06 agosto 2013

«Escrita» - Susana Duarte


escrevo suor em folhas de papel
e detenho as cores nos olhos de mar


derreto águas sobre o papel dos sonhos
e reajo ante a sonora invasão dos rios agitados


onde a alma se revê, renasce, escreve, habita, é.


derreto as névoas intemporais do sonho
e habito-te, na serena calada da noite,
véspera de todas as manhãs, amplitude
de todas as cores que ainda serás no peito.


Susana Duarte
Blog Terra de Encanto
Pintura de Margarida Cepêda

Lucia Casati - «Nudo erotico»

Óleo sobre tela - 2000? - 90x61cm
Como adoro a língua dos italianos (e das italianas), deixo aqui o texto explicativo original desta belíssima pintura da minha colecção:
"Lucia Casati (Emilia Romagna, 1939 – Firenza, 2004) è stata una pittrice italiana. Di origine romagnola, si iscrisse inizialmente all' Accademia delle Belle Arti di Bologna. Ottenuta una borsa di studio, si trasferì a Parigi e poi Firenze dove eserciterà la sua attività artistica fino alla morte. Nel 1967 è presente all´Esposizione Universale di Parigi. L’anno seguente viene organizzata a Venezia una sua mostra retrospettiva che si ripete nel 1970. Con questi quadri luminosi partecipa alle mostre nazionali e internazionali dove riscuote un grande successo di pubblico. I quadri in esami, possono essere considerati le finestre sulla realtà, una realtà lontana nel tempo, che l’artista comprende umanamente, la vive, la subisce, perché i suoi sentimenti vanno oltre il muro della semplice analisi del tela.
Le suoi passioni, le miserie, le speranze, egli non si ferma ad osservarle, ma le vive dal di dentro. Nella capitale francese si interessò alla pittura post-impressionista; successivamente rientrò in Italia e si stabilì a Firenze, dedicando la propria opera alla raffigurazione dei paesaggi, ritratti. Le sue opere sono conservate in importanti musei e gallerie (Antichita´ Veneziana) in Italia e all´estero."








05 agosto 2013

O surf pode ser muito lindo...

«pensamentos catatónicos (293)» - bagaço amarelo

Um bêbedo senta-se ao meu lado num café dos subúrbios onde, para além de mim, só está o dono. É um homem gordo, com um lápis atrás da orelha que vai tirando para fazer contas num caderno que o tempo pintou de amarelo.
Fui até lá de bicicleta e, para ser sincero, nem sequer sei bem onde estou. Não sou dali, daquele subúrbio de Aveiro onde nunca estive antes, e o bêbedo sabe-o. Eles conhecem-se bem, tão bem que um copo cheio de vinho tinto aparece subitamente em cima do balcão.
Estou a escrever na minha imitação de moleskine, mas ainda nem sei bem sobre o que estou a escrever. Tenho algumas frases que talvez venham a dar alguma coisa. Ou talvez não, penso.

- A poesia é sempre erótica! - diz o bêbedo.

Eu rio-me. Desconfortável por ele estar a olhar para mim, mas rio-me.

- Quando escrevemos poesia fazemos Amor com as palavras! - insiste ele.

Continuo a rir, embora tente engolir o riso.

- Eu sou bêbedo porque nunca fui bom a fazer Amor com as palavras! - conclui.

O homem serve-lhe outro copo, que ele bebe duma só vez. Dá-me uma pancadinha nas costas e vai-se embora. Eu rio-me, mas fico a pensar no que ele disse. Também peço um copo de vinho.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Luís Gaspar lê «Adeus» de Eugénio de Andrade

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor
e o que nos ficou não chega

para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,

gastámos as mãos à força de as apertarmos,

gastámos o relógio e as pedras das esquinas

em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.

Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!

Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
E eu acreditava.
Acreditava,

porque ao teu lado

todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos.

Era no tempo em que o teu corpo era um aquário.

Era no tempo em que os meus olhos

eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.

É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.

Quando agora digo: meu amor…,

já se não passa absolutamente nada.

E no entanto, antes das palavras gastas,

tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam

só de murmurar o teu nome

no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti

Não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.

E já te disse: as palavras estão gastas
.
Adeus.

Eugénio de Andrade
pseudónimo de José Fontinhas (Póvoa de Atalaia, 19 de Janeiro de 1923 — Porto, 13 de Junho de 2005). Apesar do seu enorme prestígio nacional e internacional, Eugénio de Andrade sempre viveu distanciado da chamada vida social, literária ou mundana, tendo o próprio justificado as suas raras aparições públicas com «essa debilidade do coração que é a amizade».

Ouçam este poema na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa

A origem dos bebés

Nossa, que descoberta.



Isso, garoto, acertou.

