O homem, baixo, feio, hirsuto e ligeiramente manco, aproximou-se com um deslocado sorriso radioso por baixo de um bigode mal amanhado e perguntou gentilmente:
– Boa noite. A menina desculpe, está a trabalhar?
A “menina” que o vira aproximar-se num crescendo de pânico e repulsa foi surpreendida pelo sorriso, pela gentileza e pelo timbre da voz do homem que, no entanto, não superaram a primeira impressão de horror e nojo que se instalara e que a dominava em cada olhar de esguelha que lançava ao homem.
– Sim, estou – respondeu a “menina”, com um sorriso plástico sem expressão.
Os olhos do homem brilharam de contentamento e, num gesto nervoso, rápido e quase imperceptível, levou a mão direita ao bolso das calças onde guardava a carteira, tocou no bolso, sentiu o volume da carteira e perguntou:
– E está livre?
– Eu não sou nenhum táxi – resmungou a mulher, liquidando o ar de menina com que se apresentava.
– Desculpe – pediu o homem. – Eu... Eu não...
– Estava a brincar – interrompeu ela, fazendo um esforço por dar verosimilhança à frase e ao riso com que a dissera. – Não ligue!
O homem voltou a sorrir, abanou a cabeça como se tivesse achado graça e, por fim, quando ela parou de rir, insistiu na pergunta com um ligeiro movimento da cabeça e um simples – E?
– Ah, sim. Estou. Estou livre – respondeu a mulher, com um sorriso nos lábios e angústia no olhar.
O homem alisou o bigode, encolheu os ombros e lançou brandamente:
– Está livre mas não está livre de preconceitos – e sorriu sem mostrar os dentes. A mulher cruzou pela primeira vez o olhar com o dele e não respondeu. Ele concluiu: – Obrigado, de qualquer forma.
– Obrigado?! Obrigado, porquê?
– Por ser transparente. – O homem tornou a tocar na carteira e despediu-se com um – Boa noite e bom trabalho – sem ironia.
– Obrigado – aceitou a mulher, aliviada por vê-lo de costas e a afastar-se. – E melhor sorte numa próxima vida – murmurou sem ironia.
30 junho 2011
29 junho 2011
Os 5 melhores exercícios para obter um pénis Arnold (sim, o Schwarznegger)
De vez em quando dou uma vista olhos pelas coisas que atraem gente via Google para o meu blogue e invariavelmente encontro no top 5 das buscas a expressão “como exercitar o pénis”, título que dei em tempos a uma posta inspirada precisamente neste meu vasculhar do(s macaquinhos no) sótão das tendências dos visitantes para lhes perceber a evolução.
Tendo em conta a realidade acima descrita é fácil de concluir que a evolução é permanente e não falta por aí gente interessada em concentrar-se no body building aplicado a uma zona específica da anatomia masculina.
Consciente desta preocupação da malta com pila na respectiva manutenção e porque nos é concedida sem manual de instruções, além de que é um tema catita para esgalhar uma posta, entendi oferecer aos que têm muito mas querem mais e aos que já estão por tudo para conseguirem levantá-la algumas sugestões complementares à do exercício do toalhão que descrevi na posta acima lincada.
A ideia corrente é a de que a pila é um músculo como outro qualquer e se o trabalharmos com afinco mais enrija.
Apesar da minha fraca sabedoria em matéria de educação física, foi esse o pressuposto que abracei na adolescência quando comecei a minha breve incursão pelo culturismo genital que agora me coloca numa posição favorável para entender as expectativas criadas pelos mais empenhados.
Por isso mesmo tentei encontrar formas de ir de encontro a essas expectativas, concebendo formas acessíveis (estamos em tempo de crise) e simultaneamente eficazes de exercitar o tal músculo tão especial para alguns e para algumas também.
1 – Halteres
Uma vez que a masculinidade é um atributo importante para os detentores de uma pila, tentei encontrar uma forma de colar a imagem máscula desse equipamento clássico do ginásio comum, adaptando-a às diferentes etapas da vida do atleta em causa.
Assim, recomendo na puberdade uma palhinha com dois caramelos de Badajoz, um em cada extremidade, fixando o conjunto numa posição que deixe equidistantes os pesos da cabeça do membro viril.
Com a entrada na adolescência podem substituir a palhinha por um pauzinho do mikado ou similar e trocarem os caramelos por carrinhos de brincar que entretanto convém já não usarem por essa altura.
Depois de adultos, e cumprido um programa rigoroso de exercício diário ao longo das etapas anteriores, podem mesmo arriscar um pau das espetadas com dois nacos do lombo em cada ponta. Esta abordagem permitirá impressionarem as parceiras com um jantar de grelhados de vossa iniciativa e compensará um eventual atraso na obtenção de resultados através deste exercício ainda não testado em humanos (nem em ratos, pois no meu hamster podia tentar com um palito e duas azeitonas, mas tive sempre medo que ele se engasgasse com os caroços).
Nota importante: guardar os caramelos e a palhinha para usos futuros que a vida não está para viagens.
Nota importante 2: na fixação dos halteres à cabeça da pila devem ter em consideração o cuidado de não apertarem demasiado os fios ou cordéis para não correrem o risco de asfixiá-la. E caso optem por outros processos de fixação, evitem sempre as colas de papel como a UHU e jamais recorram a fita isoladora.
2 – Porta-Aviões
Mais uma vez, procurei encontrar uma representação simbólica com laivos de masculinidade mesclados com a evocação das enormes dimensões da embarcação que inspira o segundo exercício que vos proponho.
