20 dezembro 2009

A porta



Completam-se hoje dois meses da minha primeira colaboração neste espaço, onde eu já comentava há muito tempo. Quero agradecer à São Rosas todo o carinho para comigo, mas não querendo ser lamechas aqui vai:

A porta está sempre aberta para ti;
basta tocá-la – como sabes tão bem –
ao de leve, delicadamente:
ela abre-se para ti.

Quando te fores embora,
tem o cuidado de a fechar;
nunca a deixes entreaberta,
fecha-a com a tua certeza.

Quando regressares
(eu sei que sim),
toca-a suavemente
e ela tornar-se-á a abrir:
só para ti.

Foto e poesia de Paula Raposo

Deriva

Talvez a inspiração me tenha abandonado,
talvez se tenha, trémula, escondido
num qualquer corpo calado
que a não aqueceu
e entristeceu;
É tão triste o nosso toque de lábios frios
vermelho vivo a render-se ao tom acinzentado
um desmaio de esperanças que chega para afundar navios;
e os navios somos nós, agora destroços de um qualquer nosso pecado.

«Na praia» - desenho original... com bónus no verso

Mais um desenho original que, quando comprei, tinha post-its a tapar as partes fodengas. Aqui, mostro-o com tudo... a bronzear ao sol:


... e até tem um esboço a lápis na parte de trás:

Novas oportunidades


crica para visitares a página John & John de d!o

19 dezembro 2009

«Do mal o menos» - diz a Didas

O governo aprovou hoje na passada sexta-feira uma proposta de lei que permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Felizmente e com a iluminação do Senhor que é grande e tudo sabe, teve a decência de excluir a possibilidade de adopção de crianças por parte desses depravados que vão ao rabo uns aos outros. Como sabemos, é extremamente prejudicial ao crescimento saudável duma criança viver numa casa em que, no quarto mesmo ao lado do seu, está um gajo a levar no cu ou então duas fufas a embrulharem-se uma na outra, mesmo que lhe tenham dado, durante o dia, atenção, almoço e jantar, escola, roupa e carinho. O normal é terem uma mãe e um pai como manda a santa madre igreja, mesmo que lá em casa haja porrada e abusos todos os dias. Ou terem uma mãe e um pai mesmo que sejam abusadas diariamente, ou até mortas, por quem devia cuidar delas, como às vezes acontece. Outra opção interessante é manter uma criança abandonada e carente institucionalizada, mesmo que haja um casal de pessoas do mesmo sexo a querer adoptá-la, porque é assim que se vai fazer um homenzinho ou uma mulherzinha, não é cá com paneleirices.
Abençoado seja o nosso governo.

Didas
Blog Farinha Amparo, a padaria da família

Earth Angel - o primeiro vibrador ecológico

Fin: "Sãozinha, pega lá para dares à manivela. Ecológico, ecológico era um pepino mas isto é mais high-tech.


São Rosas: "Não conhecia. Mas... «com apenas quatro minutos usando a manivela, pode-se fazer com que o vibrador funcione durante 30 minutos»?! Os gajos passam-se?! Quatro minutos a dar à manivela?! Ecológico é mas é o caralho!"

porque o cancro nada tem de erótico e porque as causas nobres são abraçadas aqui n'a funda São...



... anunciamos que o recrutamento de mancebas e mancebos para o exército de pessoas que poderão um dia via a salvar uma vida está em marcha!
no dia 23 de Dezembro a @twitt_tribuh organiza a III edição do #twittmedula, um encontro de twitters (e não só) para inscrição no CEDACE.
consultem o blog http://twitt-tribuh.blogspot.com/ e apareçam em Lisboa (Pulido Valente) ou no Porto (Centro Histocompatibilidade Norte), pelas 14h30m.
Se tens entre 18 e 45 anos, e mais de 50 kgs... junta-te a nós!

