tingia...
No carro a toma e num momento chega
À olímpica morada,
Onde a turba dos deuses, reunida,
A espera consternada!
Já Mercúrio de emplastros se a aparelha
Para a venérea chaga,
Feliz porque naquele curativo
Espera certa a paga...
Vulcano, vendo o estado da consorte,
Mil pragas vomitou...
Marte arranca um suspiro que as abóbadas
Celestes abalou...
Sorriu o furto a ciumenta Juno,
Lembrando o antigo pleito,
E Palas, orgulhosa lá consigo,
Resmoneou: – “Bem-feito!”
Coube a Apolo lavar dos roxos lábios
O sangue que escorria,
E de tesão terrível assaltado,
Conter-se mal podia!
Mas, enquanto se faz o curativo,
Em seus divinos braços,
Jove sustém a filha, acalentando-a
Com beijos e com abraços.
Depois, subindo ao trono luminoso,
Com carrancudo aspeto,
E erguendo a voz troante, fundamenta
E lavra este DECRETO:
– “Suspende, ó filha, os lamentos justos
Por tão atroz delito,
Que no tremendo Livro do Destino
De há muito estava escrito.
Desse ultraje feroz será vingado
O teu divino cono,
E as imprecações que fulminaste
Agora sanciono.
Mas, inda é pouco: – a todas as mulheres
Estenda-se o castigo
para expiar-te o crime que esta infame
Ousou para contigo...
Para punir tão bárbaro atentado,
Toda humana crica,
De hoje em diante, lá de tempo em tempo,
Escorra sangue em bica...
E por memória eterna chore sempre
O cono da mulher,
Com lágrimas de sangue, o caso infando,
Enquanto mundo houver...”
Amém! Amém! com voz atroadora
Os deuses todos urram!
E os ecos das olímpicas abóbadas,
Amém! Amém! sussurram.
Bernardo Guimarães (1825-1884)
’Stava Vénus gentil junto da fonte
Fazendo o seu pentelho,
Com todo o jeito, p’ra que não ferisse
Das cricas o aparelho.
Tinha que dar o cu naquela noite
Ao grande pai Anquises,
O qual, com ela, se não mente a fama,
Passou dias felizes...
Rapava bem o cu, pois resolvia
Na mente altas ideias:
– Ia gerar naquela heróica foda
O grande e pio Eneias.
Mas a navalha tinha o fio rombo,
E a deusa, que gemia,
Arrancava os pentelhos e, peidando,
Caretas mil fazia!
Nesse entretanto a ninfa Galateia,
Acaso ali passava,
E vendo a deusa assim tão agachada,
Julgou que ela cagava...
Essa ninfa travessa e petulante
Era de génio mau,
e por pregar um susto à mãe do Amor
Atira-lhe um calhau...
Vénus se assusta. A branca mão mimosa
Se agita alvoroçada,
E no cono lhe prega (oh! caso horrendo!)
Tremenda navalhada.
Da nacarada cona, em subtil fio,
Corre purpúrea veia,
E nobre sangue do divino cono
as águas purpureia...
(É fama que quem bebe dessas águas
Jamais perde a tesão
E é capaz de foder noites e dias,
Até no cu de um cão!)
– “Ora porra” – gritou a deusa irada,
E nisso o rosto volta...
E a ninfa, que conter-se não podia,
Uma risada solta.
A travessa menina mal pensava
Que, com tal brincadeira,
Ia ferir a mais mimosa parte
Da deusa regateira...
– “Estou perdida!” – trémula murmura
A pobre Galateia,
vendo o sangue correr do róseo cono
Da poderosa deia...
Mas era tarde! A Cípria, furibunda,
Por um momento a encara,
E, após instantes, com severo acento,
Nesse clamor dispara:
“Vê! Que fizeste, desastrada ninfa,
Que crime cometeste!
Que castigo há no céu, que punir possa
Um crime como este?!
Assim, por mais de um mês inutilizas
O vaso das delícias...
E em que hei de gastar das longas noites
As horas tão propícias?
Ai! Um mês sem foder! Que atroz suplício...
Em mísero abandono,
Que é que há de fazer, por tanto tempo,
Este faminto cono?...
Ó Adónis! Ó Júpiter potentes!
E tu, Mavorte invito!
E tu, Aquiles! Acudi de pronto
Da minha dor ao grito!
Este vaso gentil que eu tencionava
Tornar bem fresco e limpo
Para recreio e divinal regalo
Dos deuses do Alto Olimpo.
Vêde seu triste estado, ó! Que esta vida
Em sangue já se esvai-me!
Ó Zeus, se desejais ter foda certa
Vingai-vos e vingai-me!