A ideia consiste em manter a pista consistente para nela aterrarem aeronaves (não interpretem em sentido literal, pois detestaria saber que algum de vós desse cabo das miniaturas airfix do Spitfire por falta de... equilíbrio na pista ou assim.
O exercício consiste em prolongar cada vez por mais tempo a disponibilidade da pista até se atingirem níveis de tráfego semelhantes ao do Aeroporto da Portela. Para os mais pequenos ou mais murchos recomenda-se uma fasquia mais próxima da do aeródromo de Tires para evitar decepções que derivem de alguma sucessão de desastres aéreos.
Pelo nível de concentração exigida nesse esforço de controladores aéreos não se recomenda o recurso à pilota automática.
3 – Martelo Pilão
Este possui logo à partida uma designação muito macha e que permite ultrapassar qualquer renitência por parte dos mais viris de língua.
Como o nome indica, o exercício visa substituir os quebra-nozes clássicos, esse cliché masculino que os apreciadores de filmes de acção tanto apreciam, e proporcionar uma forma realista de testar a dureza entretanto obtida.
Claro que para este teste não se recomendam frutos secos para quem não tem dentes e por isso deverão seleccionar os alimentos a quebrar em função do nível de preparação do atleta.
Sugiro começarem por se oferecerem para partirem a casca dos ovos ao longo da feitura do almoço, pois esta opção permite impressionar em simultâneo a parceira com uma exibição dos resultados do vosso trabalho e com um pretexto magnífico para partilharem as tarefas culinárias a dois.
Devem experimentar a sós até se certificarem de que na hora da verdade não batem com força que chegasse para deixar as claras batidas em castelo (essa prática só é aconselhada a cinturões negros, a campeões veteranos) nem ficam vexados por tentarem, os menos espertos e menos habituados ao tempo passado na cozinha, partir a casca do ovo pelas suas pontas e enfrentarem um flop que é sempre uma experiência traumática quando envolve a pila nas suas exibições de força bruta.
4 – A Táctica Vulcano
Como se depreende, este é um exercício que concebi com base no meu interesse pela Ficção Científica. A Táctica Vulcano, no entanto, não é inspirada no Doutor Spock mas sim no famoso esquentador inteligente que tanta pila já banhou por esse mundo fora.
Por outro lado, o exercício bebe de uma sugestão deixada nas caixas de comentários acerca de mexermos a bica com a ponta. Contudo, e dentro da óptica da segurança pessoal, opto por níveis mais baixos de calor (não vá algum levar-me a sério e tentar mesmo esta proeza) e recomendo que deixem sempre bem claro que não querem uma bica em chávena escaldada.
A Táctica Vulcano possui uma característica que a torna particularmente atractiva para os amantes dos filmes de kung-fu. Qualquer apreciador do género conhecerá a célebre imersão dos dedos médio e indicador, ao longo de horas, num recipiente com areia a ferver. Nos filmes, os donos dos dedos pareciam obter um resultado excelente que lhes permitia, era esse o objectivo do exercício, fazerem explodir os olhos nas órbitas dos inimigos com um simples golpe desferido com os dedos de betão.
Ora, não existe qualquer apelo à violência neste conjunto de exercícios e ninguém quer ensinar a rebentar olhos às pessoas. O uso da pila deve obedecer sempre a critérios de moderação e de bom senso e deve existir sempre consentimento mútuo na sua aplicação prática.
Nesse sentido, a Táctica Vulcano visa apenas preparar o atleta para enfrentar grandes subidas de temperatura com se possa confrontar nas suas incursões pelo que podemos apelidar de vulconas e aprender a evitar o reflexo caracol por parte de uma pila sem experiência em acentuadas variações térmicas.
Aconselha-se uma exposição moderada a água mais quente durante o duche, podendo depois o atleta subir o nível de temperatura até à de um prato de caldo verde aquecido em lume brando durante não mais de dez minutos. E sem chouriço.
5 – Penetração pelas Faixas Laterais
Homem que é homem que acredita que ser homem passa por esse tipo de pormenores não resiste ao apelo futebolístico e isso explica o nome deste exercício vocacionado para fortalecer o órgão no sentido lateral (em sentido literal), nomeadamente no que concerne à firmeza na base quando sob pressão de ladecos.
Este exercício consiste na aplicação prática do conceito de alternância democrática, ora para a esquerda, ora para a direita, na sua equivalente física de uma dupla estalada. A ideia é usar a pila como uma mão para bater na esquerda e logo a seguir na direita, podendo utilizar por exemplo o barro ou a plasticina para assentar a pancada. Estes materiais moldáveis não implicam uma mariquice por parte de quem se sinta com força na verga para esbofetear um fiscal das finanças com aparelho de correcção dentária mas apenas uma rentabilização dos recursos pois permitem a efectiva medição, no baixo relevo, da progressão na força da pancada.
Todo este programa de exercícios especificamente vocacionados para o pénis não dispensa a leitura atenta de uma líbido saudável e desempoeirada.
Caso o atleta não possua inteligência suficiente ou considere inferiores os esforços de índole mental pode sempre confiar no instinto da própria ferramenta e pensar com a pila que ela, quando acoplada a um gajo em condições, sabe sempre o que deve ou não deve fazer no sentido de fortalecer a sua verticalidade e de acelerar o estado de prontidão.
PiroFado
Trata-se de um novo conceito de fado... moderno, inovador e alternativo.
