09 janeiro 2010

Fantasma(le)górico

O fantasma aproximou-se devagar, para não se apresentar como uma assombração. Limitou-se a estender uma mão e a fingir que a tocava, mesmo sabendo que jamais ela despertava do seu torpor.
E ele sabia que os fantasmas sentem o amor mas não o conseguem transmitir a quem não pode sentir um toque de outra dimensão, na ausência do calor naquela mão transparente de um holograma ausente que se contentava em sonhá-la assim, não existia uma sensação física como ela desejaria.
O fantasma nunca passaria de uma ilusão distante, de um simulacro de amante sem substância e incapaz de a reconfortar nos momentos mais necessários. Ele fazia parte dos desejos imaginários e mesmo nessa perspectiva há muito deixara de ser activa a sua participação.
O fantasma só tinha um coração sem consistência e isso conduzia-o de forma irreversível à desistência que combatia apenas com a energia do seu amor espiritual, de uma fé alimentada pelo ritual de a observar em silêncio por detrás do seu biombo onde se entretinha a espreitar o filme onde não havia lugar para um actor tão secundário, o figurante irrisório no contexto de um guião onde a sua interpretação se resumia a compor melhor o cenário.
Em silêncio, o fantasma desnecessário na maior parte do tempo fazia de figura decorativa e nem sequer falava a quem fingia que tocava, estendendo uma mão para o vazio, uma mão que não combatia o frio e por isso de pouco ou nada valia à pessoa a quem a estendia a partir do seu universo irreal e longínquo.

Química



Das palmas da mãos
saem as palavras mais belas;
falam de amor
e de saudade também;
pronuncio-as ao longo do teu corpo:
dedilhando as cordas
de uma guitarra.

Canto o doce mistério do sexo
- a química de nós -,
das palmas das mãos
solto-te em amor
- hálito agridoce -
que sempre penetra.

Foto e poesia de Paula Raposo

Conto das máscaras (II) - As mãos da noite no cabelo

Fumei as tuas palavras e o cigarro morreu-me nos dedos; acenderam-se os corpos. Demorar a noite, demorar a noite que é bom acordar assim, pernas e braços entrelaçados, almas entranhadas; mas a manhã que não é inicio do dia de nós é inicio do adeus da paz. Até quando? Pergunta-se ao vento e à maré; uma casca de noz nunca sabe, é apenas uma mendiga do tempo. E o vento e maré gozam, vão gargalhando até logos e até nuncas, satisfeitos com o seu domínio completo da felicidade alheia. As mãos da noite demoram-se no cabelo para demorarem a sombra que suaviza as linhas do rosto. As mãos da noite demoram-se no cabelo e beijam os sulcos dolorosos causados pelo aparafusar das máscaras.

Como os coelhinhos

Fuck

Fuck - hunsonisgroovy

É d'homem (a propósito de ontem)



HenriCartoon

08 janeiro 2010

Excertos do Twitter ainda a propósito do dia de hoje

luispedronunes - Já perdi alguma Boda?


afundasao - @luispedronunes Nas bodas dos casamentos homossexuais também há penetras?

Excertos do Facebook a propósito do dia de hoje

NILTON - Será bom para a criança?! Ouvir o Pai a dizer para o outro Pai: "Zé Carlos, anda dar de mamar ao teu filho!"


Carlos Teixeira - Mas ó Nilton e se for no caso de serem... duas mães? É à escolha do freguês!

Sobre os russos alcoolizados que se envolveram em intimidades com um porco-espinho estado-unidense

Na Rússia, o repatriamento da Alexandra foi considerada a notícia do ano. Ora, a partir do momento em que a criança foi repatriada, o desfecho da história passou a ser mais que previsível e, sendo assim, todo a sequência noticiosa que se lhe seguiu acaba por ser, no seu todo, uma não notícia. Assim, por exclusão de partes por um lado e por intensa pesquisa jornalística por outro, a notícia do ano na Rússia é, para o Blog do Katano, o caso de dois turistas russos que foram hospitalizados após terem tentado manter relações sexuais com um porco espinho estado-unidense.

Segundo a notícia avançada pelo Pravda em Maio último, os dois turistas ficaram extremamente impressionados com um livro sobre as leis mais absurdas em vigor nos EUA que lhe foi facultado à chegada e, como bons russos subversivos quando se trata do respeito das leis estado-unidenses, sobretudo sob o efeito de um bom whisky, resolveram tentar quebrar uma dessas leis, especificamente uma lei em vigor no estado da Florida que proíbe terminantemente toda e qualquer actividade sexual com um porco-espinho.

