É fácil falar de amor. A palavra é pequena, apesar do alegado tamanho da emoção em causa. Por isso mesmo, toda a gente sabe do que se trata e trata-o por tu.
“Eu amo-te”.
Não custa nada a dizer. E ainda por cima, tal como julgam que o sexo se aprende com filmes pornográficos, acreditam que o amor se aprende nas séries ou nas novelas da televisão. E é fácil de dizer, com expressões tão curtas como as paixões mais assolapadas se revelam quando não evoluem no sentido do compromisso emocional que o amor implica.
É fácil, sim. Falar de amor é possível bastando o recurso aos clichés dos contos de fadas ou dos clássicos do romance (quase a mesma coisa). Violinos em fundo, meia dúzia de adereços e I love you montanhas mesmo que não se faça a mínima ideia de qual a sensação que um amor suscita. A paixão serve de adoçante, o falso açúcar que, mesmo sendo doce, não é exactamente a mesma coisa. E depois a coisa amarga.
O amor implica riscos de que a paixão foge a sete pés. Coisas sérias. Confiança, perspectivas de futuro, cumplicidade, intimidade, respeito, uma carga pesada que a paixão alivia quando até se pode chamá-la de amor para dar o ar.
São afinal coisas parecidas, um bocado como o aglomerado de madeira pode fingir-se mogno. Não dura tanto, o aglomerado de paixão, mas remedeia. E depois de várias paixões, qualquer pessoa sente-se versada nas artes do amor. É paixão, mas até se pode chamar-lhe um assobio desde que produza a ilusão pretendida, o sonho disney de quaisquer candidatos a príncipes ou princesas.
“Amo-te muito”. Mas…
Mas é mais fácil de dizer do que fazer (sentir), por estranho que pareça a quem sente o coração acelerado por alguém sem ter a noção de que até uma queca ansiada pode produzir esse efeito na pessoa.
É fácil falar de amor. Mas também é fácil falar de futebol e achar que o do Brasil, por exemplo, é igual aos outros. E no entanto é de outro campeonato que se trata.