As legendas em novilíngua são só para fintar os gajos do youtube
Pirog(c)a do Tejo
Piroca de Moscavide
Engalanada na proa
Às vezes andas perdida
Pelas ruas de Lisboa
E se as amarras se soltam
E o vento é de feição
Viajas sem passaporte
Falua de perdição
Piroca,
Tu sabes bem
O teu mastro é uma ilha
Bora lá partir a bilha
Ali mesmo em Belém
Piroca,
Sabes nadar?
E se a gaja te abalroa
Afinca-lhe em cima da proa
Com o motor a latejar
Piroca ergue-se ao vento
Festejando o marear
Em ondas de fogo fátuo
Sem medo de naufragar
Navega contra a maré
Lança o lastro devagar
E as gajas a jusante
Começam a gaguejar
Piroca,
Tu sabes bem
O teu mastro é uma ilha
Bora lá partir a bilha
Ali mesmo em Belém
Piroca,
Sabes nadar?
E se a gaja te abalroa
Afinca-lhe em cima da proa
Com o motor a latejar
Piroca de Moscavide
Engalanada na proa
Às vezes andas perdida
Pelas ruas de Lisboa
E se as amarras se soltam
E o vento é de feição
Viajas sem passaporte
Falua de perdição
Piroca,
Tu sabes bem
O teu mastro é uma ilha
Bora lá partir a bilha
Ali mesmo em Belém
Piroca,
Sabes nadar?
E se a gaja te abalroa
Afinca-lhe em cima da proa
Com o motor a latejar
Piroca ergue-se ao vento
Festejando o marear
Em ondas de fogo fátuo
Sem medo de naufragar
Navega contra a maré
Lança o lastro devagar
E as gajas a jusante
Começam a gaguejar
Piroca,
Tu sabes bem
O teu mastro é uma ilha
Bora lá partir a bilha
Ali mesmo em Belém
Piroca,
Sabes nadar?
E se a gaja te abalroa
Afinca-lhe em cima da proa
Com o motor a latejar
O Refrão deverá ser repetido até à exaustão!!!
28 junho 2011
PORNO
Agora que despertei a tua atenção para este tópico, deixa-me que te diga que 80% das imagens na Internet são de mulheres nuas! Depois acusam os homens de ver muita pornografia. Nós não queremos, mas as percentagens estão contra nós!
Saudade
Se acaso a noite nos perturba
- que sabemos nós -,
e numa ideia alucinante
até nos despimos
e deixamos que o tesão
seja o último reduto
do - ainda - amor;
então podemos, talvez, permitir
que amanhã a saudade seja silêncio
e o orgasmo
o fim esperado da loucura.
Essa será a noite inesquecível
do despertar efémero
ou da súbita realização.
Poesia de Paula Raposo
As bengalas da minha colecção
Ao longo dos anos, comprei algumas bengalas e pegas de bengala. Encontrei finalmente quem me colocasse um cabo em madeira nas pegas que ainda não o tinham.
Digam lá conão ficaram lindas, as minhas oito bengalas?
Digam lá conão ficaram lindas, as minhas oito bengalas?
27 junho 2011
Havemos de fazer um Encontra-a-Funda em Ponte de Lima, na «Tasquinha das Fodinhas Quentes»
... mas para já, o 15º Encontra-a-Funda é em Coimbra.
Com o apoio de sempre da
e o Licor Beirão não nos deixa passar sede
26 junho 2011
«Em Coimbra há muitos anos...» - por Rui Felício
Tinha idade para ser meu pai. Ou mesmo avô. Era um daqueles homens a quem é difícil adivinhar a idade.
Já estivera em Peniche, condenado por actividades subversivas contra o Estado, onde o tempo tinha parado uns anos.
Trazia sempre consigo uns papeis rabiscados com letras que ia fazendo para canções de protesto contra o regime. Mas só conseguia fazer-se ouvir na pacatez do seu humilde quarto alugado da Rua das Padeiras, e depois de cuidadosamente se certificar que a malta que o escutava era de confiança.
Frequentava a Democrática e não regressava a casa sem passar pela Rua Direita onde, dizia ele, o Salazar com uma simples assinatura tinha decretado a extinção legal das prostitutas, transformando-as em mulheres de “vida fácil”!
A velha viola parecia gritar de revolta quando os seus dedos inábeis lhe martelavam as cordas, acompanhando, dissonantes, os versos que ele cantava com voz rouca e os olhos em alvo.
Garantia-nos, esperançado, que um dia a sua voz poderia ser ouvida em inteira liberdade.
Com o 25 de Abril, aprestou-se para cantar em comícios e sessões de esclarecimento, mas nunca conseguiu fazer-se ouvir como sonhara.
Desculpava-se dizendo a quem com ele privava:
"Antes da revolução as minhas canções esbarravam contra a ditadura.
Agora que sou livre, esbarram contra a dentadura..."
Rui Felicio
Blog Encontro de Gerações
Nudez
Deita os olhos na minha nudez
adormece-os, diz-me como vês
o desejo que nos encontra a pele
nada há de mais cruel
nada há de mais doce
E ainda que tudo o que visses fosse
um hino inteiro à candura
entoado pela tortura
que empalidece a lucidez
os teus olhos parecem-me dez
presos nos dedos feitos de mel
prendem-me o corpo, foi-me infiel
já não é meu, e o que tu vês
mesmo vestida, chama-se nudez.
adormece-os, diz-me como vês
o desejo que nos encontra a pele
nada há de mais cruel
nada há de mais doce
E ainda que tudo o que visses fosse
um hino inteiro à candura
entoado pela tortura
que empalidece a lucidez
os teus olhos parecem-me dez
presos nos dedos feitos de mel
prendem-me o corpo, foi-me infiel
já não é meu, e o que tu vês
mesmo vestida, chama-se nudez.