Droga


Sou droga alucinogénia,
plantada num canteiro
sem nome,
e que transita nas veias
das junkies que me desejam.
Injecto o soro da vida,
prazer irrecusável
das mulheres vagabundas
que anseiam por mim,
dando-lhes tudo,
dando-lhes nada.
Sou tara e magia,
a treva que ilumina,
que circula e enfeitiça
que ergue e que derruba,
que alimenta e vicia.
Sou de todas
e de nenhuma,
amo gregas e troianas,
sou da noite e sou do dia.
Sou de todas e de
nenhuma.
Mato… e ressuscito,
sem fronteiras.
Sou cidadã(o) do mundo.
Sou inclemente, ou cruel,
sou amado(a) e não amo.
Deito-me na praia,
corro a cidade, morro
num barranco infecto
para lá dos limites dos
olhares acusadores.
Faço música com as
pútridas poetas da vida,
versejo com as sobras
das humanas condições,
converso com as parasitas,
parasito-me nas conversas.
Sou droga alucinógena,
feito homem…
para mulher consumir.

TC

Intimissimi com lacinhos vermelhos

A perfeição não existe. De qualquer modo…

… havia-vos dito que, estando eu em mudanças no blog, só voltaria a escrever nestes entretantos se tivesse o tal outdoor da Intimissimi para aqui pôr. Este é o vertical. Há o outro, grande, horizontal, mas não o tenho. Ainda. Fotografia de telefone, fresquinha, feita há minutos quando descobri que numa rua aqui perto há uma Irina à mão de fotografar. E que frio que está senhores, que frio…

Sim, eu sei, eu sei que tem lacinhos. Vermelhos. Nada que uma tesoura e algum jeito (ou os dentes) não resolva.

Conseguis ver, nesta foto, o ar de sofrimento estampado na cara da Irina? É o sofrimento por não me ter. Enfim, sou apenas um… ;-)

Pedras

Quando as pedras chocam mudas
o que há que as possa curar?
É por isso, meu amor,
que eu falo e falo e falo
essas coisas a que chamas tontas;
porque já somos duas pedras
(quando duas pedras chocam mudas)
porque continuamos a chocar,
é a nossa forma de chorar;
e só nos curam as palavras
mesmo aquelas que causam dor.

Quando as pedras chocam mudas
o que há que as possa acetinar?
E é assim, meu amor,
que eu tento e tento e tento
repetir os gestos que tu calas;
é assim que tu me empedras
(quando duas pedras chocam mudas)
quando te continuas a calar,
é apenas o acto de rebentar
das que existem e não atiras;
são mera arma com silenciador.

18 dezembro 2009

O diciOrdinário ilusTarado está no Sítio...


O diciOrdinário ilusTarado no Sítio do Livro

É claro que podes comprá-lo também directamente a mim, com direito a uma dedicatória personalizada, encomendando nesta página.

"Uma obra onde o humor e a imaginação convivem sem complexos nem constrangimentos de linguagem"
revista «Os Meus Livros»

"Mais que Vilhena 2. 0 o diciOrdinário ilusTarado é um trabalho único de etimologia que vai para os dois lados e, não sendo bi, serve-se como se fossem três pratos, um pitéu mas uma refeição completa"
Luís Pedro Nunes