Bastou apenas uma hora para que os dois turistas encontrassem o dito bicho mas, só no dia seguinte, em conjunto com uma provável monumental ressaca, constataram que o porco-espinho é afinal um bicho que, podendo ser meigo, não tem propriamente pelagem macia e sedosa. Os dois corajosos aventureiros acabaram hospitalizados com o cruel diagnóstico de "espinhos nos genitais", tendo tido de ser submetidos a tratamentos por inflamações durante os meses seguintes.

Como nem tudo são espinhos, há um lado bom na história. Os dois turistas conseguiram deixar os EUA a tempo de escaparem a um processo em tribunal. Por outro lado, também há que louvar o facto de a escolha da lei a quebrar ter recaído nesta que diz respeito a intimidades com porcos-espinho. Terem tentado levar um leão para um cinema no Kentucky poderia ter sido bem mais grave, tal como teria sido grave se tivessem tentado detonar um engenho nuclear dentro do perímetro urbano de Chico na Califórnia. É que 500 dólares de multa é uma quantia que custa a largar e teria sido com certeza um grave rombo no orçamento...!


Foto retirada daqui: http://www.blm.gov/

Conto das máscaras

Deita-te aqui, para te conseguir falar. São as máscaras que se criam, uma a uma vão-se fundindo na carne. E quem somos? Que máscara fala, agora? Que máscara fala em cada dança? Quando sou eu que danço? Ainda existe o eu ou perdeu-se nessa fusão, dança de transfusão? O que sobra?

Deita-te aqui, agora, como fazias. Também sentias o recuar dos disfarces. O escuro na pele, uma carícia da paz. As mãos da noite no cabelo. As melancolias doces da partilha. O silêncio que nos deixa escutar o olhar e a música do conforto no toque do cobertor. Tábua de salvação, primeiro. Depois, a cabeça no teu peito, nau e tu, capitão. Depois o mundo e eu, casca de noz. E máscaras, máscaras; sem elas tudo nos vira, meras casquinhas, ondas enormes, ventanias, monstros. E a saudade traz na rede um peixe solidão.

Deita-te aqui. Para eu ser eu, que eu já nem sei se sou. Quando o mundo me apanhar, imagina que viajei. Não olhes, não ouças; não sou. Quando conseguir ser, bate na minha porta; para conseguir ser, deita-te aqui.

Pano bordado à mão

Mais um têxtil lar comprado para a minha colecção, em Roma.
Este pano é uma delícia, com uma senhora que só tem por cima um negligé translúcido e que se pode levantar um pouco, deixando que se espreite as pernocas da moça.




_______________________________
Puxão de orelhas do Bartolomeu (um ciumento do caralho):
"Só compras porcarias...
É nisto que gastas o dinheirinho que eu ganho com tanto sacrifício e que te entrego religiosamente todos os finais de mês, com a finalidade de alimentares e vestir convenientemente os nossos filhinhos?
Não mereces o meu esforço e a minha confiança, São Maria Policarpa Rosas.
Ficas sabendo, a partir deste momento vou passar a gerir eu o orçamento familiar e, quando quiseres cortinas para as janelas, pegas nuns sacos de plástico do continente, cortas ao meio e colas uns aos outros com fita-gomada e tens umas cortinas à la mode, com a vantagem de serem laváveis, o que facilita bastante a limpeza daquelas auréolas amarelas que os teus amigos deixam ficar quando fazes aquelas festinhas lá em casa, sempre que eu tenho de ficar a trabalhar de noite lá na fábrica, a tentar ganhar mais uns tostões!
Estamos entendidos?
Isto um homem, se não mostra determinação, a sua gaja esbanja-lhe o dinheirinho todo em cortinas..."

Declaração de baixa

"Exmo. Sr. Chefe

Esta semana aconteceu-me algo que não esperava. Num espantoso acidente acabei quebrando um osso. Por isso não me verá nos próximos 30 dias, a recuperação é lenta e exige repouso. Impossível aparecer e executar o meu trabalho.
Junto envio a radiografia que comprova a ruptura.
Com os melhores cumprimentos e desejando que isso nunca lhe aconteça,
O trabalhador

Anexo: Radiografia"

Maria Escritos
(não resisti a partilhar este atestado)