Capinaremos.com

04 agosto 2013

"Aposto em como te consigo beijar sem te tocar com os lábios"

Cena do filme Fora de Rumo («Derailed»), de 2005, com Charles Schine (Clive Owen) e Lucinda Harris (Jennifer Aniston).

Baile de verão


Chegou o verão e com ele os bailes um pouco por todo o país real abrilhantados por artistas do panorama nacional. É neste contexto incontornável o nome de José Malhoa com uma fantástica dinâmica de palco que encanta plateias com o optimismo dançante das suas bailarinas, em Portugal e um pouco por todo o mundo.

Refira-se também o cuidado posto na sua imagem para imediata identificação do público nacional com o uso do risco ao meio à Paulo Bento e as camisas que lembram as vivendas arquitectadas com a junção de azulejos de várias nações tão populares no nosso país.

José Malhoa é aliás um teórico dos bailes de verão no desenvolvimento do amor nacional fazendo na sua tese emergir o papel fundamental da igreja e do apadrinhamento das aldeias na sua génese, particularmente no seu trabalho significativamente intitulado Baile de Verão (Espacial, 2004).

Malhoa defende mesmo o casamento como corolário dos bailes de verão e uma visão optimista da sua manutenção. Ao contrário da carga erótica que geralmente se deduz a partir da expressão "ajoelhou, vai ter que rezar" o cantor consegue no tema em que a usa destacar antes o papel fulcral da igreja na difusão da alegria personificado num animado padre de óculos escuros como o galã do Martini que não pára de bailar para juntar o casal (Espacial, 2006).

Romântico por diversas naturezas, José Malhoa aventa em toda a sua obra também o papel das flores, especialmente das rosas , na resolução dos conflitos de amor, sistematizado magistralmente no verso "Por amor (...) dei-lhe duas seguidas" (Duas Rosas, Espacial, 2007)



Postalinho da terra

"Este postalinho, envio-o a mim própria, de Caria, o centro do universo (pelo menos é o que diz a malta de lá e eu acredito).
É um arado do caralho, este que está à entrada do restaurante Santa Bebiana"
São Rosas

Homens, digam lá que não é isto!


Jerry Richmond via Danish Principle

03 agosto 2013

Homens, aprendam... a encontrar música de que gostam, com empregadinhas francesas

«coisas sobre mulheres que leio nas portas de casas de banho públicas (6)» - bagaço amarelo

Não gosto das novas casas de banho dos restaurantes e dos shoppings. Já não são como antigamente, em que a porta e as paredes estavam repletas de escritos e sabedoria popular. Agora estão sempre limpas, o que é o mesmo que dizer vazias de conteúdo. É muito raro encontrar uma casa de banho à antiga, embora uma vez por outra ainda seja possível, num restaurante duma estrada nacional ou num tasco esquecido dos subúrbios da cidade.
Também é verdade que a internet acabou em grande parte com esta forma de comunicação. Agora escrevemos qualquer coisa num blogue ou numa rede social e ela é lida por milhares de pessoas. Dantes, as portas das casas de banho públicas eram a melhor garantia de chegar a um grande número de pessoas. Nos anos setenta e oitenta, as casas de banho eram a rede social mais popular do mundo.
O problema estava na questão de género. Como as casas de banho eram divididas por géneros, também o eram todos os posts escritos a caneta, esferográfica, ou até com um isqueiro queimando a madeira das portas. Aquilo que um homem escrevia, era lido apenas por homens. O mesmo se passava com as mulheres.
Pensei nisto hoje por causa da Eva, que me ligou logo de manhã para combinar um café. Lembro-me dela me ter explicado uma vez, há muitos anos, que para Amar alguém temos primeiro que gostar de nós mesmos.
Discordei e, a meio de algumas cervejas e argumentos, interrompi a coisa para ir à casa de banho. Mesmo à minha frente, por cima do autoclismo, alguém tinha pintado com um grosso marcador preto: "Odeio-me a mim mesmo, mas estou apaixonado por ela!".
A discussão chegou a um ponto em que, com este meu último argumento e a pedido da Eva, fiquei à porta da casa de banho dos homens durante dois minutos, para ela poder entrar e ler a frase com os seus próprios olhos. Insistiu que tinha sido eu a escrever a frase. Desmenti.
Coincidência ou não, deu-me hoje razão nessa matéria. Uns vinte e cinco anos depois.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Ah, boquinha linda!...

Estão a ver aquelas bancas de vendas para beneficência?
Já há bastantes anos, encontrei esta carinha laroca numa banca em Coimbra.
A minha dúvida é se a pessoa que a fez não estaria mesmo a pensar no mesmo que eu, quando pensei comprá-la para a «sexão» da minha colecção onde tenho tudo «o que não é suposto ser erótico».