Monovolume

– Sabes o que me apetecia?
– O quê?
– Que me fizesses uma lipoaspiração.
– Uma lipoaspiração?!
– Sim. Uma lipoaspiração não invasiva…
– Desculpa?
– Não invasiva e natural.
– E como é que eu faria isso?
– Com a língua, a boca, os lábios…
– Ah!... Querias que eu te aspirasse os grandes lábios?
– Os grandes lábios?!
– Sim, que eu te lipoaspirasse a vulva?
– A vulva?!
– Que careta é essa?
– A vulva… Porque é que eu havia de querer que me lipoaspirasses os grandes lábios?
– Tu…
– Por essa ordem de ideias também me podias lipoaspirar as virilhas, os pequenos lábios…
– Havia de lá chegar.
– Mas porque é que vocês não vão directos ao assunto?
– Qual assunto?
– Qual assunto!?... Ao clítoris! Aí é que eu queria o teu empenho e cuidada aspiração…
– Ah…
– Se for preciso andam sempre a queixar-se que nós só pensamos é em carinho, em abraços e beijinhos, que passamos tempo demais sem ele na boca e, afinal…
– Afinal?
– Sim, e afinal vocês gostam – ou não sabem – de andar à volta, de rodear, de dar atenção ao que não quer a você atenção…
– Não sabemos?
– Foca-te. Centraliza-te. Concentra-te. Converge!
– Convirjo?
– Sim, converge para onde realmente interessa e deixa os grandes lábios, os pequenos… Deixa o resto da vulva em paz.
– Eu gosto da vulva… É uma palavra espectacular.
– Uma palavra?! Tu gostas da palavra?
– E do sabor.
– Menos mal.
– Sabes…
– O quê?
– Tu é que me podias fazer uma lipoaspiração…
– Era?
– Era. Justifica-se muito mais…
– Isso é verdade!
– Bah!... Justifica-se mas não é por isso… Se…
– Vais-me chamar gorda?
– Não! Pelo contrário, se estou a dizer que eu é que preciso…
– Isso é verdade.
– Não tens de estar sempre a concordar… Ainda por cima com esse sorrisinho e com tanta prontidão.
– Então, justifica-se porquê?
– Já tenho a sonda…
– A sonda?
– Sim, e está preparada, basta usares.
– Queres que eu te lipoaspire a glande?
– A glande, o corpo cavernoso, o escroto…
– Que está bem para vulva.
– O quê?
– O escroto… A palavra.
– Nunca leste os Skrotinhos?
– Não.
– Mas devias, têm tiras geniais.
– Tiras?
– É banda desenhada.
– Não tiras?
– O quê?
– A poderosa sonda que te emagrece.
– Tiro?
– Para fora!... Eu tenho um bom poder de sucção mas acho que não fará grande efeito por cima das calças e…
– Ah!... Agora?!
– Não, se não te dá jeito, deixa estar. Marcamos para outro dia.
– Não, dá. Claro que dá. Aqui?
– Tens mais sondas noutros lados?
– Não é isso…
– Tanta coisa, parece-me que será melhor ser eu a emagrecer. Empurro o banco todo para trás e tu pões-te de joelhos aqui debaixo.
– Não caibo.
– Como é que sabes, já experimentaste?
– Não.
– Então…
– Mas podemos ir para cima.
– Também podemos ficar no carro. O que me interessa ter um amante portátil…
– Portátil… Não sou assim tão pequeno!
– És maneirinho, cabes em todo o lado… Olha… E acho que bem arrumadinho também cabes aqui.
– Eh pá! Mais um bocadinho e o banco ficava na mala.
– É espaçoso, não é?
– E os vizinhos?
– Os condóminos?
– Sim, se algum chega entretanto?
– Achas que falavam nisso na próxima assembleia?
– Provavelmente…
– A garagem é área comum ou pertence aos apartamentos?
– É comum, claro, mas cada um tem direito a um lugar. Devia ser uma box mas o construtor nunca acabou…
– E este lugar é o teu?
– É.
– É da tua fracção?
– É.
– Então: eles que se lixem! Hoje fazemo-lo no carro, já tenho saudades.
E deu-lhe as cuecas para a mão, que tirou de dentro da mala, ante o boquiaberto espanto dele, puxou as saias para cima, sorrindo, mostrando-lhe uma surpreendente alteração depilatória e deitou o banco enquanto encolhia as pernas para o deixar passar.
– De joelhos, meu menino, de joelhos!

Ocaso (By: Florlinda Espancada)

Um travo de ti em qualquer tapete
em que o meu corpo se deite;
eu procuro-te em qualquer amante
que o meu corpo contenha e aceite
mas não encontro sequer atenuante,
nada sinto que a memória não suplante;
quando me enchem sinto-me ausente,
quando estou vazia, tudo em mim te sente;

Vem! Vem! Vem! Não faças caso
de mais vidas que estejam por viver
de mais almas que estejam por apreender;
aceito e submeto-te o meu ocaso.
Aceita e entrega-me o teu cansaço
pendura-o em mim, e passo a passo,
será casaco no meu peito - teu espaço;
mangas compridas para melhor te ter.

1000 lugares para conhecer antes de morrer


Alexandre Affonso - nadaver.com

17 dezembro 2009

Pássara aos saltos

Reproduzo uma pérola que encontrei no Expresso, e manifesto a minha solidariedade para com a senhora. Não me apetece recorrer ao supremo vernáculo, embora saiba que aqui o poderia fazer, mas isto é assim como... ter a pássara sempre aos saltos.

Original aqui.