07 janeiro 2010

O Amigo Oculto

– Não me dizes que és a minha fã número 1? – perguntou ele, levantando a cabeça do colchão.
– O quê? – inquiriu ela, terminando de lhe prender o pé direito à cama, sem lhe prestar atenção.
– Como no filme… – gracejou ele. – Não me dizes que és a minha fã número 1?
Ela olhou-o, pensativa, decifrando a referência cinéfila, ajeitou cuidadosamente o gorro de Pai Natal, depois verificou se os pés dele estavam bem presos e, por fim, sorriu. Olhou-o e sorriu, reconhecendo o filme.
– Para isso – disse ela, segurando-lhe o dedo grande do pé direito, que apertou –, tinha de ir buscar um martelo. – Piscou-lhe o olho, fechando o sorriso. – Não era?
– Um martelo?! – repetiu ele, engolindo em seco, esquecido desse desenvolvimento. – Não, não é preciso nenhum martelo – conseguiu dizer. – Não precisamos de seguir o filme… Aliás, isto não tem nada… Não, não é preciso martelo nenhum – insistiu ele, sem conseguir ligar as frases, que lhe saíam em golfadas descontroladas, enquanto procurava disfarçar os repelões às algemas que o prendiam à cama. – Não é preciso!
– Venho já – anunciou a mulher, tornando a piscar-lhe o olho agora com um sorriso enigmático e nada auspicioso. – Já viste que és um xis? – perguntou ao sair.
Aflito, o homem intensificou, sem qualquer método ou atenção, os movimentos dos braços e das pernas para se tentar soltar das algemas revestidas com pêlo cor-de-rosa que lhe prendiam os pulsos à cama e dos macios cordões que lhe manietavam os pés, enquanto se consumia de arrependimento de ter ido ao jantar de Natal do escritório, de ter oferecido as algemas de sex-shop no amigo oculto que, no caso, pelas regras dos jantares, sempre iriam para uma colega e de, no fim, já com o álcool a falar por ele, se ter oferecido de forma patética para as experimentar.
– Um xis… – mastigou, entaramelando as palavras. – Sou um x na cama e não me sentiria melhor se fosse outra letra qualquer. – Riu-se. – Podia ser pior… – continuava a falar sozinho. – Era muito pior…
– Então? – perguntou a mulher, que reentrara no quarto, toda nua só com o gorro e com o braço direito atrás das costas.
O homem deu uma gargalhada mais nervosa que satisfeita:
– Podia ser um xis e estar virado para baixo.
Ela sorriu, erguendo as sobrancelhas concordante.
– Trago-te aqui uma surpresa – disse, mostrando-lhe o cotovelo dobrado para trás das costas.
Ele ficou branco e olhou-a num silêncio sepulcral, as sinapses que o ligavam ao martelo já se tinham diluído no álcool mas, em seu lugar, aparecera uma máquina fotográfica ou um telemóvel para o fotografar ou filmar, o que lhe aumentara a sensação de trágica impotência e terror catastrófico.
– Hei! – gritou ela, voluntariamente encurtando o suspense. – É a tua prenda de Natal! – E mostrou-lhe uma venda para os olhos e um espanador. – Não embrulhei porque não conseguirias desembrulhar…
Aliviado, o homem riu.
Ela aproximou-se e colocou-lhe a venda. Desceu com o espanador lentamente da cabeça aos pés, agarrou com a mão livre o telemóvel que estava no chão, desejou-lhe
– Feliz Natal!
E reiniciou o laborioso trabalho com o espanador.

Elevador



Cabia mais uma pessoa no elevador;
Entrei eu.
Encostei-me o melhor possível,
para que a porta não me levasse
algum bocado de mim
(que poderia fazer muita falta).
Eu sairia no último andar
e tu também - pelos vistos -,
tudo se passou em segundos:
um apalpão aqui, outro ali,
mutuamente passámos a viagem
aos apalpões.
Sem uma palavra.
Pena que o prédio não tivesse mais andares...
Saímos – cada um para seu lado -
que acabou por ser o mesmo:
na empresa apresentaram-me o novo chefe.
O apalpador apalpado!

Foto e poesia de Paula Raposo

Então...

Então canta, canta
que eu perdi-me no tema,
sopra calor no meu peito
sopra-me alma de volta,
enrola-me nesse poema
que me sai das mãos de leito,

e então dorme, dorme
que a areia iluminada
pela lua não tem nome
e a nossa noite é muda,
se naufragar a nossa fome
nas mãos da madrugada;

Agora grita, grita
cada vez mais longe,
já nem te ouço o nada;
corre que a areia foge,
camada após camada
enterra o dia de hoje...



O Carlos nunca se arrependeu de ter trocado o seu carro velhinho por um novo modelo japonês.

06 janeiro 2010

Todos aos vossos barcos que estou a molhar tudinho!