Ó ninfa, o cono teu sempre atormente
Perpétuas comichões,
E não aches jamais quem nele queira
Vazar os seus colhões...
Em negra podridão imundos vermes
Roam-te sempre a crica
E à vista dela sinta-se banzeira
A mais valente pica!
De eterno esquentamento flagelada,
Verta fétidos jorros,
Que causem tédio e nojo a todo mundo,
Até mesmo aos cachorros!”
Ouviu-lhe estas palavras piedosas
Do Olimpo o Grão Tonante,
Que em pívia ao sacana do Cupido
Comia nesse instante...
Comovido no íntimo do peito,
Das lástimas que ouviu,
manda ao menino que, de pronto, acuda
À puta que o pariu...
Ei-lo que, pronto, tange o veloz carro
De concha alabastrina,
Que quatro aladas porras vão tirando
Na esfera cristalina.
Cupido que as conhece e as rédeas bate
Da rápida quadriga,
Co’a voz ora as alenta, ora co’a ponta
Das setas as fustiga.
Já desce aos bosques, onde a mãe, aflita,
Em mísera agonia,
Com seu sangue divino o verde musgo
De púrpura tingia...
No carro a toma e num momento chega
À olímpica morada,
Onde a turba dos deuses, reunida,
A espera consternada!
Já Mercúrio de emplastros se a aparelha
Para a venérea chaga,
Feliz porque naquele curativo
Espera certa a paga...
Vulcano, vendo o estado da consorte,
Mil pragas vomitou...
Marte arranca um suspiro que as abóbadas
Celestes abalou...
Sorriu o furto a ciumenta Juno,
Lembrando o antigo pleito,
E Palas, orgulhosa lá consigo,
Resmoneou: – “Bem-feito!”
Coube a Apolo lavar dos roxos lábios
O sangue que escorria,
E de tesão terrível assaltado,
Conter-se mal podia!
Mas, enquanto se faz o curativo,
Em seus divinos braços,
Jove sustém a filha, acalentando-a
Com beijos e com abraços.
Depois, subindo ao trono luminoso,
Com carrancudo aspeto,
E erguendo a voz troante, fundamenta
E lavra este DECRETO:
– “Suspende, ó filha, os lamentos justos
Por tão atroz delito,
Que no tremendo Livro do Destino
De há muito estava escrito.
Desse ultraje feroz será vingado
O teu divino cono,
E as imprecações que fulminaste
Agora sanciono.
Mas, inda é pouco: – a todas as mulheres
Estenda-se o castigo
para expiar-te o crime que esta infame
Ousou para contigo...
Para punir tão bárbaro atentado,
Toda humana crica,
De hoje em diante, lá de tempo em tempo,
Escorra sangue em bica...
E por memória eterna chore sempre
O cono da mulher,
Com lágrimas de sangue, o caso infando,
Enquanto mundo houver...”
Amém! Amém! com voz atroadora
Os deuses todos urram!
E os ecos das olímpicas abóbadas,
Amém! Amém! sussurram.
Bernardo Guimarães (1825-1884)
Thomas Karsten - A concha de Vénus
blog A Pérola
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«Quem desdenha quer pinar» - Patife
Patife
Blog «fode, fode, patife»
Desejos na Solidão das Horas & Confissão
Confissão IV
Há sempre dentro do peito
Uma verdade escondida
Um sonho desfeito
Uma alma ferida
Há horas de desespero
Lágrimas que não se contêm
Algo de tão verdadeiro
Que não se mostra a ninguém
Há sempre em cada peito
Um secreto alçapão
Que nunca pode ser desfeito
Nem mesmo em confissão
É algo de que não se fala
Que se enterra bem fundo
E tudo o que o coração cala
Nunca vê a luz do mundo
Mas mói a alma por dentro
Num rendilhado tão fino
Seca-a tira-lhe o alento
E esconde-lhe o destino
A pobre coitada vagueia
Á toa sem se deter
Por todo o lado passeia
Ninguém a pode entender
É assim que eu me sinto
Sem ter com quem falar
Se falo pareço que minto
Se não falo, vou rebentar…
____________________________________
Há várias maneiras de estar só e de sentir a solidão, estas duas são duas das possíveis.
Num diálogo interior ou num fechar de olhos imaginando ou fantasiando realidades alternativas, explorando desejos e fantasias a "solo"...
PS: Mais trabalhos meus podem ser visitados, comentados e quem sabe, admirados em:
aminhagaleriavirtual.blogspot.com
Não é fácil ser escocês
A vida pode ser muito complicada.
Entra em qualquer uma e reza para ver uma ruivinha pelada.
