01 agosto 2007

A Sereia da Caparica


Era uma vez o sofá de veludo verde e a gaiola do canário que já iam de arrasto nas marés vivas e ela olhava impotente aquele parque de campismo da Costa da Caparica onde já tinha sido tão feliz.

O seu mecânico começara por levá-la para a Cova do Vapor, a ver o mar dentro do carro e entre duas larachas ao pôr do sol desapertava a braguilha e levantava-lhe as saias e navegava por ela adentro, sempre a dar como as cavalas a saltar nas redes, até os vidros embaciarem. Outras vezes, lambia-lhe as mamocas todas dizendo que ela sabia a espuma do mar ou deixava-a literalmente sem fala investindo a sua cana de pesca nos lábios pintados de salmão como quem serve um lanchinho mas acabava sempre a chamar-lhe minha sereia.

Juntaram o dinheiro da mecânica com o de lavar e secar cabeleiras e compraram uma tenda, com avançado, candeeiro e frigorífico a gás, para se instalarem em todos os dias livres no parque de campismo, longe da chiadeira dos carris do Cacém e no meio de todas as churrascadas comunitárias em que os homens de tronco nu viravam as febras na brasa e as mulheres em fato de banho mostravam as carnes enquanto arranjavam as saladas nos alguidares plásticos comprados na feira estival do campo dos pescadores.

E agora no meio daquela tempestade, como espírito do ar ia o projecto da caravana munida de opacas paredes que impedissem à noite a projecção das suas intimidades iluminadas para os restantes campistas, transformada em espuma do mar.

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Uma por dia tira a azia