25 junho 2011
Madrugada
Por entre os teus dedos
nasce a mais bela
história de amor.
No palco adivinhado
despem-se pudores
e as palavras
são livres
para serem amadas.
Passa célere a madrugada
quando os beijos
te despertam a sensualidade
entre as minhas coxas abertas
em silêncio.
Poesia de Paula Raposo
Injustiça
A perspectiva da atracção actual é muito desigual.
Prefiro comer feito um hipopótamo e pouco me lixar ao que você acha de mim.
Capinaremos.com
Prefiro comer feito um hipopótamo e pouco me lixar ao que você acha de mim.
Capinaremos.com
24 junho 2011
A linguagem universal
Desde muito pequeno, embora a expressão muito pequeno seja sempre relativa quando aplicada a um bisonte nascido com perto de cinco quilos, dediquei particular atenção às questões da língua.
A língua, que até à Pátria interessa sobremaneira, é de facto um instrumento fabuloso ao ponto de facultar por si mesma, pelo manancial do sentido duplo, motivo para algumas interessantes dissertações que tanto incidem no papel do escalope enquanto dotado de papilas como no de substituta ou de complemento de outros órgãos de um corpo humano.
Mas a língua, a portuguesa, que tantos afirmam traiçoeira acaba por ser a que me traz aqui para vos maçar com estas palavrinhas de puro jornalismo (só para entreter a malta).
Isto a propósito do tal duplo sentido que parece marcar a língua na sua utilização prática e até pode ilustrar uma característica lusitana mais comum do que gostamos de assumi-la.
Senão, vejamos: se tivermos duas pessoas a encararem uma outra mal encarada podemos obter em simultâneo duas verbalizações distintas e aparentemente contraditórias. Enquanto uma dessas pessoas pode optar por um esta gaja tem um mau feitio do caraças, é mesmo fodida! à outra pode sair-lhe, de forma espontânea, um esta vaca de merda tem mesmo tromba de mal fodida.
Com a mesma palavra a língua consegue transmitir a convicção de que a pessoa é mal e de que é mesmo, embora o seu papel possa ser de maior protagonismo do que se julga se tivermos em conta a tradução literal da palavra que também é fodida pela sua ambivalência.
Contudo, este fenómeno pode estender-se aos termos habitualmente associados à língua, nem que apenas por questões fonéticas. Por exemplo, e enfatizando a duplicidade intrínseca, se nos referirmos a um linguado podemos estar a recorrer a um atributo pouco explorado da língua que é a sua função GPS: é que basta o cheiro do peixe para podermos localizar o paradeiro recente de uma língua, se cheirar a bacalhau, um peixe do norte, sabemos de imediato que em termos cardeais a língua andou mais pelo sul.
Este excepcional sentido de orientação portuga pode no entanto depender não do olfacto mas da entoação e até do centro das atenções de quem verbaliza.
É o caso da expressão lambia-te todo, que encaminha de imediato e numa perspectiva apriorística a ideia da pessoa para um todo muito distinto do selo dos correios que possa estar em causa.
Muito mais haveria a dizer acerca deste tema fascinante, até porque a língua não é parca em recursos.
Todavia, às línguas como às postas compridas a maioria das pessoas associa uma carga pejorativa que é a de se falar demais e as línguas de trapos nunca estiveram na moda.
E eu, que sempre fiz a apologia do cliché do tamanho que não é documento, mesmo não sendo dessa forma juiz em causa própria, tenho que contrariar o meu impulso para o uso excessivo da língua pois, à semelhança de outros apêndices que a anatomia ou o Diciordinário Ilustarado nos possam sugerir, não é a sua dimensão que conta mas aquilo que efectivamente se consegue fazer com ela.
23 junho 2011
O Casamento
As coisas não corriam bem. Aliás, se quiser ser mais preciso e correcto, tenho de dizer que as coisas entre eles corriam mal. Quase todas as coisas que os envolvessem a ambos enquanto casal corriam quase sempre mal, ainda que, a cada um individualmente as coisas até corressem bem; mesmo as que ao casal corriam mal. Era estranho e eles sabiam isso. Naquele momento, nem eles, nem ninguém, percebia a insistência no casamento. Eu, pelo menos, não percebia mas eu sou um mero narrador – a história não é minha e as minhas opiniões não são importantes. Tudo era mau e as conversas entre ambos nunca chegavam ao fim.
– Mas houve um momento em que fomos felizes – declarou o marido.
– Foi?! – espantou-se a mulher.
– Foi – confirmou o marido, deixando a cabeça pender ligeiramente e mantendo esse movimento mais do que o necessário.
– Os dois ao mesmo tempo? – perguntou a mulher, depois de desesperar pela imobilização da cabeça dele.
– Sim – respondeu ele, convicto.
– Houve um momento em que fomos os dois felizes ao mesmo tempo?! – insistiu ela, arqueando as sobrancelhas.
– Houve – respondeu ele, seguro.
– Quando?
O homem olhou para a mulher e ela devolveu-lhe o olhar. Ele fez uma careta enquanto erguia e baixava os ombros. Ela sorriu só com a boca e gracejou, ácida:
– Bem me parecia.
