Deita-te aqui, para te conseguir falar. São as máscaras que se criam, uma a uma vão-se fundindo na carne. E quem somos? Que máscara fala, agora? Que máscara fala em cada dança? Quando sou eu que danço? Ainda existe o eu ou perdeu-se nessa fusão, dança de transfusão? O que sobra?
Deita-te aqui, agora, como fazias. Também sentias o recuar dos disfarces. O escuro na pele, uma carícia da paz. As mãos da noite no cabelo. As melancolias doces da partilha. O silêncio que nos deixa escutar o olhar e a música do conforto no toque do cobertor. Tábua de salvação, primeiro. Depois, a cabeça no teu peito, nau e tu, capitão. Depois o mundo e eu, casca de noz. E máscaras, máscaras; sem elas tudo nos vira, meras casquinhas, ondas enormes, ventanias, monstros. E a saudade traz na rede um peixe solidão.
Deita-te aqui. Para eu ser eu, que eu já nem sei se sou. Quando o mundo me apanhar, imagina que viajei. Não olhes, não ouças; não sou. Quando conseguir ser, bate na minha porta; para conseguir ser, deita-te aqui.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Uma por dia tira a azia