Não me perturbam os conteúdos sexuais. Tenho as minhas preferências, mas para mim não há umas coisas e umas posições mais assim ou menos assado. Isso nem sequer me passa pela cabeça. Nem existe. O meu limite é a salvaguarda da minha integridade física (na qual incluo a saúde) e a do meu parceiro. Não gosto de dor. E se não gosto para mim, também não gosto de o produzir no outro. Quando o corpo se queixa lá tem as suas razões, e a mim me bastam as que me saem de borla na rifa. Pouca dor me basta para perder completamente o tesão. O que não significa que nalgumas situações não me agradem umas palmadinhas… e tal… pela dominação em si. Se noutras coisas o faço, por amor, amizade, ou apenas generosidade, no sexo sou pouco dada ao “sacrifício” ou a fingimentos de cortesia. Não o tolero por ser algo que interfere com a minha forma de educar o meu próprio corpo: considero nocivo “poluir” a minha sexualidade com momentos que não sejam de prazer.
Gosto de me sentir fêmea, gosto de rebolar, de me dar, de me entregar, de receber, gosto de ser possuída a sério, dominada a sério. Entrego-me a sério. E se volta e meia sou eu a dominar, também gosto de o fazer com intensidade, física e psíquica. Gosto de dar. Adoro! De forma activa, ou passiva. Ao ponto de ser uma espécie de “tara”. Fazer uma massagem oriental, excita-me. Quando sinto que estou a sair do domínio do “sexo” para entrar no domínio da “arte”, é o êxtase! Mas seja qual for a situação, o prazer do outro para mim é mesmo fundamental. Para o que quer que seja, não me basta o “consentimento”, preciso da vontade. Se sinto que a coisa não está a correr bem para o lado de lá, perco o interesse.
Não gosto de variar. Tenho dificuldade em encontrar um amante. Dificilmente me disponho a ter sexo com alguém sem averiguar se de facto temos hipóteses de encaixar bem… ou seja, sem que haja suficiente empatia potencial, física, psíquica e sexual. As excepções são feitas de interesses e de curiosidades muito específicos que raramente chegam ao que eu chamo de “sexo”. A “queca vadia” não me interessa. Não me interessa porque não me dá prazer. Mas claro que experimento o que tenho a experimentar, e nunca me ocorreu avaliar antes as disposições futuras de alguém para… Nem isso para mim faria sentido. Se me disponho à experiência, é pela experiência, e com vontade, alegria, e nenhuma expectativa. Mas, por preferência, não gosto de variar. Isto porque do que eu gosto é do corpo que investigo, que aprendo a conhecer, que reconheço, que farejo, o corpo para o qual desenho o meu prazer até ao último milímetro, o corpo no prazer do qual “trabalho” como um “projecto”, uma escultura, o corpo aonde aporto como um barco ao cais, onde sei já de cor todos os cantos onde haja tomadas a que ligar a minha “ficha”, o corpo a que aprendo a dominar o prazer ao limite da tangente, o corpo que transformo para mim própria no desafio de ir ainda mais além… o corpo ao qual agrada desafiar também os limites do meu prazer… é esse o corpo de que gosto… e um corpo assim, que seja capaz e que se disponha a chegar aqui, é difícil de encontrar e demora sempre algum tempo a “construir”… e a seguir… por isto ou por aquilo, às vezes é preciso recomeçar…
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