O homem baixou a cabeça.
– Mas houve – retomou o marido depois de um longo silêncio. – E não foi um momento…
– Foi uma época – gracejou ela.
Ele olhou-a fixamente semi-cerrando as pálpebras e mordendo o lábio inferior.
– Estás a gozar – disse o homem em tom pausado, com ar até um pouco melancólico – mas foi mesmo uma época.
– Uma longa época de verão – troçou a mulher, com o sorriso fino de displicente superioridade que o irritava.
E ele enterrava-se mais no sofá, cerrava os punhos que arrumava debaixo dos sovacos num movimento infantil e voltava-se para a televisão, com ar compenetrado como se fosse ver alguma coisa, a ruminar recriminações, até que, ao fim de um bocado, normalmente sentenciava:
– É sempre a mesma coisa. É impossível falar contigo – e seguia disparado em passo trôpego mas decidido para a sala de refeições do lar. – Velha de merda!
Ah!... Mas havia dias que era ao contrário e era ela que perdia e saía de supetão, ainda que devagar que o andarilho não lhe permitia grandes velocidades.
Guelezeimas, melhéres, guelezeimas....
Melhéres, cagora éi queu nam me tiru du conçultoiru dele, melhéres!!!
Nam çei çe istão a veri...ò pra mim: Ò piste, Ò pisti.. Sotore Baldei, melhér, andu açim cum uns porblemas com o méu Lalito, eçe namurado queu arrangei e que éi uma melhér traidora e açim, e çei cu Sotore ei melhér pra rizolver porblemas bicudos, ( ai cala-te boca)..hihihihi hihihihiiii ....
Nham, nham nham, guelezeimas, melhéres, guelezeimas....
22 junho 2011
Imagina tu
Imagina um amor tão forte que consegue eliminar o segredo, não deixando à mercê da sorte, do ciúme que não passa de um medo, o futuro talhado agora pela determinação com que bate o teu coração agitado pela energia de mil beijos já dados e outros tantos ainda por dar.
Tenta ao menos acreditar que é viável essa entrega incondicional, que é possível renegar o mal expurgando dessa ligação a indecência de julgares excluída a cedência como um elemento fulcral para o amor que pretendas imortal, ignorante daquilo que só quem experimentou saberá explicar.
Talvez consigas apanhar melhor a ideia se eliminares em ti a barreira de pressupostos, se deixares cair os preconceitos que te levam a desdenhar a emoção que não consegues sentir como a descrevem os que sabem de que é feito afinal o amor de que falas porque ouviste contá-lo assim.
Talvez não comeces pelo fim os amores que matas à nascença por impores a desconfiança ou o silêncio comprometedor que inquina, o segredo, transformando cada passo numa mina potencial. Concentra-te no essencial, no objectivo comum em que dois não são a soma de uns mas antes o resultado de um amor que é moldado em função das características que não podes querer anular no outro que tratas como teu.
Procura o caminho para o céu garantido como contrapartida por abraçares um amor para toda a vida, mesmo que receies e tentes proteger a tua resistência contra a agressão como sentes cada desilusão que às tantas podia ser evitada se tivesses essa barreira construída por forma a não impedir esse amor de atingir a fasquia que acreditas ser a ideal.
Desiste de fingir, não é bom, não é normal, uma vontade que não consegues reunir de tão armadilhada pela tua tendência arriscada para o faz de conta, a suspeita que se levanta quando entras em contradição porque não ofereces o coração sem a tutela da cabeça.
Não deixes que isso te impeça de correres o risco que vale a pena, a paixão prolongada pela confiança depositada em quem corresponda ao teu esforço, ao teu empenho, numa relação alheia ao engano que a possa trair.
Alia a esse amor a amizade que pode unir as pontas soltas que vais deixando no coração, a dada desgosto, a cada traição como encaras todas as vezes em que te deparas com algo que pretendeste abafar, a verdade que acaba por ficar à superfície da pessoa que quiseste mudar em função das tuas exigências, sem admitires quaisquer cedências ou compromissos reais que fazem parte do respeito que também entra na equação na hora de acertar as agulhas a dois.
Imagina um amor tão forte que não possa jamais ficar exposto à mentira que o corrói, à cobardia que tanto dói quando revelada pela indiscrição de um simples lapso ou de um nome muitas vezes repetido durante um sonho que partilhas, sem querer, com o amante acordado a quem tentaste esconder essa tua hesitação que um amor a sério, eterno, encaixaria no perdão ou na sua persistência, na sua infinita resistência contra as pequenas fissuras que urge reparar com a frontalidade que te possa poupar à imagem que tanto rejeitas mas acabas por assumir.
Decide de uma vez para onde queres partir em cada viagem, reúne toda a coragem necessária para poderes mudar a história triste que insistes em reescrever sempre igual enquanto sentes o tempo a passar rumo ao final das hipóteses de viveres uma experiência que poderá um dia deitar-se ao teu lado sem que o percebas e siga o seu caminho.
Até ao dia em que pouses o olhar envelhecido nesse tempo mal perdido e te reste imaginar aquilo que podia ter sido se te imaginasses, nessa altura, agora, num dia de sorte, um amor tão forte, tão bom de sentir, que nem a tua alma esquiva consiga desmentir.