Capinaremos.com
Entra em qualquer uma e reza para ver uma ruivinha pelada.
Capinaremos.com
22 agosto 2012
salmão
{SALMÃO, entre as forma poliglotas da língua se desabotoa no rio aceso, descendo, entre os esquadros, continuamente, na fraseologia HÚMIDA, incerta nas cavidades a descobrir }
A PELE se dependura, animal, na gaze a língua, SALMÃO, fecunda e viajante...
Treme o sangue a roçar a crispação que se lambe num enxame, nos mamilos, em osmose. Os SEIOS e a seda dança, crespa, selvagem, múltipla, luxuosa e eu SORVO-ME neles. Isolando os prados em prantos, gemeres abismais exitados, esfuziantes, que na respiração se exibem, líquenes. Obturada a mão MUSA acende a estrela e a massa cravada a recebe em movimento. Fica assim. Gulosa na dança pelas roupas e a nudez. Duplamente CORPO e remoinho…
Nos lugares opacos a carne fica iluminada!
Os DEDOS inventam imperscrutáveis sílabas. Narinas e curvas tensas numa fronte de beleza em labaredas e uma ABERTURA salgada se desfralda em citadinas avenidas de prazer. Os bífidos sentidos onde os teoremas se ajoelham e rendem em pistas marítimas, dorsos onde as COXAS põe a luzir as falanges: onde o meu sal se deita, cresce e aloja essa força que trago dentro de mim, nua, em quadris que tua boca expele transpira, húmida como a escrita em carne, SALMÃO, respira e transpira desde o fundo da página ao grito que se despenha e se entorna na água QUENTE que transborda de onde me arranco o DENTRO e escrevo. As palavras em sexo e as VAGINAS furiosamente ENTORNADAS nesta página, radiando o que na mente ARDE e nos lembrares treme.
Paragens gráficas o SALMÃO desce, no meio cresce. Sei que toco o desvastador, em sinos que desmaiam as raias, a braçada quente. Beijo-te por dentro. A BOCA no chão. O branco da matéria deixando-nos em BRASA os LÁBIOS, na sagacidade dos sítios, e o incêndio não sabe que estás algures na paisagem que ergues em múltiplas tragadas, na VULVA alta, alimento, pura. Tremendo no meu mundo ou no aroma aterrada a colher rotativa a substancia primária. Delicada. Tão ABERTA que apanha toda a rósea LÍNGUA dentro no SEXO desabrochada.
A bexiga planta e discursa laços, acolhimentos, corpúsculos nas vertingens agora poltronas do meu, do nosso, SALMÃO em total desalinho, perto do Porto. ONDE o rebuço ruge agudo os rasgões de LANHA em LANHA.
A choupa pulsa o umbigo. Redondo. A conjuntura chupando um CLITÓRIS, femenino, a carne em círculos debruçada. Brilha, Branco o TESÃO, côncavo grita, geme relâmpagos entre o óleo táctil, no profundo das águas ardentes, o HAUSTO idioma e as efervescências hieroglíficas_____________________ENTRANDO.
«locutora» - bagaço amarelo
É verdade que nunca a cheguei a ver, mas também é verdade que ela me fez perceber uma das muitas coisas que um homem procura numa paixão: um abrigo. Durmo sempre com a persiana corrida, deixado os seus buracos abertos. Desta forma, todas as manhãs a luz do Sol vai entrando devagar no quarto, como se tivesse que pedir licença para me vir despertar dum sono bom. Nesse momento não sei como está o mundo lá fora. Talvez haja uma revolução, talvez um acidente na rua tenha feito vítimas mortais, talvez dois homens se agridam um ao outro depois de um desentendimento no trânsito. Nunca me interessou. Dentro do meu quarto, por aqueles dias, a voz dela era o meu mundo e dizia-me que estava tudo bem. Ela também gostava dessa ténue luz que me espreitava, e depois punha uma música a condizer Só para mim.
Senti a falta dela quando, por causa do meu horário de trabalho, passei a acordar mais tarde. Durante alguns dias, por não a sentir perto de mim, levantava-me ainda ensonado e passava o resto dos dias a dormir em pé. Alguma coisa estava mal comigo, e demorei tanto a curar a falta dela como se fosse um outro Amor qualquer. Mas, claro, como se fosse outro Amor qualquer, lá acabei por passar a ressaca.
Hoje acordei mais cedo do que o costume e foi dela a primeira voz que ouvi. "Se ainda está no vale dos lençóis, fique a saber que tem mais sorte do que eu, e aproveite para ouvir esta música ainda de olhos fechados", disse. Eu fechei os olhos e ouvi-a.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
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