– Sabes o que me apetecia?
– O quê?
– Que me fizesses uma lipoaspiração.
– Uma lipoaspiração?!
– Sim. Uma lipoaspiração não invasiva…
– Desculpa?
– Não invasiva e natural.
– E como é que eu faria isso?
– Com a língua, a boca, os lábios…
– Ah!... Querias que eu te aspirasse os grandes lábios?
– Os grandes lábios?!
– Sim, que eu te lipoaspirasse a vulva?
– A vulva?!
– Que careta é essa?
– A vulva… Porque é que eu havia de querer que me lipoaspirasses os grandes lábios?
– Tu…
– Por essa ordem de ideias também me podias lipoaspirar as virilhas, os pequenos lábios…
– Havia de lá chegar.
– Mas porque é que vocês não vão directos ao assunto?
– Qual assunto?
– Qual assunto!?... Ao clítoris! Aí é que eu queria o teu empenho e cuidada aspiração…
– Ah…
– Se for preciso andam sempre a queixar-se que nós só pensamos é em carinho, em abraços e beijinhos, que passamos tempo demais sem ele na boca e, afinal…
– Afinal?
– Sim, e afinal vocês gostam – ou não sabem – de andar à volta, de rodear, de dar atenção ao que não quer a você atenção…
– Não sabemos?
– Foca-te. Centraliza-te. Concentra-te. Converge!
– Convirjo?
– Sim, converge para onde realmente interessa e deixa os grandes lábios, os pequenos… Deixa o resto da vulva em paz.
– Eu gosto da vulva… É uma palavra espectacular.
– Uma palavra?! Tu gostas da palavra?
– E do sabor.
– Menos mal.
– Sabes…
– O quê?
– Tu é que me podias fazer uma lipoaspiração…
– Era?
– Era. Justifica-se muito mais…
– Isso é verdade!
– Bah!... Justifica-se mas não é por isso… Se…
– Vais-me chamar gorda?
– Não! Pelo contrário, se estou a dizer que eu é que preciso…
– Isso é verdade.
– Não tens de estar sempre a concordar… Ainda por cima com esse sorrisinho e com tanta prontidão.
– Então, justifica-se porquê?
– Já tenho a sonda…
– A sonda?
– Sim, e está preparada, basta usares.
– Queres que eu te lipoaspire a glande?
– A glande, o corpo cavernoso, o escroto…
– Que está bem para vulva.
– O quê?
– O escroto… A palavra.
– Nunca leste os Skrotinhos?
– Não.
– Mas devias, têm tiras geniais.
– Tiras?
– É banda desenhada.
– Não tiras?
– O quê?
– A poderosa sonda que te emagrece.
– Tiro?
– Para fora!... Eu tenho um bom poder de sucção mas acho que não fará grande efeito por cima das calças e…
– Ah!... Agora?!
– Não, se não te dá jeito, deixa estar. Marcamos para outro dia.
– Não, dá. Claro que dá. Aqui?
– Tens mais sondas noutros lados?
– Não é isso…
– Tanta coisa, parece-me que será melhor ser eu a emagrecer. Empurro o banco todo para trás e tu pões-te de joelhos aqui debaixo.
– Não caibo.
– Como é que sabes, já experimentaste?
– Não.
– Então…
– Mas podemos ir para cima.
– Também podemos ficar no carro. O que me interessa ter um amante portátil…
– Portátil… Não sou assim tão pequeno!
– És maneirinho, cabes em todo o lado… Olha… E acho que bem arrumadinho também cabes aqui.
– Eh pá! Mais um bocadinho e o banco ficava na mala.
– É espaçoso, não é?
– E os vizinhos?
– Os condóminos?
– Sim, se algum chega entretanto?
– Achas que falavam nisso na próxima assembleia?
– Provavelmente…
– A garagem é área comum ou pertence aos apartamentos?
– É comum, claro, mas cada um tem direito a um lugar. Devia ser uma box mas o construtor nunca acabou…
– E este lugar é o teu?
– É.
– É da tua fracção?
– É.
– Então: eles que se lixem! Hoje fazemo-lo no carro, já tenho saudades.
E deu-lhe as cuecas para a mão, que tirou de dentro da mala, ante o boquiaberto espanto dele, puxou as saias para cima, sorrindo, mostrando-lhe uma surpreendente alteração depilatória e deitou o banco enquanto encolhia as pernas para o deixar passar.
– De joelhos, meu menino, de joelhos!
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