08 março 2007

dia de mulher... Mulher a Dias

Não "vou" muito com estas efemérides. Os dias fazem-se todos da mesma massa. E é bom que seja da boa! Há um ano, pela comunidade dos blogs lançaram-me um desafio de que resultou este poema. Até onde um homem pode sentir a mulher? Em homenagem à São, essa destrambelhada militante, aqui o deixo. Lamento a extensão. Mas há gritos de alma que não se medem aos palmos...

Mulher a dias
de manhã metamorfose
foge-me o tempo na lida
latem-me as horas na têmpora
cavalgo a lide do tempo
onde tapo o meu lamento
onde lavo os sentimentos
em barrelas - contratempos
sirvo
serva
sorvo a vida
sirgo a faina desvalida
deixo de amar porque amo
devagar
amo demais
homem – filho - e os meus pais
e a roupa
e a cozinha
arranco a erva daninha
na calçada do cansaço
a salsa dá-ma a vizinha
o sal do meu embaraço
salto alto no espaço
sonho e debaixo do braço
cai suor no rol diário
e sinto a mão do finório
que me apalpa o abandono
no comboio suburbano
reajo - sinto o ultraje
porque demora a viagem
que demora
tanto
tanto
que eu sou virgem nesse pasmo
nesse andar tão devagar
numa vida sem paisagem
sem distância
sem desejo
um beijo
um só que fosse
que me trouxesse o amado
namorado de menina
que não fui mas sou ainda
saio na fila de gente
sempre em frente - sempre à frente
da multidão que me empurra
que grita e bulha
que esbulha o meu tempo a contragosto
que eu não gosto desta vida
eu não gosto do Sol posto
mas da noite
sentir o ar no meu rosto
eu tão nova - delicada
pardal à beira da estrada
e comida
violentada
que já sou mulher de amar
mulher de apetecer
assim me dizem - me fazem
me gritam e me desfazem
de ser só o que eu quiser
e os filhos - o consolo
o trabalho no meu colo
os calos do desconsolo
de me calar sem querer
e saio noutra paragem
findo o dia - a viagem
o tempo sem vadiagem
sem sossego - sem aragem
pago a portagem na praça
onde a grita me trespassa
de pregões e da fumaça
sem ser dona de viver
só labuta e mais labuta
que me força a vida à bruta
onde mal brota o viver
ah quem me dera ser flor
quem me dera ser a outra
flor embora
mas tão puta
que se abrisse
a cada insecto
por interesse
por afecto
por vaidade
por prazer.

3 comentários:

  1. Fónix aqui escreve-se!!!!!

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  2. OrQuita, meu amor belo porque desinteressado, haja alguém que se lembre das gajas no dia delas, que é sempre. Pelo menos para mim é. E para ti, sei-o (seio... hmmm...), também.

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  3. Há coisas que se lêem...e depois as palavras não aparecem, queremos dizer que gostamos, que sentimos, mas as putas das palavras não significam aquilo que nós queremos que elas signifiquem...nessa falta, obrigado por todos os momentos que passei a ler o que escreveste...gostaria de ter sido eu a escrevê-lo mas "um pouco mais de sol e eu fora brasa..." Do princípio ao fim, a mesma corrente, os elos todos presos uns aos outros, sem falhas...a emoção de querer ser...de ser...ou de naõ ter conseguido...uma revolta que mal se sente encoberta pelo que se sente que se vai ser...estarei a ser "complicado" ?

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Uma por dia tira a azia