Mulher sofre acidente e fica com libido insaciável

Um dano num nervo da pélvis, provocado por um acidente de automóvel, mudou para sempre a vida de Joleen Baughman: aos 39 anos sente um "insuportável" desejo sexual... 24 horas por dia.

O sismo desta madrugada explicado pelo Bartolomeu


"Seria... uma-e-tal da madrugada
Tremeu a terra, fodia eu, a minha amada
Gemeu, içou a cona enlangonhada
e disse: Oh, Bartolomeu, que foda tão bem dada!

De manhã, no carro, ouvindo o rádio:

Dizem as notícias numa voz muito alarmada
Ocorreu um sismo numa área afundada
Sorri-me e falei mentalmente ao camarada
Qual sismo, qual caralho, era eu, que fodia a minha amada!"

Bartolomeu

História do dedo apontado

Acordas-me e já não é de manhã, meu amor; será? Dizes que acabaste de chegar, que a viagem foi imensa, que estiveste nos extremos de tudo e de ti e que eu estive contigo. Não estive, meu amor. E tu sabes bem, porque me ouviste, várias vezes, chamar-te. Na mudança de estação pendurei-te no armário. Um dia, vais dizer que me afastei de ti. E eu sei que apenas me larguei onde me deixaste ficar. Mas não te vou explicar. Nem vai haver nada para explicar, porque eu, meu amor, acredito sempre em ti e , por consequência, nas tuas acusações.

Acasos


Encontros fortuitos,
acasos desencontrados,
o estar no sítio errado
à hora menos apropriada…

Tomarem-nos de assalto
o corpo e o coração
e deixarem-nos à deriva
quando menos esperamos
(acaso o esperamos?).

O tempo é de invenção
e enquanto o amor não acontece
contentamo-nos, talvez,
com as imperfeições
dos casuais eternos
mal amados...

Foto e poesia de Paula Raposo

O andaralho

Esta estatueta em bronze com 19cm de altura, da autoria de P. Leroux, chegou agora de França e nem mostra sinais de cansaço.
Tem uma serpente enrolada ao... tronco do... andaralho. E a serpente é amovível.
Mais um miminho para a minha colecção.




Jaxtraw especial na tal



Como seria de esperar, o desempenho no trabalho do Pai Natal começou a sofrer pelo tempo todo que ele gasta a fazer oh-oh-oh...

16 dezembro 2009

É só isto?

Eram de camurça e de um salto que, a mim, me parecia bastante alto. O cano ficava-te um pouco acima do meio da perna, não eram botas muito altas. As paredes eram de um cinzento bastante escuro, mas não chegavam a ser antracite, e o tecto, provavelmente falso em pladur, pintado de preto. Não era um preto amedrontado, muito menos um cinzento demasiado escuro, era um preto abissal, do mais preto que um preto pode ser. Com a iluminação imbutida junto aos rebordos, numa luz ténue, regulável, que jorrava pelas ondulações das cortinas brancas. Como brancos eram os lençois da cama e do edredon que a tapava.

Se o meu olhar fosse perfeitamente calibrado, poderia dizer que as tuas pernas se abriam de tal modo que os teus pés, fincados no chão com esse salto bicudo, distavam entre si uns bons cinquenta centímetros. Estavas sentada na beira da cama, do lado direito da cama para ser mais preciso, com os teus braços apoiados nas coxas e as mãos juntas. Pendendo a cabeça, os teus cabelos cediam à gravidade e tapavam-te o rosto. Longos, entre as tuas pernas, passavam o plano imaginário das coxas roliças e ondulavam ligeiramente. Porque o teu corpo, vivo, pulsava e respirava, e porque também as cortinas à tua frente ondulavam ligeiramente pela brisa que entrava, numa noite muito tranquila, quente, em que a porta do quarto para a varanda, deslizante e em vidro, de alto a baixo, estava totalmente corrida para o lado. A barreira entre o nosso universo e o mundo dos estranhos, se lhes desse para olhar e alguém lá fora estivesse, seria apenas um tecido ondulante com sombras mal definidas mas, porventura, sugestivas.