How to learn English in ten simple steps
Kika's lyrics version:
One, two, Kikas's coming for you
Three, four, better lock your door
Five, six, grab a crucifix
Seven, eight, gonna stay up too late
Nine, ten, you’ll never sleep again
One, two, Kikas's coming for you
Three, four, better lock your door
Five, six, grab a crucifix
Seven, eight, gonna stay up too late
Nine, ten, you’ll never sleep again
Timidez
O que fazer às mãos, o que fazer-lhes
agarro-as quando te vejo,
porque, no meu rosto, o teu beijo
faz delas tolas, por favor, não as olhes.
Quem me dera poder mentir-lhes
jurar o olhar vazio de desejo
fingir distracção ou até um bocejo,
mas as órbitas acendem-se,
e os dedos, perdidos, ofendem-se
e eu balbucio, tropeço, e eu gaguejo,
uma tolice, um bom dia, um gracejo
que poderia eu esconder-lhes
quando os olhos teimam em dizer-lhes?
agarro-as quando te vejo,
porque, no meu rosto, o teu beijo
faz delas tolas, por favor, não as olhes.
Quem me dera poder mentir-lhes
jurar o olhar vazio de desejo
fingir distracção ou até um bocejo,
mas as órbitas acendem-se,
e os dedos, perdidos, ofendem-se
e eu balbucio, tropeço, e eu gaguejo,
uma tolice, um bom dia, um gracejo
que poderia eu esconder-lhes
quando os olhos teimam em dizer-lhes?
21 junho 2011
Síntese de Uma Relação Amorosa em 30 Dias (ContinuDura)
NOTA: A história abaixo referida é puramente fictícia e não remete para quaisquer acontecimentos reais.
Síntese de Uma Relação Amorosa em 30 Dias (Continuação)
Dia 1 - O Primeiro Dia de Namoro (Por SMS)
Ela: Bom dia, meu amor!
Ele: Olá, querida!
Ela: Dormiste bem?
Ele: Lindamente!
Ela: E sonhaste comigo?
Ele: (nem por isso, sonhei com a Sónia, mas digo que sim à mesma) Sim!
Ela: Que bom! Eu também sonhei contigo! (não é verdade, sonhei com o Carlos, mas pronto)
Dia 2 - O Dia A Seguir ao Primeiro Dia - O Segundo (Por MSN)
Ela: Amanhã temos aulas outra vez, que seca.
Ele: Pois, devíamos ter aproveitado melhor o fim de semana.
Ela: Como assim?
Ele: Opá, tipo, sei lá...
Ela: Não te estou a perceber.
Ele: Esquece.
Dia 3 - Primeiro Dia de Aulas Enquanto Namorados (Na Escola)
(Passeiam de mão dada pela escola, beijam-se publicamente, a relação está assumida)
Ele: Amo-te tanto! Nunca te vou trair!
Ela: Prometes?
Ele: Sim, mas também tens que me prometer o mesmo...
Ela: Sim, claro, nem pensei noutra coisa!
Dia 4 - Conhecem-se Melhor
Ele: Sou ateu.
Ela: Sou judia e não como carne de porco.
Ele: (Ela só pode estar a gozar!)
Ela: Não dizes nada?
Ele: Ó amor, isso para mim é-me indiferente, não te vou julgar por isso.
Ela: Não mesmo?
Ele: Claro que não. Continuas a ser perfeita para mim!
Dia 5 - Conhecem-se Ainda Melhor
Ela: Tenho mais 7 irmãos, todos com nomes judeus.
Ele: (Isto está cada vez pior!) Eu sou filho único.
Ela: Ena, que sorte!
Ele: É, pois!
Dia 6 - Continuam As Desilusões
Ele: Estou com fome, vamos lanchar?
Ela: Sim, pode ser.
(Já no Café)
Ele: Então, o que vamos comer? Uma tosta mista?
Ela: Não posso.
Ele: Porquê?
Ela: Tem fiambre.
Ele: Ai, por amor de Deus. E morres por causa disso?
Ela: Não como carne de porco, lembras-te?
Ele: (Começo a ficar f***do com esta m**da!) Ah, pois é, amor. Já me tinha esquecido.
Dia 7 - Começam os Ciúmes (Enquanto passeiam)
Ela: Ai, pá, que chato!
Ele: Que foi?
Ela: É o meu vizinho que não me larga, sempre atrás de mim. Agora diz que tu não prestas e não sei quê!
Ele: Epá mas não lhe respondas.
Ela: Oh, é meu vizinho, mais tarde ou mais cedo vai-me confrontar.
Ele: E tu ignora-lo?
Ela: Não posso, não quero confusões.
Ele: Já arranjaste uma comigo.
Dia 8 - Ele Conhece a Bruxa da Sogra (Na Rua)
Ela: A minha mãe está ali.
Ele: E então?
Ela: Queres conhecê-la?
Ele: (Isto vai ser bonito.) Sim, claro.
(A sogra é muito simpática, à partida. Aparentemente gosta muito do novo genro. Conversam durante horas. Ele apercebe-se das águas onde foi molhar os pés)
Dia 9 - Retrospectiva
Ela: Gostaste da minha mãe?
Ele: (Não se cala!) Sim, claro! É muito simpática!
Ela: Ainda bem! Um dia quero conhecer a tua, também!
Ele: (Nem penses!) Um dia.
Dia 10 - As Amigas
(Ela tem comportamentos infantis com as amigas. É super irritante e as amigas são uma pior que a outra. Ele começa a ficar extremamente desiludido com o que arranjou.)