A gerência do Webzine Muro surpreendeu-me há poucas semanas com um convite da lady.bug (a nossa Buguita mai'linda) para uma entrevista.
Eu sou tão tímida (e nem me ando a tratar) mas lá respondi ao que me perguntaram.


webzine Muro #4

São (sou eu) cinco páginas (da 24 à 28)

Ide lá, ide... e até vos podeis multiplicar...

Mais adiante, mais acima

Caminha sobre as águas rebentadas que anunciam o parto, águas agitadas, e tu dizes eu fico e avanças sem medo sobre o fogo, sobre aquilo que tiveres que percorrer até chegares onde tiver que ser para ser tua a vitória final.
Caminha pela glória total e nada menos exijas do que o estatuto de ganhador, sempre que esteja em causa um amor.
Caminha sem olhares o chão que cada pé pisar, aproveita.
Em cada paixão existe uma fórmula secreta que te ensina a voar.

dança-me comigo



entra em mim e faz-me sentir o eco das esferas celestes, aí, onde só tu sabes tocar (a música que me enTUSiAsma), cruza o teu querer com o meu, invade-me com o teu calor

dança-me comigo.

Piano nu

Os dedos pesados do sono,
o sono a pesar nos dedos,
os dedos sabem segredos,
confessam-se nas teclas do piano;

Os dedos desamparados nas teclas
as teclas desamparadas nos dedos
no piano transpiraram segredos
os dedos sabem-lhe a promessas;

O piano de língua pautada,
os dedos molhados do piano,
tocado a nu como um profano,
nua tocava a pianista sentada.


Casal de anjos-demónios

Peças de artesanato do México, em barro.
O macho tem uma serpente enrolada a uma perna e a fêmea segura num ananás. Se alguém me souber explicar o significado do ananás, agradeço.
E ainda dizem que os anjos têm o sexo indeterminado! Estes têm-no bem determinado... e já moram na minha colecção.


Resoluções de Ano Novo


Alexandre Affonso - nadaver.com

05 janeiro 2010

Livro de Eros (fragmentos)

por Casimiro de Brito


1
A morte não existe.
Tudo é sexo e canto.

14
O sexo é um festim; amar, uma cerimónia.

48
— Tenho um colchão novo e anseio prová-lo dançando contigo nesse chão. Abri uma garrafa de um Porto de 1988 e vou bebê-lo em dois copos pensando que o bebes comigo. Tenho frio. E bem sabes que só me aqueço quando te aqueço e só ardo quando te amo.

- Quando me meto na cama busco o ninho, onde estás? e não posso aconchegar-me se não em ti. Não te encontrar é encontrar apenas o corpo do frio. Beberei contigo esse Porto. Eis os copos, vou beber pelos dois. Depois falaremos cantaremos dançaremos foderemos quando os eflúvios se transformarem em presença real.

316
Talvez consigas não te perder quando vês os lábios secretos de uma mulher: um labirinto, e tanta profusão! Mas uma vez lá dentro o mistério é ainda maior, mas cola-se ao teu, e então tudo é possível, até a morte. A morte verdadeira de quem acaba de renascer, uma e outra vez.

329
Escuto no corpo, no sexo das mulheres que amo, a música maternal. O começo do meu nome, do meu próprio corpo. Que são vários ou este apenas, muito e múltiplo. Talvez não busque nas mulheres que amo o mito da mulher original — o meu silêncio antes de nascer, o meu rosto anterior ao meu nascimento — talvez busque a fonte feminina, a dos mitos, que em mim também prolifera.


fotografias de Sylvie Blum

Cento e sessenta continhos, Ruth?


Ando a profetizar o fim da Playboy portuguesa desde há vários meses, embora tenha tido esperança aqui e ali. Considerando que a revista não tem, sequer, um ano completo, isto significa que edição após edição é mais acentuada a vertigem da Playboy do que a de quem observe a Torre de Pisa. Não sou insensível, sofro de forma solidária com a alcateia, sinto em mim o pulsar do desespero masculino, assim como senti o arrepio imenso da capa de Dezembro quando todos esperávamos uma gaja (pela amostra anterior já nem a esperavamos mesmo boa, só gaja já era bom) e nos entrou pela retina dentro o Ricardo Araújo Pereira. Não desfazendo. Mas para quem os tem no lugar, não é o que se pretende.

