A Teolinda gostava secretamente de mim. Tenho a certeza. Todos os dias, sem excepção, me cruzava com ela na rua que ligava o hospital ao jardim das árvores grandes. Todos os dias, sem excepção, ela fingia que não me via e continuava o seu passo apressado a fingir que tinha para onde ir. Não tinha, e eu sabia-o. Sabia também que era por falta de coragem que ela desviava o seu olhar do meu. Às vezes sorria timidamente, outras vezes não.
Eu acordava todos os dias bastante cedo, penteava-me e fazia a barba, punha umas gotas do after-shave do meu pai e treinava um ar bem disposto no espelho do elevador. Tudo para o caso de ela ganhar coragem e decidir falar-me. Bastava que me cumprimentasse uma vez que fosse e eu dir-lhe-ia o quanto também gostava dela, mas nunca o fez. Por falta de coragem, tenho a certeza. Foi uma pena.
Ficou a chamar-se assim, Teolinda, naqueles dias em que deixou de passar por ali e eu, doente, passava os dias dum lado para o outro à espera de a encontrar. Devo ter feito aquela rua umas centenas de vezes, na esperança de passar por ela para fingir que nem a via e que ela, uma vez que fosse, não fizesse o mesmo que eu. Nunca mais aconteceu, e por isso dei-lhe o nome que sempre me pareceu ter. Teolinda.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»