"Sempre gostei de viajar pelo motivo mais óbvio, que é o prazer que dá conhecer lugares novos. Com a Raquel aprendi que o melhor de viajar não é conhecer esses lugares, mas sim poder partilhá-los com alguém que nos conhece as entranhas.
Dentro daquilo que são as minhas limitações económicas, tenho viajado o mais que posso e consigo. Nestes últimos dias, por exemplo, andei a saltitar por Berlim como se fosse uma criança num parque de diversões. Virava-me para ela e dizia "olha isto!" com o mesmo entusiasmo com que o dizia à minha mãe em criança sempre que ia ao Portugal dos Pequeninos. Levei uma lista com o nome de dezasseis coisas que eu queria mesmo ver naquela cidade. De nenhuma tinha a morada, as coordenadas ou uma referência qualquer. Foi a Raquel que se deu ao trabalho de descobrir onde ficavam todas e de me levar lá em transportes públicos. Numa cidade cuja zona urbana tem quarenta e seis por trinta e oito quilómetros, acreditem que não é fácil.
Às vezes paro num sítio qualquer, como parei num bar duma das grandes avenidas de Berlim, e fico a beber uma cerveja tão lenta quanto um caracol. Não percebo (e isto é a sério!) o que é que uma mulher como ela vê em mim. Encontro-me no papel do Monstro amado pela Bela, no sentido lato da expressão e do contexto, e considero-me um homem com sorte.
Só isso."
João
Geografia das Curvas