Quando se pensava que era impossível tombar mais, e ainda a colocar gelo para aliviar a dôr, eis que a Playboy tropeça e nos apresenta Ruth Marlene e sua irmã. Isto devia ser bom, porque depois do Ricardo em Dezembro estavamos finalmente de volta às mulheres, e porque até são duas, e não se pode dizer que sejam más figuras à primeira vista, mas há coisas que me ficam a fazer uma certa comichão e temo começar o ano com uma conjuntivite. Por um lado surpreende-me que o cachet seja de oitocentos euros. Se ignorarmos as flutuações no valor do dinheiro e nos apetecer fazer, assim de rajada, uma tradução curta e grossa para escudos, a rapariga apresentou-se ao mundo como a ele veio – excepto tatuagens que vieram depois, e não sei se para melhor – por cento e sessenta continhos. Mesmo sabendo que a inflacção tem andado pela rua da amargura, parece-me que cento e sessenta continhos é pouquinho. Dá oitenta continhos por mamoca.

Deviamos estar, de algum modo, satisfeitos. Que eu me lembre, e tenha visto, esta edição é a primeira, ou das primeiras, em que a figura de capa apresenta, com alguma visibilidade, a sua vulva. Ora, se por um lado isso era algo que o Ricardo Araújo Pereira não podia, de todo, fazer, por outro, era algo que nós machos andavamos a reclamar desde há longos meses: a ausência de vulvas nas mulheres portuguesas. Mas Ruth Marlene, novamente, apresenta-se com a sua vulva tal como veio ao mundo – e aqui, literalmente, não no tamanho é certo, mas seguramente no preparo piloso -, e não só ela como também a irmã.

Mas o que me preocupa é que se por um lado eu não sei exactamente se aquela é a Ruth Marlene, porque não a conheço muito bem e porque não está nada parecida com nada que eu me lembre dela, por outro temo que as raparigas estejam em sofrimento dentro de algum plástico transparente muito justo. É que é isso que elas me parecem: plásticas. Se a carga de photoshop é assim tão pesada, algo vai mal, e isso remete-me de novo para os cento e sessenta continhos. Janeiro é mês de saldos. Pode ser isso. Mas que isto faz cair fortemente a cotação da vulva e da mamoca, faz!



Cavalos frescos


2 páginas - basta cricares em "next page" a partir da página inicial acima

oglaf.com

Para combater o frio no equipamento!

04 janeiro 2010

Estúdio Raposa - Programa 44


Poesia erótica de Maria Escritos

Luís Gaspar resolveu criar um audioblog em que conta, de viva voz, algumas das mais conhecidas histórias. Dos Contos Tradicionais (reunidos por Teófilo Braga) ao Romance da Raposa (de Aquilino Ribeiro), passando por Fernando Pessoa, Eugénio de Andrade ou a narrativa da Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto. Neste blog há ainda espaço para novos autores, incluindo aqueles que ainda não chegaram às estrelas.
No Estúdio Raposa, Luís Gaspar arranca as palavras do papel e verbaliza-as, soprando-lhes vida nova, fazendo-as flutuar em sonoras centelhas de luz. Recitar realiza, quebrando o silêncio, aquilo que o silêncio pretende e não consegue.
Ouse ouvir a voz de Luís Gaspar com poesia de Maria Escritos neste programa 44 da rubrica "Poesia Erótica".

