Senti o teu cheiro, aquele cheiro que me arrepia a pele, ainda antes de tu chegares.
Na expectativa desse encontro há tanto adiado, a minha mente divagava pelas lembranças dos nossos últimos momentos. Conseguia reviver cada gesto, cada palavra, cada lágrima, cada sorriso. Conseguia sentir o calor do teu corpo, ao mesmo tempo tão longe e tão perto. E a melancolia aproximou-se ao mesmo tempo que o nervosismo e o desejo. O ódio, a paixão que nunca devia ter existido, a crença e a desilusão gritavam dentro de mim pedindo para sair. E, para me libertar, só havia uma forma: deixar que toda essa turbulência se apoderasse de mim, do meu corpo, percorrendo cada centímetro daquilo que iria ser teu. E deixando-me ir sem pensar, senti o desejo, esse desejo tão carnal, sexual, insaciável e incurável que sempre nos uniu; enroscar-se em mim, trepando pelo meu corpo como uma cobra prestes a atacar. E essa cobra mordeu-me, fazendo com que me realizasse e te completasse através de mim, do toque dos meus dedos, do som dos meus gemidos, do meu suor que cheirava a ti. Realizei-me em mim, por ti. E, ao som do arfar da minha respiração, recordava a perfeição do nosso encaixe, a forma como os nossos corpos se completavam um ao outro, fazendo com que parecesse um só.
E depois do último tremor do orgasmo que me deste sem estares presente, comecei a cair no mar dos sentimentos. Sendo abandonada pelas sensações, entreguei-me a viver algo de mais profundo, algo doloroso. Lembrei os planos, as promessas, as ilusões, o riso fácil e espontâneo. Lembrei os momentos de perfeição, aqueles que eram só nossos. Lembrei aquele motel onde nos perdemos e achámos um no outro. E comecei a procurar as marcas físicas no meu corpo, aquelas feitas pela dor da minha alma. E apesar da desilusão, do engano, da esperança vã, da mágoa, da raiva, do sentimento de injustiça e desespero, não havia marcas na minha pele. Apenas o brilho do prazer solitário e a imensidão dos meus olhos conseguiam retratar a realidade. A minha realidade. A nossa realidade.
Porque, mais uma vez, tu não vieste. E finalmente recordei aquilo que tanto queria esquecer: para ti, assim como para os outros, eu era apenas uma puta...
Eva
blog Eva portuguesa - porque o prazer não é pecado