23 agosto 2005
"No escurinho do cinema..."
Entrou já o filme tinha começado. A sala estava cheia. Sentou-se no local escolhido. Mais ou menos a meio da fila.
Gostava de cinemas cheios. Escolhia sempre filmes em dias de estreia.
Pousou mala e casaco no colo.
Concentrou-se no ecrã.
Sentiu algo a roçar nas meias de nylon. Olhou para o lado. O rosto masculino, desconhecido, olhava fixamente em frente.
- Um rosto simpático - pensou.
A perna do parceiro de fila parou quando ela o olhou. Recuou.
Ela nada disse.
Passados uns minutos, ele mais ousado e encorajado pelo consentimento implícito no silêncio, encostou descaradamente a perna à dela.
Viu quando ele se baixou como se fosse apanhar algo que caíra. Primeiro sentiu o toque no tornozelo. Os dedos tocaram-na ao de leve.
Ao levantar-se a boca dele deixou um beijo na perna, perto da orla da saia. Com os dentes levantou-a ligeiramente.
Ela nada disse.
Ele insinuou a mão por debaixo da mala e do casaco. Pousou-a no colo dela.
Em convite, ela entreabriu as pernas.
A mão deslizou por baixo da saia…
Ela nada disse.
Ela fechou os olhos. Concentrou-se na mão entre as pernas.
Nada nela indicava o prazer que sentia. Imóvel.
Invisíveis mão e prazer. No escuro, imagens, sons.
Suspirou. Fechou as pernas.
Ele retirou a mão. Endireitou-se na cadeira.
Olhou-a. Sorriu confiante.
Ela gritou.
Levantou-se. Atingiu-o com a mala repetidamente.
Ele olhava-a atónito.
- Tarado. Parvalhão. Não me toque. Anormal. Pervertido.
Quando tentou justificar a inocência com o consentimento da vítima, que chorava agora copiosamente perante o ultraje a que tinha sido sujeita, começou a ser insultado e empurrado pelos outros espectadores indignados.
Além de ter tentado abusar da senhora, diziam, ainda a difamava.
Teve de ser levado da sala sob protecção dos seguranças.
A vítima, mais calma e rodeada da simpatia geral, assistiu ao resto do filme.
Foto: Ilona Wellmann
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário
Uma por dia tira a azia