Maria Escritos
Blog Escritos e poesia

Filhos de um deus maior

Em quinze dias, a plataforma de cidadãos preocupados com a moral e os bons costumes conseguiu reunir 75 mil assinaturas para forçar a discussão parlamentar de um referendo ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. Provavelmente, e não tardará a confirmar-se, muitos dos que darão a cara por esta iniciativa (tudo cidadãos espontaneamente organizados, a igreja católica não tem nada a ver...) deram-na antes contra o segundo referendo do aborto por causa dos custos que tal representava para o país.
Nada tenho contra a liberdade de actuação destes cidadãos que são incapazes de mexerem uma palha quanto ao estado da Justiça ou de muitos outros males do país mas se mobilizam em grande força contra a liberdade de escolha de outros cidadãos. Ou seja, acho muito bem que usufruam do direito que a liberdade lhes concede de poderem tentar limitar a liberdade dos outros. É paradoxal, mas é assim que a coisa funciona.
Contudo, eu possuo outro direito, o da liberdade de expressão, que me permite afirmá-los retrógrados, falsos puritanos ou mesmo cretinos para manifestar o meu desagrado quanto ao que de mau representam para o modelo de sociedade que gostaria de ver implantado no meu país.
Muitos dos que se mobilizam desta forma contra tudo quanto seja liberdade individual de decisão que fuja ao seu padrão convencional são acérrimos defensores da moribunda instituição do casamento, embora não hesitem em se insurgir contra o mesmo quando está em causa o papão da homossexualidade e qualquer reconhecimento formal da sua existência.
E não se mobilizam contra outra coisa que não impedirem outros de fazerem escolhas que reprovam. Não está em causa qualquer mal que lhes seja imposto, não serão obrigados a casar com pessoas do mesmo sexo. Não querem é que outros o possam fazer porque isso colide com a sua moral pacóvia que tanta felicidade produz, pelo menos nas fachadas por detrás das quais vão ocultando os seus desvarios e outros desvios (que querem manter) secretos. Tão secretos como o amor homossexual, essa aberração como a sentem do ponto de vista social embora com ela convivam inevitavelmente (às escondidas) no seio da sua congregação beata.
Eu não sou gay, mas podia. Não apoio nem deixo de apoiar tal opção, simplesmente não são contas do meu rosário. Mas se fosse, sentir-me-ia insultado pela energia com que esta ala conservadora do costume se empenha em marginalizar todos quantos não sigam a mesma cartilha.
Na prática, eleições levadas a cabo há pouco tempo legitimaram a maioria de esquerda que no parlamento viabilizou a medida que o Governo democraticamente eleito propôs no seu programa para esta legislatura e o povo ainda assim escolheu.
Mas para a brigada do reumático social, a democracia vale o que vale e por isso erguem-se das suas tocas bafientas sempre que está em causa o assumir de realidades que de alguma forma colidam com a sua perspectiva do que os outros devem ser ou fazer.
Foi assim com o aborto, é assim com o casamento entre pessoas do mesmo sexo, será assim na questão da legalização absoluta das drogas leves que o Bloco de Esquerda e algumas juventudes partidárias muito práfrentex deixaram escondidas na gaveta para não se exporem à reacção costumeira destas seitas puritanas.
Sim, sou radical no discurso. Tanto quanto esta gente que engloba, por exemplo, o presidente socialista(?) da Câmara de Loures que não ajudei a eleger e agora percebo porquê, acaba por ser quando chamada a explicar as razões da sua oposição à legislação em causa.
Não há fumfum nem gaitinhas: em causa está o direito à diferença, algo que os conservadores de pacotilha, os moralistas da treta, jamais saberão tolerar mesmo quando essa opção, dos outros, não lhes é imposta.

Postalinho de Torres Novas

A propósito da Desfolhada do Shark, recebi um postalinho no Clube de membros e membranas do blog a funda São:

"Há uma estátua de uma folha ratola na minha terra"
Nuno Silva


Torres Novas - Estátua no Jardim

Avental comprado em Itália

Tenho tantas t-shirts, toalhas, aventais, panos bordados,... na minha colecção que até poderia abrir uma sexão (sim, sim, é o novo acordo ortográfico) de têxteis lar.
Comprei este aventalinho em Roma... e já mora na minha colecção.

03 janeiro 2010

Blind date



Marcámos encontro.

Sabíamos pouco um do outro:
o sexo, o nome e a idade.
Tínhamos trocado algumas fotos
(cada um de nós pensando
que as fotos podiam ser
de outra pessoa qualquer!)
e avançámos para o conhecimento
pessoal, cara a cara, corpo a corpo.
Dizer que ficámos de boca aberta
- de espanto positivo -
seria mentir.
- Adeus, boa tarde, foi um prazer.

E cada um foi à sua vida;
felizmente.

Foto e poesia de Paula Raposo

Tempo de anoitecer (Epilogue) @MissJoanaWell


Não quero madrugar na tua noite, quero que anoiteças no meu dia.
Não me interessa se o teu Planeta tem vários Sóis. Eu sou Lua. Não existo nas mesmas horas que as tuas Estrelas. Existo na tua hora.
Talvez ainda não saiba como é. Mas talvez saiba como devia ser. E isso basta-me.
Este é o meu anoitecer. Atende ao compasso ou amanhece daqui para fora.

O tempo não é a medida do meu peito. Aqui dentro não mora o que passa.
Quando morrer amanhã, serei, hoje, eternamente tua.
As nossa palavras só têm segundos de distância. Como nós, enquanto as tivermos.
Tu, talvez não. Hoje vai estar colado ao resto dos meus dias. Mesmo que te coles ao meu "nunca mais". Serás sempre hoje.

Não, não é uma bola, o que te dei. É um Mundo. O meu.

Lucélia Santos - Bonitinha Mas Ordinária 2

Cena do filme «Bonitinha mas ordinária», onde Lucélia Santos se diverte com 5 negros à frente do marido, que fica no carro a ver tudo.



