25 março 2014
«Copo» - Susana Duarte
Beijo-te através de um copo de vinho
que é sangue e é corpo.
Beijo-te através das letras que as minhas mãos te desenham
no rosto.
As mãos desenham-te arabescos de vida,
e eu, sou um porto.
[As vielas da vida são as estradas iluminadas dos teus cabelos de sol e mosto].
Beijo-te, no cais dos dedos,
de onde partem carícias e segredos.
[amo-te na flor da noite e do leito, como o copo de vinho que se entrega à boca voraz].
Aqui, a teu lado, o meu corpo.
Jaz deitado na face da lua, onde
és homem, e eu, sou maré nua.
As algas das noites solitárias espraiam-se no leito.
O teu corpo: é nele que me deito.
[As algas das noites solitárias morrem no calor do meu peito
O teu peito é a aurora tingida de sangue que verte das lágrimas de um Fado].
Eu, aqui, beijo-te o corpo de vinho
e sal e pedras e flores e pontes e portos e chegadas.
E luas. E asas nuas. E Alma…quando me iças nos braços
e deitas, sobre mim, marés de laços que não se desatam e, de ti,
me não tolhem.
[Pode vir a chuva].
Se a chuva vier devagarinho, na noite,
se a chuva vier violenta, na noite,
serei a luz do sol que te enxuga as lágrimas da despedida.
Deita-me sobre a lua e abraça-me a noite da partida.
Bebo-te o corpo de manhãs claras
e celebro em ti a vida,
e as veias,
e o copo de vinho,
e a luz
e as imagens
e as marés que me percorrem dentro de uma mão.
Susana Duarte
Blog Terra de Encanto
"Pescadores de Fosforescências"
Alphabetum Edições Literárias
Dezembro de 2012
Prefácio: Maria Elisa Ribeiro
Fotografias: Ivano Cetta