13 junho 2011

Estradas do leito

Deixámos as cortinas abertas, a luz acesa;
lá fora, uma escuridão opaca e suave como a meia negra de uma mulher, rendada pelo algodão doce das nuvens, desenrola-se no céu, - o frio tem os dedos húmidos de uma viuvez mansa, resignada na ternura quente das memórias, faz demasiado tempo que o Verão partiu -
invejosa, espreita-nos o amor,
olha-nos os corpos sem poder tocar
É um amor suado que nos vê, suado em gotas, intenso como lágrimas da pele, como se a própria epiderme, comovida, pudesse chorar; o amor traz-lhe saudades da chuva que, como ele, lava e aquece o céu.

(Isto não é o silêncio, meu amor, é a música do sossego, é um som de madeira, vem dos passos da serenidade sobre o lago que estão cada vez mais próximos, vão entrar pela varanda; olha-a, afinal já se sentou na cadeira, está a conversar com um luar muito ténue, uma lua de sussurro de amantes)

Os ramos das árvores esticam o corpo, lançam-se direitos e nus, abraçam-se ao ar e atravessam-no; o frio envolve-os, em gancho, parece ter coxas femininas. Cá dentro, mistura-se o cheiro do amor deles com o cheiro do nosso amor; cresce uma cidade nas estradas do leito desenhadas pelo rio Paixão. Nós, aqui, abraçados nas margens, tão pequenos para um Mundo tão grande e um amor do tamanho do Mundo.

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