Lucélia Santos - Bonitinha Mas Ordinária 2
by EunusRex

Sexo vaginoral


crica para visitares a página John & John de d!o

02 janeiro 2010

Erotismo num crepúsculo de Janeiro

Para uma tarde de Janeiro estava até bastante quente, com os seus dezoito graus Celsius. Quando se tem pouco cabelo, até uma brisa mais ligeira se nota, agitando os poucos cabelinhos curtos que resistem. Consigo dizer que havia uma brisa ligeira nessa tarde. O sol, já muito baixo no horizonte, projectava sombras longas das pessoas que caminhavam no passadiço entre o hotel e a costa rochosa. O mar batia nos grandes blocos de granito e por vezes salpicava, havia o cheiro no ar, do sal, do sargaço, e de perfume.

Chegaste e sentaste-te em silêncio com as tuas botas pretas de camurça, meias pretas opacas e saia, também preta, acima do joelho. Sabias que ia reparar nisso. Ao longo dos anos fui aperfeiçoando a capacidade de ver sem olhar, e de olhar de lado sem cansaço. Como permanecia em silêncio, perguntaste, «não dizes nada?».

Não. Não tinha dito nada. Tinha apenas ficado a pensar no momento. No que aquilo era. A sentir a cadeira sob mim, o copo na minha mão, o sol que ainda me iluminava a cara, e a tua figura ao lado, enquanto permaneciamos naquela varanda de quarto de hotel. Há muitos, muitos anos atrás qualquer pornografia chegava. Quando se é adolescente o que se quer é sexo, muito sexo, sempre sexo. Não precisa de preparação, precisa de instruções mas não queremos saber, pode vir a qualquer hora, em qualquer lugar. Há muitos anos atrás, uma porcaria nórdica qualquer, ou um da Cicciolina, serviria perfeitamente. E qualquer mulher, sem grandes arranjos, serviria. Quando finalmente viro a cara e te observo acabo por te dizer que «mas agora é tudo tão diferente. Acho que umas loiras nórdicas já não me deixariam feliz, ainda que fossem duas, ou três».

Não creio que fizesse qualquer tipo de sentido para ti. Não entenderias. Não esperaria que entendesses. Estavas recostada na cadeira mas endireitaste-te e chegaste-te um pouco à frente. Estavas à minha direita, e tinhas a tua perna direita um pouco mais à frente que a esquerda, que dobraste um pouco mais quando te reposicionaste na cadeira. A saia subiu um pouco, ficou solidária com o têxtil que te servia de assento e deixou-me ver o contrastre da pele branca das tuas coxas, com o preto das meias que as dividiam em dois, que insistiam em manter-se no lugar por teimosa silicone. Disfarcei.

- Mas tu nem gostas de loiras! E que ias tu fazer com duas, quanto menos três? – e rias, bem disposta.

Faria com duas ou com o três o mesmo que com uma. Existia na minha cabeça imaginação suficiente para me entreter. Mas o importante já nem era isso. O importante é que eu já não queria duas ou três, já não queria sexo em pacote, do tipo instantâneo. Queria erotismo. Não imaginava que me entendesses.

- Nem sempre o que importa é foder. Repara… seria para mim, agora e já, muito mais excitante poder tocar-te sem fronteiras, dar-te prazer, e nunca te foder. Assim, pelo menos, a sedução seria mais longa. Talvez até nunca terminasse.

- Eu sei. Não quero que me fodas. Mas podes tocar-me. Se quiseres. Eu entendo.

Correndo os fechos tiraste primeiro uma bota, depois a outra. E mesmo aí usaste todos os truques, nunca pousando totalmente os pés no chão, a não ser para caminhar, e mesmo assim, mal apoiando o calcanhar no chão. Mesmo sentada, enquanto tiravas a segunda bota, mantiveste o teu pé esquerdo esticado, dando tensão muscular à perna, moldando-a tão bem. Tão bem. Sabias claramente o que estavas a fazer. Mas estava já fresco, começava a instalar-se a noite, uma noite de Janeiro, com o céu limpo. Entraste no quarto. Do lado de fora, ainda sentado na varanda, podia ver-te lá dentro deixando cair a saia no chão. As botas estavam cá fora, as meias pretas estavam lá dentro, nas tuas pernas, a saia estava no chão. A camisola felpuda estava agora a sair, revelando um soutien simples, preto também, de abrir à frente, como eu gosto. E não havia mais nada. Não havia mais nada!

