Mais uma manifestação de descontentamento , e certamente muitas outras virão diante do Palácio de São Bento.
O edifício onde funciona a Assembleia da República data do
Séc XVI.
Construído em estilo neoclássico, poucos edifícios poderiam
exprimir melhor o que existe no Homem no que toca à sua subconsciente matriz organizacional
no que ao simbolismo do Poder diz respeito.
Assente sobre a sublimação do falicismo, a fachada do edifício
replica essa eterna referência e é assim com muita naturalidade que o imóvel
transitou do seu objectivo original, mosteiro Beneditino, para sede de Poder,
mal esse Poder extinguiu as ordens religiosas, um dos braços de uma outra
expressão de Poder que na essência tende a ser sempre e apenas um.
É diante do edifício que se têm produzido ciclicamente
manifestações e é no pormenor particular do afrontamento simbólico do Poder instituído
que devemos centrar a nossa atenção.
Tecnicamente é fácil tomar o edifício se foram consideradas
as alas laterais, que estão praticamente ao mesmo nível da entrada principal. As
escadarias diante do edifício são um enorme inconveniente, já que uma
pressão de
massas nas laterais empurra quem defende o edifício para os lances inferiores fazendo
perder a eficácia de uma eventual cortina de defesa.
No entanto, os manifestantes colocam-se sempre na parte
inferior das escadarias, olhando de baixo para cima para o edifício, num
alinhamento com o topo do triângulo, o Falo ancestral, o Poder.
É um momento de enorme carga simbólica. Ao colocarem-se na parte mais
baixa da escadaria, elevando o olhar, assumem a sua posição no que à pirâmide
de Poder diz respeito, reconhecendo a sua subalternidade enquanto afrontam esse mesmo Poder. Não é a tomada
do Poder que é pretendido, mas sim a contestação do mesmo, e a tomada de lances
de escada, no sentido ascensional, emerge do mais profundo do Homem no que à
sublimação para o campo do simbólico, relativamente ao fenómeno da erecção fálica
diz respeito e quanto à projecção do mesmo como expressão de força.
Se olharmos para as fotos do edifício e as suas imediações
teremos diversas perspectivas do mesmo. Vistas
as fotos mais antigas reparamos
como as escadarias, que hoje são vistas como ante-câmaras abertas do edifício,
eram apenas um ornamento externo e que uma rua dava acesso directo a um pequeno
lance de escadas à entrada principal.
O facto de terem
feito um contínuo do empedrado ligou de forma absoluta a escadaria ao edifício,
potenciando por esse motivo todas as manifestações e operações de confrontação
ao Poder.
O que o futuro nos irá trazer, só aos Deuses cabe responder,
mas os dados estão lançados e o Homem, sendo eterno, é de forma eterna que os
dados se organizam, sempre da mesma forma, dando sempre as mesmas respostas.
E a haver acontecimento digno de nota, não será certamente pelo facto de assistirmos a manifestações.
Mas estas são certamente de levar em conta, se não se quiser consultar os oráculos.
E a haver acontecimento digno de nota, não será certamente pelo facto de assistirmos a manifestações.
Mas estas são certamente de levar em conta, se não se quiser consultar os oráculos.