Dia 11 - A Primeira Discussão
Ela: Eu acho que nós descendemos do Adão e Eva.
Ele: (PRONTO! TINHA QUE ME VIR COM UMA MERDA DESTAS! MAS QUE MERDA DE IDEIA, PÁ! F**A-SE!!) Achas mesmo, querida?
Ela: Sim.
Ele: Mas há tantas provas relativamente ao facto de termos evoluído do primata... Tu até andas em Ciências e tudo! Tens aulas de Biologia. Não te ensinam isso lá?
Ela: Sim, mas não acredito em nada disso.
Ele: (É como se fizesse de propósito para ser burra!) Não acreditas?! Mas porquê?
Ela: Porque isso é tudo mentira, não foi nada assim que aconteceu!
Ele: Há provas científicas, ossadas, documentos explicativos, cientistas que passam anos e anos da vida deles a apurar essas teorias e com sucesso conseguem justificar essa evolução!
Ela: Mesmo assim...
Ele: Mas como "mesmo assim"?! Há seres humanos que ainda nascem com referências aos primatas como porções de uma cauda, por exemplo! (http://www.sodahead.com/living/people-born-with-tails/blog-94985/)
Ela: Oh, vamos falar de outra coisa.
Dia 12 - Espectáculo de Ilusionismo
(Os dois assistem a um espectáculo de magia de rua na baixa da cidade. Ela é uma das pessoas escolhidas para ser "vítima" de um truque de ilusionismo. O truque corre bem, ela consegue, da perspectiva dela, ver como é que o truque é feito, mas toda a gente se diverte.)
Ele: Olha, vai haver um espectáculo de Magia no Teatro Municipal daqui a dois dias e eu gostava de ir ver. Queres vir comigo?
Ela: Sim, pode ser. Vou falar com a minha mãe.
Dia 13 - Últimos Retoques Para o Encontro (Por SMS)
Ele: Estou bué empolgado com o espectáculo de amanhã! Adoro ilusionismo!
Ela: Sim.
Ele: Já falaste com a tua mãe? Ela deixa?
Ela: Sim, deixa.
Dia 14 - Dia do Espectáculo de Magia
(Conversa por Chamada)
Ele: É hoje! Já estou vestido e pronto a sair. Encontramo-nos onde?
Ela: Olha, eu afinal não posso ir.
Ele: O quê?! Só podes estar a gozar comigo! Já estou todo arranjado e já comprei bilhetes! Tenho autocarro daqui a 5 minutos!
Ela: A minha mãe não deixa, diz que é muito tarde.
Ele: Muito tarde?! Aquilo é às 21h!
Ela: Mas depois acaba tarde e não tenho como vir para casa, a minha mãe não me pode vir buscar.
Ele: Aquilo acaba o mais tardar às 23h e o meu pai vai-me buscar, podemos levar-te a casa.
Ela: Mas a minha mãe diz que é estranho os vizinhos verem-me a chegar a casa num carro de um homem que eles não conhecem.
Ele: Mas que mal é que isso tem?!
Ela: Desculpa, mas não dá.
Ele: Passa-me à tua mãe, se faz favor.
(A sogra explica o porquê de não poder haver encontro - as mesmas razões que a filha deu anteriormente. O rapaz explica calma e respeitosamente à sogra que não há problema quanto às horas nem ao transporte, que os bilhetes já estavam comprados e que não é que a partir das oito da noite os mortos se elevam das campas e persigam os cidadãos na rua. A sogra insiste e o rapaz vai sozinho ao espectáculo.)
Dia 15 - Dia Depois Do Espectáculo - A Bruxa da Sogra Entra Em Acção (Por SMS)
Ela: A minha mãe diz que ficou muito ofendida contigo da maneira como lhe falaste ontem ao telemóvel.
Ele: Como assim?! O que disse eu de mal?!
Ela: Ela já tinha dito que eu não podia ir e tu insististe!
Ele: Só podes estar a gozar comigo, eu limitei-me a explicar que não havia problema nenhum em tu vires, só isso!
Ela: Pois, mas ela agora diz que tu não és boa influência para mim e que vai fazer de tudo para acabar com a nossa relação.
Ele: Mas ela é parva, ou quê?! O que é que tem uma coisa a ver com a outra?!
Ela: Deixa, não ligues, eu amo-te.
Ele: Começo a ficar farto disto!
Dia 16 - Boato do Irmão (Por SMS)
Ela: O meu irmão disse-me que tu só me queres comer e que te viu com outra rapariga uns dias antes de começarmos a namorar.
Ele: O quê?! Eu nunca estive com mais ninguém para além de ti!
Ela: Ele disse que te viu na escola a falares com uma rapariga.
Ele: Ah, pois, só se foi isso. Mas e que mal é que isso tem? Não posso ter amigas e falar com elas?
Ela: Ele diz que só te queres aproveitar de mim.
Ele: (Esta miúda tem uma família com problemas na cabeça, só pode!) Estás parva?! Achas mesmo que só ando contigo por causa disso?!
Ela: Não, mas foi o que ele disse.
Ele: Epá, então ele que vá à merda! (Era só o que mais me faltava agora!)
Dia 17 - Conclusão de Que a Relação Foi Um Erro (Por SMS)
Ele: Isto assim não está a resultar.
Ela: Porque dizes isso?
Ele: Porque é que achas? A tua mãe tenta acabar com a nossa relação à descarada, o teu irmão inventa coisas sobre eu me estar a aproveitar de ti! Esta relação tem sido só problemas e discussões e só me traz dores de cabeça!
