Rita gosta muito de pintar os olhos, gosta de pestanejar e ver sublinhada a diferença entre olhos abertos e olhos fechados; quando os pinta e os fecha, eles parecem muito mais fechados porque, quando os pinta e os abre, eles parecem muito mais abertos. Rita gostava muito de escrever as coisas, como esta dos olhos, todas as coisas que pensa, mas não pode escrever porque não sabe para quem escrever, não está ninguém ali. Poderia escrever para si própria, mas não pode porque para si própria nunca escreverá a verdade; escrever para si própria seria como naquele dia em estava enlutada - um luto inesperado do paizinho - e o amante desapareceu - não disse nada, só desapareceu, prometeu amor e abraços mas desapareceu, deve ser muito terrível abraçar os lutos das amantes - nesse dia, ela sentou-se num banco do centro comercial e pensou-se muito feliz porque tinha uma revista e bilhete para o cinema. Rita gostava muito de escrever mas não pode, não está ninguém ali; para si própria nunca escreverá porque nunca escreverá a verdade para si e Rita sabe que não pode ler sem descobrir as suas mentiras. Rita continua a pintar muito os olhos, a sublinhar muito a diferença entre olhos abertos e olhos fechados.
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Uma por dia tira a azia