Levantei-me, finalmente, enquanto te deitavas na cama larga, quase de lado, dando forma às pernas. Entrei maravilhado pelo contraste das tuas coxas brancas com o tecido escuro. Subitamente, senti-me arrancado do universo dos filmes nórdicos para um outro, como se estivesse a ver um filme qualquer de Andrew Blake. Naquele espaço havia cheiro a erotismo, e quase nenhum a sexo. No entanto…

- Podes tocar-me, se quiseres. E prolongando as sílabas, onde… quiseres.

http://www.geografiadascurvas.net

Cadência

A cadência das estrelas
quando retornam
aos seus lugares;
a cadência dos segredos
quando aveludam
vagos olhares;
a cadência dos momentos
quando entranham
a paixão no ar;
a cadência de janelas
que se começam
a descortinar;
a cadência das velas
quando dançam
até queimar;
a cadência da alma
quando a encantam
até pairar;
a cadência do conforto
adormeceu
na minha cama
que a cadência do teu corpo
(que é a cadência das estrelas,
e é a cadência dos segredos,
é a cadência dos momentos,
é a cadência das janelas,
é a cadência das velas,
é a cadência da alma)
chamou a do meu
até cair saciada.

«Les jours de l'homme» de Julien Besançon com ilustrações de Jean Dratz

Obra de um médico sobre a vida e a morte, com conselhos para uma velhice saudável.
Livro de 1940 numa edição especial em papel Madagáscar e com uma bolsa/capa, tendo como bónus várias folhas com ilustrações a preto e branco (provavelmente para colorir).








Delícia das delícias, com o livro vem o desenho original da ilustração da página 95:



in the still of the night by ~jahjahjah

01 janeiro 2010

Breve Primavera @MissJoanaWell


O meu tempo engole descontentamento, faminto de ti. O meu tempo bebe goles de momento, sedento de ti. O meu tempo come e bebe e vive de ti.
Maio fundiu-se com Setembro. Três meses no útero da ilusão.
Setembro adentrou Outubro. Amam-se. Vararam-se. Consomem-se no calor de Agosto. Depois de sonhar que ele era um sonho, já não o quis realizar. A cada grão de realidade, espreita o pesadelo. Entardeceu a Primavera.

O Paraíso

– Olha! Olha!
– O quê?
– Não viste?
– O quê?
– Ali! Olha p’ali!
– Onde? Onde?
– Ali, pá! Ali… Eee… Olha-me para aquela mulher! Meu Deus!
– Que monumento!
– Monumento? Aquilo é uma catedral, pá!
– Uma catedral?!
– Olha para aquelas formas perfeitamente esculpidas, aquele ar divino, o andar flutuante de anjo, a imaculada figura… Meu Deus!...
– E aquele pato bravo que vai com ela…
– Qual pato bravo, aquilo é um pedreiro-livre… Um pedreiro-livre que anda a montar a catedral.
– Achas que o gajo sabe o segredo para polir a pedra bruta?
– Não sei se sabe esse mas sabe um qualquer que nós não sabemos, isso é certo.
– Hei!... Eu sei quem é o tipo… Não o estava a conhecer mas é ele. É ele, eu conheço-o.
– Se a conhecesses a ela… Isso é que era um dia em cheio!
– O gajo não é empreiteiro. Não é pato bravo!
– Não?
– Não, é facilitador de contactos…
– Facilitador… É pá, o gajo podia era facilitar o meu contacto com ela. Isso é que era de valor!
– O gajo não é desses facilitadores.
– Há outros?
– O gajo é uma espécie de promotor de relações comerciais. Está ligado ao partido e movimenta-se bem…
– Vareja, queres tu dizer.
– Pois, é isso mesmo, vareja: faz a ligação entre as oliveiras e o chão, ainda que nunca toque na azeitona.
– Que linda imagem… Num mundo ideal e reconhecido, não neste, soez e cheio de invejas mesquinhas… Num país a sério, varejadores como aquele seriam uns senhores. Uns senhores.
– A palavra de ordem seria: Varas de todo o mundo uni-vos num só sindicato!
– E o varejador não se havia de transportar num mísero Mercedes de cinquenta mil euros e só com uma catedral daquelas ao lado, havia de andar de Bentley, com basílicas, pá, nada menos que basílicas ao lado e haviam de lhe ofertar, com vénias e salamaleques, baldes, baldes de robalos fresquíssimos e terem para com ele sempre uma palavra amiga, uma conversa privada.
– Isso é que era um país!

Crise de desconfiança


Alexandre Affonso - nadaver.com