14 março 2014

Análise simbólica das manifestações diante do Parlamento

Mais uma manifestação de descontentamento , e certamente muitas outras virão diante do Palácio de São Bento.
O edifício onde funciona a Assembleia da República data do Séc XVI.
Construído em estilo neoclássico, poucos edifícios poderiam exprimir melhor o que existe no Homem no que toca à sua subconsciente matriz organizacional no que ao simbolismo do Poder diz respeito.
Assente sobre a sublimação do falicismo, a fachada do edifício replica essa eterna referência e é assim com muita naturalidade que o imóvel transitou do seu objectivo original, mosteiro Beneditino, para sede de Poder, mal esse Poder extinguiu as ordens religiosas, um dos braços de uma outra expressão de Poder que na essência tende a ser sempre e apenas um.
É diante do edifício que se têm produzido ciclicamente manifestações e é no pormenor particular do afrontamento simbólico do Poder instituído que devemos centrar a nossa atenção.
Tecnicamente é fácil tomar o edifício se foram consideradas as alas laterais, que estão praticamente ao mesmo nível da entrada principal. As escadarias diante do edifício são um enorme inconveniente, já que uma
pressão de massas nas laterais empurra quem defende o edifício para os lances inferiores fazendo perder a eficácia de uma eventual cortina de defesa.
No entanto, os manifestantes colocam-se sempre na parte inferior das escadarias, olhando de baixo para cima para o edifício, num alinhamento com o topo do triângulo, o Falo ancestral, o Poder.
É um momento de enorme carga simbólica. Ao colocarem-se na parte mais baixa da escadaria, elevando o olhar, assumem a sua posição no que à pirâmide de Poder diz respeito, reconhecendo a sua subalternidade enquanto afrontam esse mesmo Poder. Não é a tomada do Poder que é pretendido, mas sim a contestação do mesmo, e a tomada de lances de escada, no sentido ascensional, emerge do mais profundo do Homem no que à sublimação para o campo do simbólico, relativamente ao fenómeno da erecção fálica diz respeito e quanto à projecção do mesmo como expressão de força.
Se olharmos para as fotos do edifício e as suas imediações teremos diversas perspectivas do mesmo. Vistas
as fotos mais antigas reparamos como as escadarias, que hoje são vistas como ante-câmaras abertas do edifício, eram apenas um ornamento externo e que uma rua dava acesso directo a um pequeno lance de escadas à entrada principal.
 O facto de terem feito um contínuo do empedrado ligou de forma absoluta a escadaria ao edifício, potenciando por esse motivo todas as manifestações e operações de confrontação ao Poder.
O que o futuro nos irá trazer, só aos Deuses cabe responder, mas os dados estão lançados e o Homem, sendo eterno, é de forma eterna que os dados se organizam, sempre da mesma forma, dando sempre as mesmas respostas.
E a haver acontecimento digno de nota, não será certamente pelo facto de assistirmos a manifestações.
Mas estas são certamente de levar em conta, se não se quiser consultar os oráculos.