13 abril 2012

«respostas a perguntas inexistentes (196)» - bagaço amarelo

Adoro chegar a casa depois de um dia de trabalho e ter a cozinha por arrumar, as camas por fazer e alguns casacos espalhados pelas cadeiras e sofás da sala. Não é que goste de muito de tarefas domésticas, claro. O que eu gosto mesmo é de ter a opção de não fazer aquilo que é suposto, pelo menos uma vez por outra. Além disso há a alargada questão da felicidade e, consequentemente, do Amor.
Nunca acreditei que me fosse possível Amar uma mulher excêntrica no que se refere à arrumação. Lembro-me, por exemplo, da Maria Augusta, com quem marquei um blind date depois de uma breve troca de emails pela internet. A primeira impressão que tive quando a vi foi que tinha alinhado todos os seus longos e milhares de cabelos um a um. Era tão bonita e simpática que, quando uns dias depois me convidou para ir a casa dela, desejei em segredo encontrar um lar que não correspondesse a essa imagem. Enganei-me, correspondeu sim. Servi-me de um uísque por sugestão dela, no mini-bar da sala, e quando pousei a garrafa no mesmo sítio de onde a tinha tirado ela foi lá realinhá-la ao milímetro com o restante vasilhame. Percebi nesse preciso momento que o melhor era não me apaixonar por ela, caso contrário ia passar o resto da minha vida a sentir a minha descontracção desarrumada reprimida.
Acho que é assim em tudo. Preciso da higiene mas desprezo a arrumação excessiva. Por exemplo nas cidades, gosto delas limpas mas desarrumadas, com esplanadas vivas e mexidas, com gente a mudar imprevisivelmente de direcção, alguns automóveis mal estacionados e transeuntes a atravessar a passadeira no vermelho. São cidades com mais Amor e mais felizes, apesar do caos. As cidades demasiado arrumadas são cidades tristes, mesmo que ordenadas.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»