Observava-te enquanto, com o telefone encostado ao ouvido, ignorava as palavras que me dirigiam. Sei que respondi qualquer coisa como «Pode ser, obrigado» e desliguei. Nas tuas costas, e no lado oposto da cama, permaneci em pé, a ver o teu cabelo ondular. Deixei-me encostar à parede, flectindo uma perna e apoiando a maior parte do peso na outra. Cruzei os braços. O clique do telefone que pousei fez-te virar a cabeça um pouco para a esquerda. Com o olhar acompanhei o contorno das tuas pernas, passando por aquela curva que tanto aprecio, quando as coxas se transformam em anca e depois em cintura. Continuavas imóvel. E eu também. Qualquer palavra minha, ou gesto, podiam interromper os teus processos neuronais, as ponderações, as avaliações que estavas a fazer. Como balança, pesando isto e aquilo. O conhecido e o desconhecido.

Mas então, finalmente, cruzas as pernas. Primeiro uma, para abrir o fecho, no lado interior das botas. Depois a outra. Com a prática de muitos anos demoras o que a mim me pareceram pouco mais de dois ou três segundos para desapertar e arremessar o soutien para o chão. E com um movimento muito fluído, ao mesmo tempo que o teu corpo se levanta e começa a descolar do colchão, as tuas mãos agarram a reduzida tanga e obrigam-na a contornar primeiro os glúteos, depois a descer pelas coxas e seguidamente a cair abaixo dos joelhos. Quando te viras para mim ostentas já a tua nudez. Talvez, ainda, ligeiramente desconfortável. Porque com o teu braço esquerdo, flectido, seguras os seios. Lembro-me de estranhar, na altura, como protegias os seios e, no entanto, nada fazias para tapar a púbis. Geométrica no corte, perfeitamente tratada. Feminina, presente, vísivel. Os teus lábios, grossos e com gloss, brilhavam naquela luz tépida e chamavam ao beijo. Não me engano. Era tépida sim, aos meus sentidos. Pela côr, por alguns contrastes e pela temperatura do ar, que nos permitia uma nudez sem arrepio.

Estavas, então, virada para mim, nós os dois em lados opostos, tu praticamente encostada à cama, e eu do outro lado, ainda apoiado na parede cinzenta. Deixaste então cair os braços porque gatinhaste sobre a cama até a navegar à outra margem. Olhavas-me fixamente, e então sentaste-te mesmo à minha frente. Disseste das primeiras palavras desde que tinhamos ali entrado, passavam então mais de três quartos de hora. «É só isto?», sim, que era só mesmo aquilo. Era esse o plano, como que num momento de ilusionismo, sem antes nem depois, mas com um durante elástico que se estende na memória mas não rompe, nem faz tropeçar. «E se quiser mais? Ou tu, e se tu quiseres mais?», como saber, que dizer? Se se quiser mais, se houver mais, vai ser preciso encontrar outras paredes cinzentas e tectos pretos, vais ter de gatinhar novamente até mim, ou eu, até ti. Vais ter de vir ao meu encontro sem roupa para vestir, porque é assim que te quero. Vais ter de vir ao meu encontro nestas noites de calor, quando te posso olhar sem tremer. Mas é muito improvável que isso aconteça. «Porquê?», porque, tu sabes, isto só acontece uma vez. A seguinte seria sempre diferente, e a outra depois disso ainda mais diferente, e à vigésima já isto seria nada. Já não virarias a cabeça quando ouvisses o clique do telefone, nem a ondulação das cortinas conferiria qualquer magia a este cenário. Isto era coisa para acontecer uma vez na vida. Com muita sorte e inteligência, duas. Talvez até três, se a vida fosse suficientemente longa e os corpos ainda firmes na determinação da alma.

Recuaste na cama até ocupar uma posição central. Depois deixaste que te colocasse uma venda sobre os olhos, e embora tivesses as pernas e os braços soltos, quem mandava neles era eu. Segurando-te pelos pulsos, acima da cabeça, debrucei-me sobre ti e disse-te que na minha cabeça existia muito sexo, demasiado sexo, todos os dias, a todas as horas, e que já te tinha fodido vezes sem conta, mesmo quando não sabias, e até mesmo quando sabias. Soltaste uma gargalhada, num momento de descontracção, algo que ainda não tinha acontecido até ali, e perguntaste-me «E então? Sabes o que fazer comigo?». Pausei um pouco. Apenas um pouco. E depois respondi-te, “vamos vendo, pelo caminho”. Depois de respirares fundo disseste-me «Está bem. Estou pronta», e com isso deixaste os teus lábios brilhantes descolar, a boca entreaberta e um ligeiro movimento no pescoço, de quem espera algo.

www.geografiadascurvas.net

Sugestão musical



Não é tão contagiante como "I've gotta feeling" do BEP mas... tem uma sonoridade muito própria para além da riqueza da letra, claro.

