Para podermos usufruir de tudo o que fazemos com o nosso sexo e o do parceiro ou da parceira, é preciso aprendermos, ultrapassarmos os preconceitos — por exemplo, e escolho um mesmo estapafúrdio, de que a masturbação torna o clitóris defeituoso e prejudica os orgasmos em adulta (algo que cheguei a ler em adolescente!) — e descontruirmos algumas das bases da educação social e da moral vigente.
Comer também é natural, no sentido de que faz parte da vida e precisamos desse acto para sobrevivermos. Tiveram os nossos pais, normalmente, de educar e preparar todo o nosso aparelho digestivo, desde bebés, para comermos os alimentos que vão sendo introduzidos progressivamente desde que não temos dentes, até os termos, numa sequência também lógica da maior para a menor tolerância (acompanhando o desenvolvimento do dito aparelho).
As necessidades fisiológicas, como por exemplo fazer xixi, são absolutamente naturais e necessárias, nascemos com capacidade inata para as realizarmos, mas ensinam-nos a controlar os músculos responsáveis pela vontade de as resolver... e assim passamos das fraldas ao bacio... e por aí diante.
O mesmo é com o sexo, mas aqui parece que tudo é feito ao contrário, o que se me afigura digno de reflexão e questionamento...
Vamos sendo educados para considerar que o sexo só faz sentido numa relação a dois, onde haja amor e onde deve existir só de forma exclusiva. E que os homens, diferentemente das mulheres, terão "necessidades diferentes", normalmente acrescentando um "pronto", sem qualquer acrescento de argumentação (ideia com a qual não concordo e que dará origem a um texto autónomo). Esse tipo de socialização/educação anda de mãos dadas com os tabús e origina a que eu tenha de me esconder por detrás deste nick, porque ainda que exista gente interessante, a maioria das pessoas é profundamente conservadora (e, por profundamente, entendo isso mesmo, que o conservadorismo poderá não se notar logo à superfície e estar lá...)
E, por vezes, pergunto-me porque é que é assim. Pergunto-o a mim e aos outros. Porque é que qualquer pessoa é a encarnação (literal) de o que originariamente começou por ser um acto sexual, com ou sem amor, fruto de uma relação ou de um caso, de um encontro esporádico ou de um entre muitos, e ainda há tanto pudor acerca do que não é mais simples porque não se quer, do que é uma brincadeira entre adultos?
Eu valorizo MUITO o sexo; por isso considero-o uma brincadeira séria. Não o faço por dá cá aquela palha nem com qualquer um que me apareça à frente. Até porque não preciso só do corpo para ter relações satisfatórias, preciso de estar bem comigo e com a minha cabeça, preciso do cérebro — o que de mais erógeno tenho no corpo — e de me entregar a quem considero que me merece. Talvez por isso o encare como uma espécie de arte... Gosto de investir numa pessoa e, assim como em miúda tinha "melhores amigas", em adulta sigo o mesmo princípio de ter "o melhor amante", ou a pessoa a quem me dedico em exclusivo — ou quase, se não se der o caso de ter uma relação amorosa e exclusiva e de amor, etc. Mas tenho de aceitar que, desde que as pessoas se protejam de doenças, quer homens, quer mulheres, devem fazer aquilo que bem lhes apeteça e lhes dê na real gana. Porque, bolas, sexo e reprodução estão separados desde o momento em que é comum comprarem-se preservativos, pílulas, espermicidas, DIU, anéis hormonais e o rol de métodos contraceptivos que actualmente — e há muito — existem.
Sexo deve ser igual a prazer e nem sempre é igual a amor. A partir daí, porque é que a mulher que brinca com um homem hoje e daqui a dois ou três dias com outro, há-de ser uma "puta" (sentido pejorativo) e ao homem ninguém liga puto se ele hoje andar com fulana e amanhã com sicrana? E, inclusivamente, fazem-se anúncios publicitários em que se vangloria que um homem esteja com duas mulheres na mesma cama... e tal é visto de forma divertida...
E eu ainda ia falar da hipocrisia do dia da mulher... mas já fica demais neste texto...