Ela: Tem calma, nós somos mais fortes do que isso.
Ele: Epá, mas custa, não achas?!
Ela: Sim, eu sei, mas temos é que ignorar.
Ele: Ignorar?! Como?! Não posso sair contigo porque a tua mãe não deixa. Antes disso não podias sair à noite porque era muito tarde. O teu irmão anda armado em parvo, tu não confias em mim! Tens um vizinho que só me trás problemas! Mais não sei quantos gajos que não te largam e que só me insultam. Epá, eu sei que não tens culpa, mas põe-te no meu lugar por um instante!
Ela: Sim, eu sei, mas não vamos acabar, vá lá.
Ele: Esquece, não quero continuar com isto. Ando farto!
Ela: Aguenta mais um bocadinho.
Ele: O problema é esse! É que tenho andado a aguentar quando não era assim que devia ser. Era suposto estarmos bem, sermos felizes um com o outro e não discutirmos. Mas fazemos tudo menos isso! E parece que tudo é motivo de discussão! Parece, não, é mesmo!
Ela: Desculpa.
Ele: Deixa.
Dia 18 - Durante Um Encontro
Ela: A minha mãe não queria que eu fosse contigo ver o espectáculo de magia porque diz que aquilo é mau.
Ele: Mau? Como assim, mau?
Ela: Diz que a magia é uma coisa muito má e perigosa e que não é bom eu andar com um rapaz que goste de magia.
Ele: Estás a brincar, certo? O que é que ela julga, que te vou lançar um feitiço e te vais tornar num potre?
Ela: Oh, ela tem razão, aquilo envolve espíritos.
Ele: Hã?! Espíritos?! Estás-te a passar?!
Ela: Não! Já te perguntaste como é que eles fazem aquilo?
Ele: Aquilo é ilusionismo, nada que qualquer humano com os devidos conhecimentos e a prática não consiga fazer!
Ela: Pois, pois, vai-lhes lá perguntar como é que fazem aquilo, a ver se eles te dizem isso!
Ele: É claro que não vão dizer, os mágicos não revelam os seus truques, senão perdia a piada!
Ela: Vês? É porque se te dissessem a verdade diziam que era com a ajuda de espíritos!
Ele: Tu não és boa dessa cabeça, desculpa lá... Tu foste muito mal ensinada, só te digo! Só te ensinaram merda...
Ela: Oh, tu é que és burro e ignorante e não percebes que é assim que eles fazem!
Ele: Ai eu?! Eu é que sou ignorante?!
Ela: Sim!
Ele: Opá, olha, tu cura-te, a sério. Parece que te fizeram uma lavagem ao cérebro e só te ensinaram as coisas erradas!
Ela: Tu é que não percebes nada!
Ele: Olha, vou-me embora, estou passado com isto. Xau!
Ela: Adeus!
Dia 19
(Passam o dia todo sem se falarem)
Dia 20 - (Por SMS)
Ela: Lembras-te de como nos conhecemos?
Ele: Não.
Dia 21 - (Por SMS)
Ela: Já não gostas de mim?
Ele: Já gostei bem mais.
Ela: Porquê?
Ele: Porque aparentemente és bem mais interessante para as pessoas antes de te conhecerem.
Ela: Como assim?
Ele: És ciumenta, inculta, infantil, com os ideais todos trocados, tens uma família macabra, és ignorante e ingrata, e só me trazes dores de cabeça e problemas! Já reparaste que só discutimos?!
Ela: Desculpa.
Ele: Não, epá, esquece, não quero andar mais contigo.
Ela: Oh, não faças isso!
Ele: Já fiz.
Dia 22
(Passam um pelo outro na escola e não se falam)
Dia 23 - (Por SMS)
Ela: Já não gostas de mim?
Ele: Não.
Ela: Porquê?
(Ele nem lhe responde mais)
Dia 24 - (Por SMS)
Ela: Ao menos podemos ser amigos?
Ele: Não, estou super irritado contigo e com a tua família e quero espaço e sossego!
Ela: Oh, vá lá!
Ele: Não! A tua família queria que nós deixássemos de namorar, não era? Então pronto, conseguiram! Dá os parabéns à tua mãe!
Dia 25 - (Por SMS)
Ela: Posso ficar com a tua camisola?
Ele: Faz como quiseres.
Dia 26 - (No MSN)
Ela: Hoje vi-te com a tua amiga. Estavam muito queridinhos.
Ele: Ela não tem metade dos defeitos nem dos problemas que tu tens e nunca discutimos. Conheço-a há mais tempo de que te conheço a ti e nunca tivemos uma única discussão.
Dia 27 - (Por SMS)
Ela: Apagaste-me do Facebook?
Ele: E do MSN também.
Ela: Porquê?
Ele: És uma fonte de problemas e não quero ter mais nada a ver contigo. Dá-me tempo e espaço.
Ela: Ok.
Dia 28 - (Por SMS)
Ela: Eu ainda te amo.
Ele: Quando te pedi "tempo e espaço", referia-me a uma forma permanente.
Dia 29 - No Bar da Escola
Ela: Estás aqui.
Ele: Não, é um holograma.
Ela: Que vieste aqui fazer?
Ele: Vim comer?
Ela: Ah, pois, realmente faz sentido.
Ele: Pois.
Dia 30 - (Por SMS)
Ela: Olá.
Ele: Quem és?
Escrevido por Ricardo Esteves
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