Tiger in the Woods



HenriCartoon

Como fazer uma boa propaganda

Esse post é para vocês, aspirantes a publicitários.
O uso da mulher em uma propaganda é bom, é inclusive recomendável. Mas é importante saber utilizar a imagem feminina em uma propaganda. Por que às vezes ela pode acabar tomando conta do espaço publicitário, e ofuscando o produto.
Tenho dois exemplos, do uso correto e incorreto, de uma personagem feminina em um comercial. Primeiro o uso incorreto, vejam como o produto fica totalmente ofuscado, muitas pessoas nem sequer verão o produto:


Viram o produto? É uma propaganda da Pepsi. Tem uma latinha na foto, eu juro.

E agora o uso correto, vejam como o produto se encontra em uma posição de destaque:


Pensou em Vodka, lembrou 42 Below.

Espero que vocês tenham aprendido.

Capinaremos.com

15 dezembro 2009

Só para pilas com sangue azul

Na noite


Noite e uma rua sem trânsito,
pouca luz ou nenhuma,
prédios decadentes,
pedras soltas na calçada
e um corpo ao virar da esquina.

Antiga sabedoria,
Ou o ritual semi esquecido
da sobrevivência,
a marca mais vincada
de um corpo esquecido,
numa rua qualquer,
na noite sem trânsito,

à mistura com as pedras soltas,
a calçada escura
e a exausta solidão.

Foto e poesia de Paula Raposo

«Eros Secret»

O mais recente livro da minha colecção é sobre... uma colecção de arte erótica dedicada a peças com segredo.
Um mimo.
Como sempre digo, tenho sempre pena de não ter muitas das peças que vejo em colecções e museus... mas fico molhadinha ao constatar que tenho algumas dessas peças (ou idênticas) e ainda fico mais ensopadinha quando verifico que tenho algumas peças que esses outros coleccionadores decerto gostariam também de ter.




Noblesse oblige


1 página

oglaf.com

14 dezembro 2009


Teach Me...

...or I will teach you.

Superficial

Olá, meu guerreiro!
Eu sou a solidão
que tu não expulsaste
quando não me chamaste
no meio da multidão;
as entranhas te devoro
de dedos com teias de aranha
a dilatar na tua garganta.
Bebe bem o meu cheiro:
solidifica nos teus pulmões,
já que defines emoções
falsas que se extinguem
em descritivas coerências,
em sínteses do imensurável
estrondo das paixões,
nos relatos do inenarrável;
e assim, os vazios se distinguem
em palavras que só conseguem
apenas imitar bem.

Cartas com gravuras eróticas só visíveis contra uma luz forte

Há aquisições que faço que me deixam especialmente molhadinha. É o caso deste baralho de cartas, uma reprodução relativamente recente de um baralho de cartas originalmente produzido na Holanda no século XVIII. Sim, sim, conheço quem tenha baralhos originais, mas esses custam acima de 3 mil euros...
À primeira vista, são cartas normais. Mas colocando-as à frente de uma luz forte, aparecem gravuras eróticas, todas elas diferentes umas das outras. As cartas com figuras (damas, valetes e reis) são especialmente bem conseguidas. Curiosidade: no século XVIII as figuras ainda não tinham um eixo de simetria a meio, inventado posteriormente para que os adversários não soubessem quem tinha cartas dessas, quando as rodava.
Isto faz-me lembrar outras delícias da minha colecção: os litofânios eróticos de que vos falei e que vos mostrei aqui, em Março de 2007.
Apreciem... embora ao vivo seja uma experiência bem mais entesante (sim, sim, eu disse interessante):





O dois de copas


O seis de paus


O sete de copas


O nove de ouros


O ás de ouros


O ás de espadas


O valete de paus


O rei de ouros


O rei de copas


A dama de ouros


A dama de copas